Essa que é uma data celebrada ao redor de todo mundo, foi assim conquistada a partir da mobilização de muitos contra as violências constantes de uma realidade que se repete até hoje. Quando lá em 1969, no bar Stonewall em Nova Iorque, vários LGBTI’s se rebelaram contra as violências e extorsões dos agentes de segurança do Estado, da polícia, eles buscavam o mesmo que muitos de nós ainda buscam, o exercício pleno dos seus direitos de humanidade.
Quando Sylvia Rivera, Marsha P. Johnson, Storme DeLarverie, e tantos mais lutavam por suas vidas, para que pudessem vivê-las com o direito pleno a dignidade, estavam colocando o Estado no seu devido lugar. Gritaram na cara de quem quisesse ouvir, que a partir dali não suportariam a criminosa prática das violações a vida e aos direitos das pessoas LGBTIs.
Mesmo assim, ainda temos de chorar os sofrimentos de irmãos e irmãs que são brutalmente atacados por serem quem são. Roberta Silva, uma mulher trans, jovem e nordestina foi atacada há menos de uma semana do celebrado “dia do orgulho”. Vivendo em situação de rua, invisibilizada pelo Estado, Roberta, sobrevivia resistindo para viver a sua verdade.
Infelizmente essa data, também, se tornou um meio, ao qual o capitalismo pudesse lucrar sobre os nossos corpos e símbolos, a partir da ideia do “amor arco-iris”, como forma de atingir seus interesses econômicos. Ao mesmo tempo em que, esta mesma sociedade capitalista, que finge uma aceitação de amores insurgentes e divergentes da heteronormatividade, ela também é responsável por hoje o Brasil liderar o ranking mundial nas mortes de LGBTI”s, por meio de uma violenta tática higienista de concepção de família e sociedade. Mas, nessas condições, com a realidade de um dia tão importante sendo encarado por toda a sociedade como mais uma data comercial, quem consegue celebrar o seu orgulho?
A realidade é que com a maquiagem do “amor é amor” a sociedade se coloca no privilégio de não dizer em voz alta que “Nem toda vida é vida”, se esconde atrás das propagandas românticas para corroborar a quem quer perpetua a ideia higienista de que algumas vidas valem mais do que outras.
Não é sobre presentes e amores de redes sociais, nosso orgulho é sobre luta e liberdade, é sobre resistência e dignidade, nos organizamos porque temos a certeza de que enquanto um de nós não for livre, nenhum de nós será. É sobre a busca incessante por uma realidade que nos respeite como somos e que tenha na nossa vivência uma referência de sujeitos plenos de seus direitos.
A luta pelas garantias e conquistas dos direitos LGBTI’s é também a luta por uma nova sociedade, pela construção de uma nova cultura política, em defesa de uma educação democraticamente plural e de qualidade, pelo fim dessa sociedade de consumo violento, onde o lucro vale mais que a vida, precificando nossos corpos e midiatizando as nossas realidades.
Nos organizamos porque é na luta que a gente se encontra, nos orgulhando de quem está ao nosso lado, acreditando que “um novo tempo há de vencer”. Por isso, convidamos a todas e a todos LGBTI’s de todo Brasil a se organizarem com orgulho de viver e lutar para derrotar este projeto do ódio e da morte que assola no país.
Ainda, aproveitamos este momento para convocar a toda militância LGBTI+ da Kizomba e da Democracia Socialista para construção e realização do 4º Encontro LGBT da UNE, no próximo dia 14/07 e para o Ativo Nacional LGBT da DS que será realizado nos dias 13 e 14/08, para que juntos e juntas possamos tirar uma síntese politica e coletiva sobre os temas que envolvem nossas vidas, a partir dos nossos olhares enquanto LGBTI’s da classe trabalhadora e apontar caminhos que nos levem a construção de uma sociedade verdadeiramente socialista, democrática e livre de toda e qualquer forma de opressão.
Ludmila Brasil é lésbica, diretora LGBT da UNE, militante da Kizomba, do PT e da Democracia Socialista.