Os tempos sombrios dos Anos de Chumbo são o pano de fundo do documentário Lauri, do diretor Beto Novaes, que será lançado nesta sexta-feira, 14, às 15h, no auditório do Memorial da Resistência, sede do antigo Dops paulista, um dos principais centros de tortura da ditadura militar.
Estudante de Engenharia da Poli, a Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo) e morador do Crusp, o Conjunto Residencial da Universidade, Lauriberto José Reyes, o Lauri, era uma importante liderança estudantil no final dos anos 1960.
Foi um dos responsáveis pela organização do 30° Congresso da UNE, a União Nacional dos Estudantes, que ocorreu em Ibiúna, interior de São Paulo, em 1968.
Preso com centenas de estudantes na invasão do congresso pelas forças de repressão da ditadura militar, Lauri teve outro duro golpe no dia seguinte a sua prisão.
Seu pai foi atropelado e morto por um delegado, em São Carlos, quando o policial dirigia em alta velocidade para tentar interceptar uma passeata de estudantes que ocorria no centro daquela cidade do interior paulista, que também era terra natal de Lauri.
Resistência
Com o fechamento do regime, Lauri ingressa na ALN, a Ação Libertadora Nacional, organização liderada por Carlos Marighella, e parte para a luta armada.
Caçado pelos militares, sequestra, com outros três companheiros da ALN, um avião da Varig e o redirecionam para Cuba, em 4 de novembro de 1969, mesma data em que a ditadura executava Marighella.
Na Ilha, participa de treinamento para se qualificar para o enfrentamento às forças do regime que estava cada vez mais feroz.
Volta ao Brasil como guerrilheiro do Molipo, o Movimento de Libertação Popular, uma dissidência da ALN que ocorreu em Cuba, e é executado pela repressão em 27 de fevereiro de 1972.
A versão apresentada pela ditadura era a de que Lauri e o companheiro de organização e também estudante da USP Alexander José Ibsen Voerões teriam sido mortos em tiroteio com agentes militares.
Décadas após suas mortes, testemunhas que presenciaram os assassinatos revelaram que não houve tiroteio. Lauri foi metralhado pelos repressores e teve o corpo jogado dentro do porta-malas de um veículo da ditadura.
A família soube de sua morte pelo Jornal Nacional.
Rose, uma de suas irmãs, e a mãe assistiam ao telejornal da Rede Globo quando ouviram o locutor anunciar a morte.
“Eu estava com um prato de comida na mão, sentada no sofá, eu e ela, quando o cara diz: ‘Morto terrorista Lauriberto José Reyes.’ O prato caiu no chão. Minha mãe ficou assim (em choque), e eu também”, descreve a irmã, em cena do documentário.
Homenagens da USP
O nome de Lauri é um dos que integram o Memorial da USP, erguido em concreto, em homenagem aos alunos, professores e funcionários da Universidade que tombaram na luta contra a ditadura.