Entrevista.Os oito anos de gestão petista puderam demonstrar à população de Belém as vantagens de uma administração comprometida com o povo. A democratização da administração, o aumento da participação popular e as inúmeras políticas sociais voltadas para a população mais pobre fazem do PT novamente um forte candidato nas eleições de outubro. A candidata petista Ana Júlia Carepa, vice-prefeita de 1997 a 2000, quer aperfeiçoar o que já tem sido feito.
Nessa entrevista ao Democracia Socialista, ela fala sobre Governo Federal e trata da polarização com o PSDB, que terá como candidato o ex-governador Almir Gabriel.
Um PT para ver-o-peso
O que é assumir esse desafio de ser candidata a prefeita de Belém, depois de dois mandatos do PT, tendo sido você vice-prefeita no primeiro mandato?Eu não tenho a menor dúvida de que esse vai ser o maior desafio que nós vamos enfrentar – e que eu já enfrentei na minha vida – em termos eleitorais. Inclusive pelo fato de o governador ser um dos membros do PSDB que faz uma oposição muito dura ao Presidente da República e ao Governo Federal.
É um grande desafio porque eu fui vice-prefeita no primeiro mandato, quando nós tivemos a oportunidade de iniciar as transformações de Belém. Transformações não apenas no que diz respeito a obras, mas a tratar a sociedade também de forma diferenciada, de forma que ela participe da administração.
A marca da participação popular é você tratar a cidade de forma mais democrática, onde todos possam ter acesso a obras, ter acesso a serviços que possam melhorar a qualidade de vida da população. Esse trabalho vem sendo construído há quase oito anos em Belém. Nós aceitamos enfrentar esse desafio compreendendo que essa eleição extrapola o próprio município de Belém, porque ela é uma eleição que tem interesse nacional.
Como se posicionará o atual governador Simão Jatene?
O Governador atual deve ter como candidato a Prefeito o ex-governador do Estado, Almir Gabriel, que foi governador por dois mandatos, já foi senador, já foi prefeito biônico, prefeito indicado do Município de Belém, e que, com certeza, vem com todo o poderio econômico. Até porque eles têm feito realmente uma discriminação imensa a Belém. Quando foi governador, Almir Gabriel conseguiu, por exemplo, tirar mais de 450 milhões de reais de Belém, o que demonstra a sua falta de compromisso com o município.
A cota parte do ICMS de Belém, quando nós vencemos a eleição em 1996, era de 39%. E olhe que Belém é responsável por mais de 50 % da geração de ICMS do estado do Pará. Hoje, a cota parte de ICMS de Belém é de 20%, uma diminuição imensa. Além disso, o ex-Governador Almir Gabriel demonstrou a vontade, através da imprensa, de mudar a capital do estado. Queria tirar a capital de Belém e colocar em Belo Monte, onde provavelmente vai haver uma hidroelétrica.
Então, vai ser, com certeza, uma eleição dura, até porque os nossos adversários não têm como parâmetro o debate de idéias, a demonstração do que eles pretendem fazer. Eles já começaram com os ataques pessoais e as baixarias.
Está se falando muito de aliança com o PMDB no Pará. O que vai acontecer em Belém?
Uma das questões resolvidas é que a aliança que existe no Governo Federal não tem necessariamente que se transpor aos Estados e Municípios, porque existem características diferenciadas. Nós, do PT, em Belém, não faremos aliança com o PMDB. Com certeza nós teremos candidato a prefeito e o PMDB também terá candidato a prefeito. Nós estamos procurando aliança com diversos partidos, o PC do B, o PSB, o PPS e dialogando com outros partidos que fazem parte da base aliada, como o PL. Obviamente, diálogo com o PMDB a gente faz, até porque o PMDB não existe só em Belém, ele existe em todo o Estado do Pará.
Nas eleições passadas ao ser indagado sobre desemprego nas campanhas municipais, o partido dizia que esse era um problema do Governo Federal. Agora o governo federal é do PT. Qual será a postura esse ano?
Primeiramente, eu acho que nós temos sim a obrigação de cobrar do Governo Federal o cumprimento daquilo que nós discutimos e dizíamos nas eleições de 2002, aquele compromisso que nós assumimos junto ao povo. Eu acho que esse contrato que a gente assume com o povo não pode ser rompido de forma alguma. O governo federal tem tido iniciativas, mas precisa agilizá-las e combiná-las, logicamente, com as iniciativas do município.
Nos governos anteriores, Belém tinha muita dificuldade de acessar recursos federais, recursos que pudessem inclusive propiciar a geração de empregos na cidade. É como se Belém, agora, com o governo Lula, saísse do castigo. E saindo do castigo com certeza vamos ter muito mais oportunidades de ter obras.
Já temos, por exemplo, o Banco do Povo; poderemos ter até aporte de recursos que existem para linhas de crédito do Banco do Povo para que a gente possa assim incrementar a geração de empregos, que é o nosso maior desafio. E ele só vai ser enfrentado se nós tivermos uma combinação do esforço municipal, do esforço federal, se fizermos a reforma agrária, por exemplo. Não a favelização agrária que fez o Fernando Henrique, mas a reforma agrária que transforme o assentado num produtor rural, com condições inclusive de inseri-lo na economia do município. Aí sim nós vamos estar contribuindo para a geração de emprego, e é esse o caminho que a gente pretende. Queremos aperfeiçoar e melhorar aquilo que já tem sido feito nesses oito anos.