A abertura do primeiro encontro entre sociedade e governo federal sobre as políticas de economia solidária foi marcada pelo debate sobre como tornar o conceito uma estratégia de desenvolvimento para o país.
Um dos principais incentivadores do tema, o secretário nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho, Paul Singer, afirmou que a tendência de reunir associações e cooperativas se tornou a vanguarda da luta contra a exclusão.
“Digo isso com muito orgulho. A economia solidária hoje está na vanguarda da luta contra a exclusão social”, disse na conferência nacional em Brasília.
Singer disse que a economia solidária pode formar cooperativas com egressos de manicômios, por exemplo, e ampliar a luta anti-manicomial no país.
“Há mais de 30 associações de cooperativas de produção e muitas outras centenas vão surgir aproximamente”, disse. A relação entre os dois temas já é explorada no país há algum tempo. Em maio, por exemplo, foi realizada no Rio Grande do Sul a 1ª Feira de Economia Solidária Antimanicomial para apresentar iniciativas de articulação dos dois movimentos.
Na abertura da 1ª Conferência Nacional de Economia Solidária, Singer também citou a idéia de levar o conceito para dentro dos presídios para que, junto a educação e saúde, a crise da segurança pública possa ser resolvida “de uma forma positiva e humana”.
Concentração no Nordeste
Dos cerca de 15 mil empreendimentos da economia solidária existentes no país, a maior parte deles está localizada na região Nordeste, com 44%. Os restantes, 56%, estão distribuídos nas demais regiões do país: 13% na região Norte, 14% na região Sudeste, 12% na região Centro-Oeste e 17% na região Sul. As informações são do Atlas da Economia Solidária no Brasil, uma iniciativa pioneira coordenada pelo Ministério do Trabalho, em parceria com o Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES), lançada este ano. Só no Nordeste, segundo o documento, existem 6.549 empreendimentos.
Conforme revela o Atlas, os três principais motivos que levam à criação desse tipo de empreendimento são: alternativa ao desemprego, complemento de renda dos sócios e obtenção de maiores ganhos. Dois outros motivos também merecem ser destacados: possibilidade da gestão coletiva da atividade e condição para acesso a crédito. Essa situação, no entanto, modifica-se de acordo com as regiões brasileiras.
O motivo “alternativa ao desemprego” é o mais citado nas regiões Sudeste (58%) e na região Nordeste (47%). Por sua vez, na região Sul, o motivo mais citado é a possibilidade de “obter maiores ganhos”. Já nas regiões Norte e Centro Oeste, como destaca o documento, o principal motivo citado é o “complemento de renda” (45% e 53% respectivamente).
Hoje, no Brasil, 1,25 milhão de pessoas fazem parte dos empreendimentos econômicos solidários. A participação dos homens nessa atividade é bem superior à das mulheres: 64% contra 36%, respectivamente. Conforme revela o mapa, na região Sul, a participação relativa dos homens na atividade é superior à média nacional, chegando a 71%, enquanto que na região Centro Oeste, a participação das mulheres é superior à média nacional (41%).
O Atlas da Economia Solidária no Brasil, divulgado este ano, também revela que metade dos empreendimentos econômicos solidários está na área rural, 33% na área urbana, e 17% têm atuação tanto na área rural como na área urbana. Os produtos e serviços que mais lideram as atividades voltadas à economia solidária no Brasil são os relativos à agropecuária, extrativismo e pesca, com 42%. Logo depois, aparecem os alimentos e as bebidas (18,3%) e, em seguida, os produtos artesanais (13,9%).
Os produtos e serviços dos empreendimentos econômicos solidários destinam-se predominantemente, conforme revela o Atlas, aos espaços locais. Do total, 56% vendem ou trocam seus produtos e serviços no comércio local comunitário e 50% nos comércios municipais. Apenas 7% do total de empreendimentos destinam seus produtos ao território nacional e 2%, realizam transações com outros países.