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Eleições de 2014: a disputa do futuro já começou

827126A coincidência entre o lançamento nacional da candidatura Aécio Neves e a primeira inflexão para baixo dos índices de popularidade do governo Dilma não é uma coincidência, mas um fato político programatizado e programado.

Por Juarez Guimarães, em 16/06/13

No ensaio, escrito no início de abril, “Descaminhos e impasses das oposições ao governo Dilma”, comemorávamos analiticamente o crescimento na margem da popularidade do governo Dilma, a partir de um conjunto de iniciativas positivas acumuladas ao longo dos três primeiros meses do ano. Redução das tarifas de energia, desoneração da cesta básica, ampliação do público incluído no Bolsa-Família e a nova lei que regulava o trabalho das domésticas configuravam, no conjunto, um reforço das bases populares do governo. Ao mesmo tempo, analisavam-se as dificuldades para a consolidação da candidatura Eduardo Campos, a partir de resistência encontrada em seu próprio partido, e a ausência de um deslocamento importante que atingisse a ampla base de apoio parlamentar ao governo Dilma.

No mesmo ensaio, no entanto, identificávamos um reposicionamento da mídia – a concentração de ataques ao governo, em particular na questão da inflação – e concluíamos: “Até agora, portanto, há um impasse das oposições em seus caminhos cruzados para as eleições de 2014. Nos próximos meses ficará claro se este impasse está sendo rompido ou não.”

No ensaio seguinte “Aécio e a midiatização da política” insistíamos que a consagração de sua candidatura no PSDB – apoiada desde a sua origem em 2011 por FHC, acordada com Alckmin e isolando as resistências de Serra – implicava em um reforço da campanha de oposição pelos principais meios de comunicação do país. Insistíamos, em particular, no caráter programático novo de uma convergência propiciada por esta candidatura ao salientar o seu caráter malanista, isto é, orientada plenamente pela visão de mundo e pelos interesses rentistas, mais coerentemente do que as candidaturas Serra e Alckmin haviam sido.

Os meses de maio e junho parecem ter confirmado amplamente esta expectativa. Isto é, está já em curso uma disputa agressiva pelo futuro do país, que tem na cotidiana demonstração e criação de um sentimento de mal-estar em relação ao país o seu eixo. Mais do que programático, há aqui de fato uma programação política, que é necessário explicar para não parecer uma teoria conspirativa.

A unidade em torno da principal candidatura das oposições revela uma unidade integrada de um  comando político-midiático. Esta unidade se realiza como se houvesse um “super-editor” da mídia, isto é, a capacidade de fazer convergir ao mesmo tempo emissoras de tv, jornais, revistas e rádios, além de redes na Internet, sobre determinados temas, criando “micro-conjunturas” particulares, que acabam, por seu caráter massivo, galvanizando a opinião púbica. Esta convergência midiática produz, então, fatos novos na conjuntura.

A existência de um “super-editor” pode ser atestada na coincidência até de palavras idênticas nas edições, não apenas na seleção de temas ou enfoques, que aparecem simultaneamente em veículos de comunicação os mais dispersos. É como se um grande voz orientasse em uma mesma direção, concentrando a política e forçando a sua dramatização em escalas elevadas. A campanha nacional de Aécio Neves à presidência tem como articulador de seu comitê-de-campanha este poder de voz e imagem.

Esta concentrada e articulada rede midiática foi, de fato, estruturalmente formada em seus suportes econômicos de concentração durante o regime militar mas criou os seus intelectuais orgânicos – o seu centro de elaboração, a sua programatização, os seus intelectuais propagandísticos, seus símbolos e identidades culturais – no período neoliberal dos governos FHC. A ascensão da candidatura Lula em 2002, em meio à crise do neoliberalismo, e a experiência popular de seus governos, desorganizou a coerência da mensagem desta rede midiática, neutralizando os seus efeitos na formação da opinião. Agora, com a candidatura Aécio, coordenada diretamente por FHC, ela está sendo reorganizada para operar a pleno vapor.

Não houve, de fato, nos últimos três meses um fato político real negativo que justificasse a inflexão nos índices de popularidade do governo Dilma. Ao contrário do que disseminou a mídia de forma cotidiana e massiva, a inflação perdeu o seu vigor e não está em descontrole. O episódio organizado do boato sobre o fim do Bolsa- Família, evidentemente fruto de um ato criminoso e premeditado, foi apropriado pela mídia como fruto de um erro da Caixa Econômica Federal. Agora, a semana de protestos em São Paulo por um aumento de 0,20 centavos no ônibus foi literalmente incendiada em suas proporções pela ação da PM de São Paulo (incentivando quebra-quebras, promovendo uma violência desenfreada contra os manifestantes) e pela cobertura sensacionalista que foi conferida pela mídia. A capa da conservadora Veja, com um jovem incendiário e convocando protestos contra a corrupção e a criminalidade, e o jornal O Globo, do dia 16 de junho noticiando que estavam sendo preparados protestos em 30 cidades do mundo contra a situação no Brasil não deixa margens a dúvidas.

A disputa do futuro

A inflexão na popularidade da presidente Dilma Roussef  não significa que as oposições superaram seus impasses estruturais. Esta popularidade ainda se configura em um patamar bastante elevado e não se verificou nenhum deslocamento importante da base do governo Dilma. Mas o fundamental é compreender que há uma dinâmica de disputa em curso e que as forças democrático-populares devem se preparar, com seus valores e capacidades, para travá-la.

Mais do que nunca é preciso abandonar uma avaliação triunfalista de que as eleições de 2014 já estão praticamente decididas e que a simples propaganda da continuidade é suficiente para responder à disputa política colocada. O governo Dilma Roussef e o PT não tem nenhuma razão para serem confundidos com a defesa do status quo, com dimensões anti-republicanas, anti-sociais e de privilégios que ainda estruturam dimensões importantes do Estado brasileiro.

É o futuro e sua agenda, os sonhos e as esperanças dos brasileiros que estão sendo disputados. Hoje, é preciso reconhecer que a mensagem de qual futuro estamos delineando para o país está se tornando embaçada, em função de certa perda do dinamismo econômico, do mal-estar na política e de nosso acanhado discurso no plano da cultura.

Além disso, não se consegue adesão, convencer e atrair, perde-se cotidianamente a disputa da comunicação. É preciso construir desde uma rede de comunicação democrático-popular que alimente a militância social da imensa base política e dos movimentos sociais que se opõem ao retorno do neoliberalismo no Brasil.

E, sobretudo, é preciso voltar às ruas com o sentimento de que foi ali, com a pulsão dos movimentos sociais, com a capacidade de luta do povo brasileiro, que conquistamos o que há de melhor em nossa história.

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