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Eleições na Alemanha: foi dada a largada

921328Da Carta Maior

Nesta segunda-feira (5), Berlim amanheceu com seus postes recobertos pelos cartazes de propaganda eleitoral. Imagino que o mesmo aconteceu em outras cidades alemãs. É o sinal da largada oficial para as eleições federais para o Bundestag.

No último mês 6 institutos de pesquisa realizaram regularmente sondagens das intenções de voto. Apesar da relatividade das sondagens, uma vez que o comparecimento é facultativo e não obrigatório, abaixo segue-se um quadro das intenções de voto conforme registros de 12 de julho até 4 de agosto. Anota-se o percentual mínimo de cada partido, o percentual máximo, e com os sinais > (crescimento), < (decréscimo), = (estável) ou ~ (oscilante), aponta-se a tendência atual em relação a resultados anteriores. Por último, aponta-se a votação obtida pelo partido em 2009, lembrando que então o AfD (Alternative für Deutschland, Centro-Direita, contrário à ajuda a demais países da zona do euro).

CDU/CSU 40 – 42% = / 33,8%
SPD 22 – 26% > / 23%
PV – 12,5 – 14% = / 10,7%
Die LINKE 6 – 8% > / 11,9%
FDP 5 – 6,5% < / 14,6%
PIRATEN 2 – 3% > / 2%
AfD – 2 – 3,5% < / —
Outros 4 – 8% ~ / 4%

Por estes números pode-se observar que:

1) A posição da CDU/CSU (lembrando que a CSU é o braço bávaro da CDU, tendo sigla e direção próprias) fica entre confortável e incômoda. Cresce na expectativa de voto, de 34 para 40, até 42%, mas este crescimento se deve em parte ao esvaziamento e decepção com a atuação de seu correligionário de governo, o FDP.

2) A situação deste é a mais periclitante. Perde votos para a CDU/CSU, para o AfD recém lançado, para os Piratas, e fica sempre em torno da cláusula de barreira de 5%. É uma incógnita: poderá ultrapassá-la ou não. Caso ultrapasse, poderá formar um governo minoritário com a CDU/CSU, mas com uma quase maioria de 45 a 47%, o que daria governabilidade a este, ainda que relativa. Caso não ultrpasse, a CDU/CSU ficará sem parceiro para formar um governo estável: 40 – 42% é muito pouco para tanto.

3) Isto porque o candidato a primeiro-ministro pelo SPD, Peer Steinbrück, garante que não fará coalizão com a CDU/CSU, preferindo unicamente o Partido Verde como parceiro. Isto ajuda o SPD a retomar alguns votos anteriormente perdidos para a Linke devido à coalizão que formou com a CDU/CSU no passado, até 2009. Porém a rejeição da cúpula do SPD em relação à qualquer possibilidade de coalizão que inclua a Linke torna frágil a possibilidade de um governo apenas com o PV: embora SPD e PV venham recuperando votos em relação a 2009, a sua soma de votos, oscilando entre 34,5 e 40%, também é insuficiente para a formação de um governo estável. Ainda assim, o melhor quadro para o SPD seria a queda do FDP para fora do Bundestag, a formação de um governo com o PV, que contaria com um eventual apoio da Linke caso a caso.

4) Os Verdes recuperaram algo de seu poder de voto, diante das perdas que sofreram tanto para a Linke quanto para Piratas, mais recentemente. Entretanto o Partido padece de dois problemas: a sua bandeira “verde” se diluiu entre os outros partidos. Piratas, partes do SPD, a Linke, até a chanceler Angela Merkel se recobriram de propostas mais ou menos “verdes” ou “verdejantes”, algumas mais sóbrias, outras mais arrojadas. No centro da discussão está a bandeira que foi arrebatada em parte dos verdes sobre o fechamento das usinas nucleares alemãs, coisa que a chanceler Angela Merkel determinou que se faça até 2021. Ainda assim, a melhor alternativa para os Verdes seria uma crise ou colapso desta proposta aprovada no Bundestag devido ao alto custo e demora da proposta alternativa de energia eólica. Mas ninguém vai mexer nisto até depois da eleição, é claro.

5) A Linke se beneficiou no passado da adesão do SPD e dos Verdes à presença de tropas alenmãs, sob a bandeira do OTAN, no Afeganistão e alhures. A bandeira continua de pé, mas ao mesmo tempo o partido se envolveu numa série de disputas internas, algumas grandes, outras pequenas e até mesquinhas, que enfraqueceram a sua imagem nacional. Assim mesmo, a Linke tem um público fiel, em torno dos 8%, que assegura sua presença no Bundestag. A questão é se o partido terá uma liderança unificadora, uma vez que a de Oskar Lafontaine, ex-SPD, ainda de grande prestígio, está em declínio devido a problemas de saúde e esta luta intestina entre facções. Uma dificuldade suplementar é que a Linke não conta com qualquer boa-vontade por parte da maioria da mídia convencional alemã, que vê o partido como um remanescente da DDR. Por exemplo: na atual discussão sobre a espionagem mundial da NSA norte-americana, a Linke, que primeiro se posicionou contra, é raramente ouvida, ou pelo menos aquém do que deveria, enquanto SPD e Verdes estão sempre em destaque.

6) Os Piratas e o novo partido AfD, embora de composição e intenções muito diferentes entre si, enfrentam uma situação comum: depois de um primeiro momento de exuberância (no ano passado os Piratas chegaram a ter 7% das intenções de votos), declinaram e hoje quase certamente estarão fora do Bundestag. Porém assinale-se que na última hora os Piratas pode surpreender devido à mobilização de seus quadros, enquanto o AfD, mesmo que fique de fora, terá uma participação decisiva se conseguir roubar votos o suficiente do FDP para este fique também de fora do Bundestag.

Portanto é impossível fazer qualquer prognóstico para o futuro, exceto o de que dificilmente a eleição trará uma oportunidade de mudança em relação a atual política alemã para a zona do euro e a União Européia. No máximo a CDU/CSU, à testa de um governo fraco, terá de fazer algumas concessões superficiais ao SPD/Verdes; se o governo for destes, tampouco terá força para fazer grandes inflexões que, aliás, não fazem propriamente parte do ideário dos dois partidos. A única concessão possível seria a de conceder mais tempo para a recuperação dos países mais endividados, mas dentro das balizas da ortodoxia econômica.

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