Democracia Socialista

Em defesa da Revolução Bolivariana! | Gustavo Codas e Lucio da Costa

Foto: Telesur

A principal batalha do momento no nosso continente é a da Venezuela. Se o governo Trump e seus aliados venezuelanos forem vitoriosos, as consequências políticas e econômicas para nossos povos serão terríveis e duradouras. Se o povo venezuelano resistir à agressão do imperialismo estadunidense, os povos de nossa região terão melhores condições para deter o processo pelo qual estamos voltando a ser o “quintal” dos EUA.

Na batalha que, no momento atual, opõe Trump e o “presidente” venezuelano por ele nomeado, Juan Guaidó, de um lado, e o governo do presidente Nicolás Maduro e as forças de esquerda e patrióticas que o sustentam, de outro, não há margem para neutralidade.

O que joga o imperialismo dos EUA, do governo Trump? É evidente que lhe interessa a Venezuela como a principal fonte de petróleo barato perto dos EUA. Quer esse negócio para suas multinacionais e que o controle esteja em mãos de políticos submissos ao comando de Washington.

Mas o interesse principal do imperialismo é fundamentalmente político:

O ex-presidente Pepe Mujica tem alertado que os EUA querem chegar a uma invasão militar da Venezuela, provocando uma guerra na América do Sul, similar ao que foi feito na Síria. Imagina que se Maduro fizer concessões esse perigo desaparecerá, e propôs a convocação de novas eleições presidenciais. O que essa análise não leva em conta é que o governo Trump já impediu eleições plenamente competitivas no ano passado. Essas estavam sendo negociadas na República Dominicana entre o governo Maduro e os principais partidos de oposição da direita e centro-direita, com a mediação do ex-presidente do governo espanhol, o socialista moderado Jose Luis Zapatero, e o apoio do presidente dominicano.

As eleições que em 2018 elegeram Maduro ocorreram nos marcos do pacto negociado na República Dominicana. Só que no último momento, quando o acordo, já aceito por todas as partes – governo Maduro e oposições – seria assinado, um setor majoritário da oposição acabou retirando-se por pressão de Washington. O imperialismo estadunidense não está interessado em garantir eleições limpas e competitivas: está interessado em derrotar e destruir a revolução bolivariana.

O rechaço de Trump e o presidente por ele encarregado à qualquer negociação reflete essa estratégia. Por isso, é vergonhosa a posição majoritária dos governos da União Europeia que reconheceram o “presidente encarregado”. A Europa mostra ser, em matéria de política externa, apenas outro quintal dos EUA. E nada podia se esperar dos governos de direita da América Latina que se reuniram no “Grupo de Lima” para dar uma fachada de legitimidade e apoio regional à intervenção imperialista.

O objetivo político do imperialismo não termina na Venezuela. Já anunciou que o próximo alvo será Cuba, assim como Nicarágua e Bolívia.

Mas para além das batalhas em cada país, a disputa central se dá em torno da ofensiva dos EUA para aceitar ou não a soberania e autodeterminação de nossos povos, nomear autoridades, definir segundo seus interesses a administração dos recursos financeiros e legitimar novamente a intervenção militar direta dos estadunidenses em nossos países, entre outros retrocessos gritantes.

Essa mudança de paradigmas nas relações internacionais – algo que nos faz retroceder mais de cem anos – tem também um objetivo geopolítico. O governo Trump está preparando o embate com a China no Pacífico e se propôs a “limpar” da presença chinesa o seu “quintal” latinoamericano. A aliança energética e econômica Venezuela-China é um obstáculo a esse objetivo. A derrubada do governo Maduro é central para este objetivo estratégico dos EUA.

No caminho de uma nova disputa para impor o mundo unipolar dominado pelos EUA o governo Maduro é um dos últimos escolhos na região. Em breve, veremos se o México governado por Lopez Obrador também não será tratado como um obstáculo a eliminar.

A batalha da Venezuela para o imperialismo é pelo petróleo, pela busca de um mundo unipolar e, sobretudo, para retroceder a relação política entre Washington e nossos países à condição semicolonial, sacramentada por uma nova doutrina dos regimes políticos que podem ser aceitos. Alguém minimamente honesto poderia dizer que as ações dos EUA são para a defesa dos direitos humanos e a democracia, se estão lideradas por sinistros personagens como Trump na presidência, o ex-diretor da CIA, Mike Pompeu, como secretário de Estado (equivalente a ministro de Relações Exteriores) e como delegado do governo para o tema de Venezuela o criminoso internacional Elliot Abrams (que se projetou nos anos 1980 liderando no governo Reagan as operações ilegais contra as revoluções na América Central)?

Se tivermos que olhar para o passado, certamente temos que resgatar o que foi a Guerra Civil Espanhola (1936-39). Nossos avós souberam o que estava em jogo e por isso houve uma magnífica mobilização das Brigadas Internacionalistas impulsionadas pelas forças do movimento operário internacional, enquanto que as “democracias ocidentais” decretaram bloqueio de venda de armas a “ambos os lados em disputa”, o que de fato significava bloquear a República democrática, já que os fascistas do General Francisco Franco recebiam apoio militar e financeiro de Hitler e Mussolini. Outro momento onde esteve em jogo um desafio de volume histórico similar foi a invasão por parte de um exército mercenário organizado e pago pelo governo dos EUA na Baía dos Porcos (Playa Girón), em Cuba, em 1961.

A derrota da República foi um capítulo decisivo do avanço do fascismo na Europa: mergulhou a Espanha nas trevas por 40 anos, e pavimentou o caminho para a Segunda Guerra Mundial. A derrota do imperialismo em Cuba foi a alavanca que permitiu à revolução cubana avançar no rumo socialista e desmoralizar e deslegitimar o poder dos EUA em nossa região.

Como em 1936 na Espanha ou em 1961 em Cuba, não há neutralidade possível. Como não poderia haver neutralidade frente ao ataque imperialista às revoluções de Vietnã nos anos 1960 e Nicarágua nos anos 1980. Por isso, estamos com o povo da Venezuela e com o presidente Nicolás Maduro!

Pela autodeterminação dos povos, contra o bloqueio e a guerra imperialista!
Paz e democracia na Venezuela!

Gustavo Codas e Lucio da Costa, são membros da Coordenação Nacional da DS

 

Para mais informação sobre a batalha na Venezuela: