A crise sanitária, política e econômica que nos assola durante a pandemia da covid-19 agravou as desigualdades sociais desde o primeiro momento dos contágios, até o grave momento atual, onde batemos a marca de mais de 206 mil pessoas mortas e o governo federal ainda não divulgou um plano de vacinação e segue com uma política de negacionismo genocida. A falta de acesso às medidas de segurança propostas para o combate e a prevenção da população escancara a falta de responsabilidade do desgoverno Bolsonaro e prejudica todos os setores do nosso país.
No setor educacional os prejuízos têm se agravado desde a suspensão das aulas à implementação do ensino remoto em todo país. O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), uma das maiores portas de acesso ao ensino superior, que tem data marcada para a realização das provas durante a pandemia do Coronavírus, tem sido um dos fatores mais preocupantes, pois o acesso a internet e a aparelhos digitais para aulas remotas é escasso entre os estudantes, sobretudo na rede pública que não teve as mesmas condições de estudar e se preparar para o exame, findando em uma grande exclusão digital e educacional, uma vez que os estudantes não acompanham ou não tem acesso ao ensino a distância estão se afastando da educação, agravando e aprofundando os índices evasão escolar.
O ensino público sente as mazelas do sucateamento promovido pelo desgoverno de Bolsonaro que vem deteriorando as condições de acesso a uma educação digna, que deve ser do povo e para o povo, para caminhar a uma privatização. É nítido que as consequências do descaso com a educação brasileira recairão sobre as populações periféricas, ribeirinhas, indígenas, LGBTQI+, rurais e sobretudo a população negra. Enquanto a rede de ensino privado continua com o calendário escolar, proporcionando que somente uma parte da população tenha o direito de estudar, fomentando a manutenção de um sistema que aprofunda as desigualdades sociais formando os filhos da elite e retirando cada vez mais as oportunidades dos filhos da classe trabalhadora..
As entidades estudantis UNE e UBES, e o movimento educacional em conjunto com os estudantes de todo o Brasil cobraram em primeira instância do MEC um diálogo para questionar como que as provas aconteceriam em um momento pandêmico, quais seriam as medidas de biossegurança tomadas para assegurar a manutenção da saúde de todos e cobrar a devida responsabilidade com a vida das pessoas. Mas não obtiveram respostas, o que acabou movimentando a grande campanha para o adiamento do ENEM, que após muito barulho, denúncia e indignação nas redes sociais obteve notoriedade nacional e pressionou o governo a adiar a prova e abrir diálogo para as possíveis datas do exame.
Mas na própria enquete disponibilizada pelo INEP a data escolhida pelos estudantes foi desconsiderada e mais uma vez sem nenhum diálogo, mantendo a prova inviável para aqueles que vão prestá-la.
Hoje em janeiro de 2021, a dois dias da realização do exame, o medo é um sentimento presente entre todos os brasileiros. A incerteza de não saber o amanhã, de não saber se a segurança dos nossos estudantes estará garantida durante as provas levou o estado do Amazonas a adiar o ENEM em todo estado, pois o quadro de contaminação e falecimento pelo covid-19 estão em alta, sem oxigênio e leitos de UTI nos hospitais. Isso demonstra uma real preocupação e responsabilidade com a vida das pessoas. Tais atos desencadearam na população a revolta e os pedidos de Impeachment do Presidente Jair Bolsonaro voltam a ser assunto mais comentado nas redes sociais.
As reivindicações e mobilizações travadas pelo movimento estudantil foram fundamentais, mas a conjuntura política e o desgoverno do país impossibilitaram o diálogo e a realização de uma prova segura e acessível que respeitasse as normas da OMS. O sentimento que fica para o povo brasileiro é se uma prova vale a vida e a saúde de todos os estudantes.
ADIA ENEM, POR VIDAS!
- Herbert Coelho, Diretor de Políticas Educacionais da UBES
- Pâmela Layla, Diretora de Mulheres da UBES
Comente com o Facebook