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Enegrecer as universidades e transformá-las em quilombos | Ryan Rosa

Grande vitória do movimento negro e estudantil brasileiro, a lei de cotas completa 10 anos conquistando importantes avanços.

Neste dia 29 de agosto, uma grande vitória da articulação do movimento negro e estudantil brasileiro completa 10 anos. A lei nº 12.711/2012, mais conhecida como “Lei de cotas”, criada nos governos democráticos e populares, foi fundamental no processo de reparação histórica, social e econômica pelo processo da escravização vivida no Brasil. Antes desta lei, o país presenciava uma enorme desigualdade no ensino superior, em 1991, por exemplo, negros/as eram apenas 1% e 1,5%, dos estudantes do ensino superior público, já em 2019, chegamos a 50,3%, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). 

Levou mais de 100 anos para que a sociedade brasileira avançasse no reconhecimento das desigualdades raciais promovidas pelo escravismo colonial e pela abolição inconclusa. Ainda hoje, precisamos nos colocar na defesa de direitos para todos, tendo e vista que uma parcela da população segue contra a aquisição de direitos, por parte dos que sempre foram excluídos dos espaços de poder, como quilombolas e indígenas, negros, pessoas com deficiências, etc. 

É nítido que as ações afirmativas pintaram as nossas universidades com a cara do povo brasileiro, mas o abismo social no país entre negros e brancos persiste em números astronômicos. Por exemplo, a população negra faz parte dos 80% dos analfabetos do país, assim como dos 64% dos negros/as que não completaram a educação básica. Com a pandemia, os números das desigualdades educacionais só aumentaram com a evasão universitária, 21% dos estudantes que trancaram ou cancelaram sua matrícula em 2020 foi por necessidade de comer (Unesco e Conjuve).

É fundamental que nos articulemos para avançar nesse momento de reavaliação da Lei de Cotas e das políticas públicas de ações afirmativas. Queremos ampliar essa política para os cursos de Pós-graduação das Universidades e Instituições Federais, garantir o devido acompanhamento de sua implementação com a criação do Observatório Nacional de Ações Afirmativas, contribuindo na formulação constante e avaliação atenta dessa política para a construção de melhorias. Essa política afirmativa vem gerando frutos promissores, se para nossos avós e pais o diploma de ensino superior parecia algo distante, com a política de cotas é uma realidade para nós. Contudo, ainda temos muito a conquistar. 

Ryan Rosa é diretor de Combate Ao Racismo da União Nacional dos Estudantes (UNE).

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