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Entrevista: Esquerda sai fortalecida do processo eleitoral no Equador | Magdalena León

O Equador é ainda um dos poucos países governados pela direita na América Latina, mas essa tendência começou a mudar no último domingo (5), quando o povo deu expressiva vitória aos candidatos do campo progressista nas eleições de meio mandato, as últimas antes das eleições presidenciais de 2025. Outra conquista importante foi a vitória do ‘Não’ no referendo proposto pelo atual presidente, Guillermo Lasso, que propunha mutilar a Constituição.

Para analisar essa nova conjuntura entrevistamos a economista equatoriana Magdalena León. Magdalena tem uma longa trajetória feminista, principalmente, na economia feminista através da Rede Latino-Americana Mulheres Transformando a Economia (Remte), e hoje também participa do Grupo de Trabalho Feminismos, Resistencias y Emancipación do Conselho Latino-americano de Ciências Sociais (CLACSO).

Esquerda volver
O Movimento Revolução Cidadã elegeu os governadores dos três estados mais populosos: Pichincha, Guayas e Manabí e prefeituras em diversos municípios menores. O resultado que surpreendeu a todos, visto que as pesquisas apontavam vitória da direita, evidencia o descontentamento da população com o aumento das desigualdades e da violência. Magdalena León afirma que o resultado é um alívio para a população que passou por momentos muito difíceis, especialmente durante o governo de Lenín Moreno e Guillermo Lasso. Eleito com um programa progressista, Moreno traiu seu eleitorado e implementou um programa neoliberal, continuado por Lasso. “A vida da população tem se visto muito deteriorada nos últimos anos. O ataque aos serviços públicos e aos direitos [sociais] tem sido brutal. Tudo isso somado aos efeitos da pandemia na vida das pessoas causa uma deterioração crítica da vida em uma dimensão que nunca havíamos vivenciado no país”, afirma.

Follow the money e a violência

A destruição dos bens públicos e dos direitos sociais é parte do programa do banqueiro Lasso, atual presidente do país. O presidente e setores ligados a ele financiam o desmonte das instituições e a violência que açoita todos. As quadrilhas do narcotráfico tomaram as ruas e todos os dias há notícias sobre uma enorme violência urbana, inclusive com massacres nas prisões. Léon afirma que há uma dimensão política dessa violência, “houve pelo menos 18 atentados durante a campanha eleitoral, inclusive com o assassinato de um dos candidatos na véspera da ida às urnas”.

A economista relata que o entrelaçamento entre narcotráfico e mercado financeiro tem sido objeto de estudo de diversos setores da sociedade, pois tem se percebido que as forças policiais do Estado estão contaminadas pelos interesses do narcotráfico e outros ilegalismos, esses por sua vez financiados pelas elites. “Estamos dolarizados desde o início do século, isso é uma grande atração para a operação desses capitais. (…) A lavagem de dinheiro cresceu muito e uma das evidências está nos grandes lucros dos bancos. São ganhos extraordinários, que superaram em muito tendências históricas”, aponta.

Frente Ampla

Magdalena afirma que a unidade da esquerda em uma frente ampla capaz de derrotar a direita é desejável e necessária, ela defende que a esquerda precisa atuar não só na esfera política, mas também na midiática e cultural. Para ela, tanto no Equador, como em outros países da América Latina, “estamos com direitas muito poderosas, que usam ferramentas de todos os tipos. Diante disso, o desafio para a esquerda é ter capacidade de gestão política de suas próprias trincheiras, que sejam eficazes, que não nos desgastem, não nos desviem, que saibam somar”, alerta.

Perseguição política e eleições presidenciais de 2025

Presidente do Equador entre 2007 e 2017, Rafael Correa teve seus direitos políticos sequestrados ao ser acusado de “influência psíquica” em casos de corrupção durante seu governo. Vítima de lawfare, como Lula no Brasil e outras lideranças populares na América Latina, o ex-presidente permanece como referência política e teve importante papel no resultado do último domingo, mesmo autoexilado na Bélgica. Para a economista, a vitória de domingo restaura a dignidade da pessoa de Rafael Correa, bem como dos líderes e apoiadores da Revolução Cidadã que têm sido vítimas de intensa perseguição política. “Agora, na campanha [do referendo], Lasso dizia, por exemplo, que todos nós que votamos ‘não’ somos narcoterroristas”, afirma.

A Direita publicou dossiês relacionando pessoas progressistas com o narco terrorismo. “Esses dossiês são uma compilação de notícias, tweets e memes que a polícia reuniu a partir de falsas acusações ou presunções. É um ambiente muito sujo, muito feio, e é por isso que esse resultado, de alguma forma, restaura a dignidade da pessoa de Rafael Correa, que tanto foi golpeado”.

“Rafael Correa apresentou diversas denúncias e há processos em instâncias internacionais que poderiam anular as condenações às quais ele foi submetido”, permitindo-lhes ser candidato a presidente em 2025. “Esse também é um momento para observar a emergência de novos líderes do Revolução Cidadã, uma geração mais jovem de quadros, de onde pode vir eventualmente um candidato à presidência”, aponta Magdalena León.

Redação Democracia Socialista.

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