O balanço do primeiro ano do presidente François Hollande esteve presente em todo o protesto que se desenrolou entre as praças da Bastilha e da Nação, superando as previsões dos organizadores. A Frente de Esquerda esperava 100 mil pessoas, mas a meio da tarde anunciava a presença de 180 mil manifestantes, mais 20 mil que no 1º de Maio da CGT. A desilusão com o mandato presidencial, envolvido em escândalos financeiros de fraude fiscal e incapaz de cumprir as promessas de dar um rumo diferente à economia, foi também o centro das intervenções no comício.
A manifestação foi apoiada pelo NPA e também contou com a presença da ex-candidata às presidenciais Eva Joly, apesar dos Verdes não terem apoiado este protesto. Joly defendeu que Hollande devia “regressar ao espírito de Bourget”, quando o então candidato presidencial do PS designou como inimigo “a Finança”. O orador seguinte foi o líder do PCF, Pierre Laurent, que falou num “ano perdido para a mudança. Isto é demais e não o aceitamos”, afirmou.
No discurso de Jean-Luc Mélenchon, voltaram a ouvir-se apelos a uma “insurreição” que ponha fim a estas políticas de austeridade. Não se pouparam críticas a Hollande, sem o nomear, zurzindo no “pequeno monarca fora de controle” e símbolo de uma “monarquia vertical que permite à finança estender os seus tentáculos”.
“O período de teste terminou” para o presidente francês, avisou Mélenchon. “E se você não sabe como fazer, nós sabemos”, acrescentou o ex-candidato presidencial, sublinhando que “nós não mudamos de opinião, não queremos a finança no poder nem aceitamos as políticas de austeridade”. O líder da Frente de Esquerda tinha apelado a uma “varridela” do sistema político francês neste domingo e muitos manifestantes trouxeram as vassouras de casa, em defesa de uma VI República fundada por uma Assembleia Constituinte que não inclua as figuras que tenham passado pelo poder executivo ou legislativo. “Nada é mais poderoso do que uma ideia cujo tempo chegou”, concluiu Mélenchon, terminando o comício com esta citação de Victor Hugo.
Sempre de cravo vermelho ao peito, Mélenchon disse ao correspondente do Expresso em Paris que “não deixaremos que matem Portugal nem nenhum país vítima da finança” e recordou que no Chipre “assistimos a um golpe de Estado da finança na Europa”, mas que “as dívidas nunca serão pagas, com um pouco de inflação apaga-se a dívida, a inflação é melhor que a morte, a bancarrota ou a guerra!”, exclamou.