No último domingo (21) o Paraguai realizou suas eleições para presidente, deputados e senadores. O Partido Colorado, derrotado em 2008 após 61 anos ininterruptos de governo, saiu como grande vitorioso, elegendo Horácio Cartes com quase 46% dos votos. Por sua vez, o Partido Liberal, que ocupava a presidência com Federico Franco desde o golpe parlamentar contra Fernando Lugo em junho de 2012, obteve 37% dos votos em seu candidato Efraín Alegre.
A UNACE, partido conservador de raízes nacionalistas e populistas, fundado pelo general Lino Oviedo, morto em fevereiro desse ano em um acidente de helicóptero, inicialmente ensaiou um apoio aos liberais após o falecimento de seu líder. Sem conseguir chegar a um acordo, lançaram Lino Oviedo Sánchez, sobrinho do antigo general. Porém, na reta final da campanha, liberais e oviedistas fecharam uma aliança, e Sánchez passou a pedir votos para Alegre, mesmo com seu nome constando nas cédulas de votação. Para sedimentar o acordo, o governo liberal aprovou a compra superfaturada de um terreno da família Oviedo por US$ 15 milhões, o que resultou na renúncia do presidente do Senado Jorge Oviedo Matto, também sobrinho de Lino Oviedo.
Os partidos de esquerda e progressistas, que apoiavam Lugo e se posicionaram contra o golpe parlamentar, saíram rachados em três candidaturas e três listas para as eleições de deputados e senadores. A Frente Guasú obteve 3,3% dos votos para seu candidato a presidente Anibal Carrillo, médico que há mais de 30 anos atua junto com os movimentos sociais, em especial os do campo. Por sua vez, na eleição para o Senado, sua lista, encabeçada pelo ex-presidente Fernando Lugo, obteve quase 10% dos votos (no Paraguai as eleições para o Senado são feitas através de uma lista única fechada e nacional). Já o principal racha da Frente Guasú, a concertação Avança País recebeu 6% dos votos em seu candidato presidencial Mario Ferreiro e 5% nas sua lista para o Senado. Por fim, Lilian Soto e seu partido Kuña Pirenda foram a preferência por apenas 0,2% do eleitorado. Porém, sua candidatura tinha como objetivo maior demarcar a luta feminista, uma pauta ainda pouco difundida na sociedade paraguaia e mesmo dentro das organizações de esquerda. Ainda que muitos tenham lamentado a divisão dos partidos e movimentos de esquerda que eram base de apoio de Lugo durante seu governo, é importante lembrar que em 2008 esses mesmos grupos saíram em 12 listas diferentes nas eleições legislativas.
Mesmo com a volta dos colorados ao poder e a votação da esquerda ter sido abaixo do esperado, por não contar com as máquinas de fraude e contra-fraude que as duas maiores agremiações políticas possuem, não é possível afirmar que a política paraguaia voltou ao quadro pré-2008. A vitória de Lugo naquele ano foi graças, em parte aos partidos que o apoiavam (Liberais e Frente Guasú), e em parte graças a sua figura própria, de bispo humilde, aliado dos mais pobres e vindo de fora da “política tradicional”. O descrédito com os políticos tradicionais perdurou desde então, o que ficou evidente nos meses que antecederam o golpe, quando uma série de manifestações populares, cada qual com uma pauta própria, tinham em comum o rechaço aos senadores e deputados, e não ao executivo, como costuma ser mais frequente.
Nessa eleição isso se expressou na escolha dos candidatos dos maiores partidos. O Colorado, sem o controle da máquina estatal, vital para sua sustentação política através de práticas clientelistas, teve que apelar para um milionário, Horacio Cartes, ser candidato a presidente e compensasse com seu dinheiro a falta dos recursos públicos que costumam desviar para suas campanhas. Porém, o sucesso de Cartes não se deu apenas graças a sua riqueza. Novato na política, ele se filiou ao partido há apenas três anos, o que contribuiu para sua imagem de “renovação” em conjunto com a de “empresário bem-sucedido”, ao mesmo tempo que conseguiu unificar todas as facções dos colorados.
A aliança de última hora entre liberais e oviedistas foi mais uma demonstração de desespero do que de força. Esse acordo não resultou em um crescimento significativo da votação de Alegre, aparentemente uma boa parte do eleitorado da UNACE migrou pros colorados. Algumas análises já prevêem uma derrocada sem volta dos oviedistas (na votação para o Senado tiveram menos de 4% dos votos) e uma provável guerra interna entre Liberais, após essa derrota tendo o governo nas mãos, o que também pode causar uma crise no atual modelo bipartidarista do Paraguai. A esquerda começa a se afirmar como terceira força do país e, caso consiga aprofundar sua unidade, tem condições de se apresentar cada vez mais como um ator importante na política paraguaia.