Democracia Socialista

Esquerda, volver!

Por Luiz Antonio Carvalho

Se as manifestações multitudinárias de junho já indicavam a necessidade de uma guinada à esquerda do PT (por melhores serviços públicos; ainda menos corrupção; resistência firme ao canto das sereias fiscalistas, sem peias morais na sua indiferença ao emprego e à renda, e luta por mais espaço para a participação popular – reforma política feita por plebiscito e constituinte), o salto acrobático da ex ministra Marina Silva, na rede da oposição ao que ela classificou como “chavismo do PT”, aprofundou ainda mais essa necessidade.

Enquanto a trajetória política de Lula revisita sempre São Bernardo e suas origens nordestinas, Marina parece obstinada em esquecer de vez o seringal Bagaço. Seus resultados espetaculares em Brasília, BH e no Country Club do Rio de Janeiro – em forte contraste com sua votação no Acre – já justificavam plenamente sua aberta adulação pelos ecoturistas da banca e da mídia nacionais. Nem em seus melhores sonhos imaginaram essa instalação. Uma artista de fazer inveja a qualquer flaustista de Hamelin na sua capacidade de levar jovens ao abismo dos Bonhausens, Caiados e outros representantes do velho Brasil das desigualdades e da miséria que parecia sem fim.

A nova instalação da direita brasileira, a manobra em pinça da Casa das Rosas (que ilustra tão bem a parceria governo paulista e banco Itaú) e da Casa das Garças, nos empurra ainda mais para um PMDB sem o qual, verdade, nem a redemocratização teríamos conquistado, mas que aos poucos vai nos minando por dentro. Resistiremos. Agora inimiga figadal do PT, Marina quer, com Bonhausen, ajudar a extirpar da política brasileira a raça de seus antigos companheiros das comunidades de base e enganá-los com a conversa fiada de que a UDR de Caiado é melhor que a CNA da Kátia Abreu ou de Blairo Maggi, cujas mazelas agrotóxicas conhecemos, mas que ajudam mais o Brasil do que o parasitismo latifundiário de seus hoje grandes amigos na adoração do Deus mercado. “Shame on you”, Marina. Que os nossos” jovens americanizados” resistam ao som de sua doce flauta.