Vera Soares, de São Paulo, abriu o debate com um breve histórico do feminismo no Brasil, destacando que este sempre foi marcado pelas lutas da esquerda. Ênfase especial foi dada às lutas que ocorriam no período em torno ao nascimento do PT, relembrando o envolvimento das mulheres na resistência contra a ditadura militar e na luta pela anistia, por habitação, contra a carestia, bem como por creches e contra a violência. “Era um combate pela democracia e por direitos, em um tempo em que o Estado não era visto como um interlocutor”, destacou.
Já o feminismo hoje como processo de organização e mobilização social foi o centro da fala de Lourdes Simões, de Campinas. Ela retomou as lutas feitas pelas mulheres no cenário pré e pós golpe de 2016, lembrando que 2015 foi o ano da quarta ação internacional da Marcha Mundial das Mulheres, que conectou as resistências das mulheres contra o avanço do capitalismo e do conservadorismo sobre seus corpos, trabalho e territórios. Foi também foi o ano da Marcha das Margaridas, que reuniu 70 mil mulheres em Brasília em defesa da democracia e o Fora Cunha como eixos de luta. Além disso a Marcha das Mulheres Negras, realizada em novembro daquele ano e a chamada “primavera feminista”, levante contra o PL 5069 de Cunha. “Com a consolidação do golpe contra a classe trabalhadora, organizado a partir de práticas patriarcais, as mulheres continuaram em luta e, já em 2017 abriram o calendário unificado com o 8 de março centrado no combate à Reforma da Previdência, contra o golpe e pela recuperação da democracia, com o slogan: ‘Aposentadoria fica, Temer sai’. Depois, no envolvimento na greve geral de 28 de abril”.
Lourdes concluiu afirmando “Vivemos um momento de intensa luta de classes, com resistências e retrocessos ao mesmo tempo. Um novo ciclo de lutas tem que ser orientado pela consigna: sem feminismo, não há socialismo”.
Sarah de Roure trouxe os elementos comuns das lutas das mulheres na América Latina, lembrando da atuação das mulheres de todo o continente do plebiscito contra a Alca – Área de Livre Comércio das Américas, e nos processos de articulação que resultaram também na eleição de governos progressistas em toda a região. Tais vitórias tiveram impactos positivos não apenas materiais, mas também no imaginário das mulheres e dos povos da região.
“O feminismo está cada vez mais presente na sociedade hoje, não apenas na pauta das mulheres organizadas, como também em movimentos mais amplos como como o Yo soy 132, no México, na luta de estudantes secundaristas aqui e no Chile e na Argentina com o Ni una Menos. A reação dos setores conservadores ao feminismo se articula com a tentativa do capitalismo de diluir sua radicalidade política. Um exemplo “A atuação das igrejas contra o processo de paz na Colômbia que utilizaram os mesmos tipos de discurso feitos durante a votação do golpe contra Dilma”, lembrou Sarah. “O feminismo precisar ser parte de um projeto mais amplo de transformação da sociedade e, por isso, é importante reposicioná-lo dentro do PT”, finalizou.
A partir de suas vivências desde a infância, Helena Nogueira, militante negra e desde sempre feminista, enfatizou o racismo como parte integral do capitalismo e do conservadorismo. Ambos se expressam atualmente no genocídio da juventude negra e no aumento de casos de violência contra as mulheres negras, vistos também como resultado do racismo e da maior vulnerabilidade dos homens negros frente à retirada de direitos. “O momento é de unidade e de superação de divisões para articular a luta contra esse golpe, que é misógino e racista, para que o adversário não nos vença”.
Rumo ao encontro setorial, reafirmou-se a necessidade de que a secretaria de mulheres seja um espaço de elaboração coletivo da política, de acompanhamento da vida partidária e de ação feminista no partido, construído de forma democrática com todas as mulheres petistas. Um espaço para o balanço da nossa ação política, num esforço de construção de uma política feminista unitária, capaz de fortalecer as mulheres para enfrentar os desafios de construir um partido e um projeto político de esquerda e por isso mesmo feminista.
Como seguimento ao debate, uma reunião para fechar nomes para a chapa que irá concorrer à Secretaria Estadual de Mulheres do PT vai acontecer na próxima segunda-feira, 21 de agosto, às 18h30, no Diretório Municipal do PT, na rua Asdrúbal do Nascimento, 226, no Centro. Divulgue e participe desta iniciativa!