“Nas terras mortas, onde não há pão
os pobres nascem pobres, os ricos nascem ricos
os pobres morrem pobres, os ricos morrem ricos”
RAIVA
A poeira carregada pelo vento que corta, deixa para trás um deserto de areia e pedra, habitat de urubus e animais rastejantes. Cenário árduo. Fonte de sede e de fome. Aqui, ainda aqui nesse lugar, o que separa homens e mulheres, por bens, por nomes, por heranças passadas e posições futuras, se estabelece, condena, humilha, amedronta e mata. Quem não vive em paz, não morre em paz. ‘Raiva’ não é só um belo filme português ‘fora de moda’, como diz seu diretor. É uma homenagem ao pai, à literatura e à fibra da luta pela sobrevivência do trabalhador camponês que enfrenta a um só tempo, a dureza da natureza e a frieza dos homens. Eles têm hinos, têm mitos e carregam histórias trágicas. O rigor dos seus rostos é o espelho de suas almas. O uso da palavra é contido, como munição. Quando há comungam comida, vinho e sempre a tristeza. Podem se odiar, mas nunca trair e se o fazem morrem em vida como páreas errantes. A educação é o exemplo vivo e concreto. O que se faz é o que se ensina. A fome desalimenta o músculo, enfraquece a perna, deixa pelo caminho, joga ao chão e nasce a raiva.
Filme do diretor Sergio Tréfaut – Raiva – foi lançado em 2018 e conta a batalha pela vida de uma família camponesa do sul de Portugal dos anos 50. Inspirado no importante livro português “Seara do Vento” de Manuel da Fonseca lançado em 1958. O livro resgata uma história real da cidade de Beja em que um camponês acusado de roubo de cereais, mata um grande latifundiário da região e posteriormente enfrenta bravamente a polícia e o exército, entocado em sua casa isolada nas montanhas. O diretor fez uma escolha ousada para o papel principal. Segundo Sergio o “protagonista Hugo Bentes não é ator. É um técnico municipal, que trabalha na área de produção e som, e que faz parte de grupos corais alentejanos. Foi assim que o conheci, filmando grupos corais. Ele cresceu no Alentejo rural e representa de certa forma, a herança desse orgulho que resistiu à ditadura nos campos do Alentejo.” O filme em preto e branco, tem fotografia e som impecáveis. Se possível veja nos cinemas.
Veja o trailer legendado aqui : https://youtu.be/haGKC2h7myg
Ramon Szermeta, de São Paulo
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Ficha Técnica. RAIVA de SÉRGIO TRÉFAUT | 2017, 85’, ficção | co-prod: Les Films d’Ici (França) e Refinaria Filmes (Brasil).
Com Isabel Ruth, Leonor Silveira, Hugo Bentes (no papel de Palma), Kaio César, Rita Cabaço, Adriano Luz, Lia Gama, Diogo Dória, Dinis Gomes, Catarina Wallenstein, Marília Villaverde Cabral, José Pinto, Pedro Gabriel Marques, Chico Chapas, João Pedro Benard, Américo Silva, Herman José, Rogério Samora, Catarina Santos
Participação especial: Sergi Lopez e Luís Miguel Cintra
Produtores: Sérgio Tréfaut (Portugal – Faux), Carolina Dias e José Barahona (Brasil – Refinaria Filmes), Serge Lalou e Claire Dornoy (França – Les Films d’Ici)
Argumento e realização: Sérgio Tréfaut
Co-argumentista: Fátima Ribeiro
Fotografia: Acácio de Almeida
Som: Olivier Blanc, Bruno Tarrière
Montagem: Karen Harley.edt
Decoração: Miguel Mendes, Fabrice Ziegler
Guarda-roupa: Lidija Kolovrat, Patricia Dória
Maquilhagem: Emmanuelle Fèvre
Assistentes de realização: Ângela Sequeira, Márcio Laranjeira
Uma co-produção: Portugal – França – Brasil