“Para Derrotar o Neoliberalismo e Construir Uma Nova Ordem Política, Econômica e Social, Não Basta Somente Derrotar Bolsonaro. É Preciso Também Derrotar o Centrão”
Depois de mais de 600 mil vítimas do genocídio de Bolsonaro no trato do covid e mais de 30 milhões de pessoas jogadas na vala da miséria, o Brasil se aproxima de mais uma eleição presidencial.
Todas as pesquisas eleitorais realizadas nos últimos meses apontam um desgaste profundo de Bolsonaro e de seu governo. E nunca as forças políticas neoliberais entraram numa eleição tão desorganizadas e divididas como agora. Um bom exemplo disso foram as patéticas tentativas de se popularizar uma candidatura neoliberal descolada de Bolsonaro, a chamada Terceira Via: um imenso fracasso.
Estamos vivendo uma oportunidade ímpar da esquerda impor uma derrota duradoura ao neoliberalismo. Mas para que isso se concretize, é preciso que, além da eleição de Lula – à partir de um programa anti-neoliberal – construamos as condições políticas e de força para implementar esse programa. Para derrotar o Neoliberalismo e construir uma nova ordem política, econômica e social, não basta somente derrotar Bolsonaro. É preciso que a batalha ideológica e de valores contra o neoliberalismo tenha desdobramentos também na composição do próximo parlamento. É preciso também derrotar o Centrão.
É dependendo da importância que dermos agora a esse desafio e da nossa capacidade organizava para politizar ao máximo a disputa pelo legislativo, que um futuro Governo Lula terá maior ou menor dificuldade de executar seu programa anti-neoliberal de reconstrução da nação. E a composição do Congresso Nacional, o Centrão em particular, pode ser um grande obstáculo a isso.
Foi o Centrão o executor de todas as medidas implementadas nos últimos anos de desmonte de direitos sociais. Foi ele, através de seu principal líder na época, o Deputado Eduardo Cunha, o executor do golpe contra Dilma. Foi o Centrão, depois liderado por Rodrigo Maia e Artur Lira, com o auxílio de MDB, PSDB e afins, que providenciou a retirada de direitos trabalhistas e previdenciários, autorizou a venda de estatais e atendeu interesses estrangeiros com a mudança na legislação do pre-sal.
Foi o Centrão a principal base de sustentação parlamentar de Bolsonaro, garantindo-lhe a não interrupção de seu mandato, apesar das centenas de pedidos impeachment e das ameaças golpistas diárias por parte do presidente. Ele fez tudo isso em troca de níveis inéditos de controle da máquina pública e de acesso a recursos financeiros para alimentar suas práticas clientelistas.
O Centrão nasce e se reproduz à partir da tradição clientelista e autoritária da política brasileira. Uma tradição que fornece os mercenários a serem recrutados para as bancadas do agronegócio, da indústria , do comércio ou do mercado financeiro. Uma verdadeira legião de “advogados” e “despachantes” de todos os interesses das elites que estão presentes nos mais diversos partidos de centro, centro direita e direita. Muitos desses também têm atuação simultânea nas bancadas da bala e da bíblia.
Derrotar o Centrão nao é tarefa fácil. O clientelismo, a cultura política da troca de votos por ternos de futebol, exames médicos, materiais de construção ou simplesmente por dinheiro, além de amplamente enraizada em parcela importante do eleitorado, passou a ter uma nova via de financiamento à partir do mecanismo das emendas parlamentares impositivas e dos bilhões de reais do orçamento secreto. São recursos que financiam pequenas obras ou a distribuição de equipamentos como tratores ou ambulâncias e atendem necessidades concretas das populações das bases eleitorais desses parlamentares.
Esses gastos, muitas vezes, entram em esquemas de corrupção que garantem retorno financeiro tanto para o enriquecimento pessoal de alguns, como para futuras trocas de favores e compras de votos.
A única forma possível de enfrentar essa engrenagem com possibilidade de sucesso é com um trabalho coletivo e massivo por parte do conjunto da esquerda. As organizações populares, partidos, sindicatos, associados, movimentos e, especialmente, os milhares de comitês populares de luta que estão sendo formados, devem fazer um esforço muito maior de politização também das eleições parlamentares.
É preciso que, além do trabalho óbvio de busca de votos e apoios para as candidaturas comprometidas com o programa de Lula e em ajudar Lula a governar, tenhamos também em cada estado, em cada cidade, um trabalho de esclarecimento e denúncia dos parlamentares que participaram do massacre de nossos direitos e dos ataques à soberania nacional e ao patrimônio público através das privatizações.
Devemos ter, ao mesmo tempo, uma campanha de vinculação do voto parlamentar naqueles que vão ajudar Lula e uma anti-campanha contra aqueles que retiraram nossos direitos. Um trabalho simultâneo de apresentação do nosso programa e daqueles que o defendem e de explicação do mal que nos causou e de quem ajudou na aprovação das medidas neoliberais.
Deve ser esforço de educação política de combate à cultura clientelista. De que não tem sentido alguém trocar seu direito à aposentadoria por um exame médico ou por um poço profundo. E de que ninguém está obrigado a cumprir compromisso de votar em quem lhe prestou favores com a a única finalidade de se eleger para depois massacrar os direitos de quem votou nele.
Devemos trabalhar a idéia central de que o dinheiro público é público. Não é do deputado(a) ou do senador(a). O dinheiro é do povo e cabe ao próprio povo decidir onde e como ele deve ser gasto.
Nosso desafio é o de confrontar as práticas vigentes, com toda sua sorte de jogadas e esquemas de corrupção, e instigar a imaginação popular para a possibilidade de novas práticas políticas baseadas nos princípios de transparência e de participação popular, através de mecanismos de orçamento participativo.
Se conseguirmos elevar a esse nível de consciência parcelas expressivas do eleitorado daremos um salto não só no objetivo imediato da sustentação política do futuro governo, mas também passos em direção a um novo país.
Vamos à luta!
Waldemir Catanho – DS Ceará
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