“A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. O que Deus quer é ver a gente aprendendo a ser capaz de ficar alegre a mais, no meio da alegria, e inda mais alegre ainda no meio da tristeza!” (Guimarães Rosa – Grande Sertão, Veredas)
(Uma reflexão ao PT e às Companheiras e Companheiros do 7º Congresso Nacional)
O que vem primeiro à memória agora é uma das cenas memoráveis de Apocalypse Now, filme de 1970 que mostra a barbárie e a degradação humana de qualquer guerra. Na cena, um Marlon Brando obeso, transformado, diz apenas que aquilo era “o horror, o horror…”
O que estamos vivendo hoje no Brasil é só ódio e mediocridade. Não há mais noção de direitos pra quem vive da sua força de trabalho. Todos estão sendo condenados a trabalhar na hora, no lugar, no jeito e no ritmo que quem contratou quiser. Trabalhar até morrer. “É melhor um emprego sem direitos do que emprego nenhum!”, repete sempre o capitão.
Não há mais noção de nação. Pré-sal? Eletrobrás? Geração de energia? Vende-se. Entrega-se.
O diferente é um estorvo. Índios, gays, mulheres, pretos. Todos devem ser deixados à margem.
A democracia é um estorvo. O elogio é para a tortura, além da promessa de um novo AI 5, caso o povo ameace levantar a cabeça.
Como um estorvo também é o meio-ambiente e suas inúmeras regulações e gritos contra florestas pegando fogo e venenos nos alimentos. Também aqui o que importa é o lucro.
Mas esse não é o “fim da história”, muito menos a “vitória final” do capitalismo brasileiro. Afinal, a vida “esquenta e esfria”, como muito bem nos disse Guimarães Rosa. Mas também não há como naturalizar uma tragédia como essa que alcançará filhos e netos. Não há como simplesmente esperar chegar 2022, enquanto diariamente se rouba um pedaço do futuro de 90% da população. O momento exige de todos os lutadores e lutadoras sociais do país um patamar muito mais elevado de luta. Um patamar onde, além da máxima unidade possível, tenhamos um confronto global e articulado de visões de mundo, de valores, de sociedade e de estado.
Fora Bolsonaro porque o afastamento de Dilma foi uma fraude, um golpe. Assim como também foi a prisão e a proibição da candidatura de Lula em 2018 para impedir o povo de votar no candidato que liderava todas as pesquisas. Tudo feito para permitir o massacre de direitos que estamos assistindo. Não há legitimidade neste governo.
Bolsonaro sintetiza o oposto de absolutamente tudo que defendemos e o Fora Bolsonaro deve buscar esse confronto. Se eles defendem a ditadura, nós defendemos os mais amplos mecanismos de radicalização da democracia, de participação popular e de transparência. Nossa democracia não deve nunca se confundir com o sistema podre que há mais de 500 anos serve apenas às nossa elites. Se eles defendem a tortura, nós defendemos, a liberdade, os direitos de todos os seres humanos. Se eles endeusam o mercado, nós endeusamos a solidariedade. Se eles defendem o lucro, nós defendemos a vida. Essas são nossas ideias-força e é à partir delas que definimos um programa e uma plataforma de lutas.
Devemos ter a ousadia de apontar para um futuro diferente do passado. Só assim vamos ter muito mais chances de seduzir e conquistar parcelas majoritárias da população para nosso projeto e não cair na armadilha de simplesmente substituir um mandatário grotesco por um alguém civilizado, mas que estará a serviço das elites.
A libertação do ex-presidente Lula é uma oportunidade histórica. A enorme energia e as esperanças despertadas agora devem ser canalizadas para uma disputa que não é somente de projetos. Mas essencialmente de luta para derrotar um regime de exclusão, morte e obscurantismo através da realização de novas eleições e de uma nova assembleia constituinte.
Waldemir Catanho: Democracia Socialista – PT Ceará