Democracia Socialista

Força de projetos progressistas da América Latina será medida em novo ciclo eleitoral

Do Opera Mundi

Depois de anos de governos progressistas em alguns dos países latino-americanos, um novo ciclo de eleições se aproxima e coloca em aberto os rumos políticos do continente. Apesar de diferenças em cada um dos países, as próximas votações devem possibilitar a análise da força desses projetos, seja por sua continuidade, ascensão ou queda.

Argentina

O governo de Cristina Kirchner passará por uma importante prova no dia 27 de outubro, quando os argentinos voltam às urnas para escolher seus representantes legislativos na Câmera de Deputados e no Senado. O resultado será decisivo para os dois próximos anos de governo da presidente, que, sem maioria parlamentar, poderá ter grandes dificuldades em aprovar novas reformas progressistas, incluindo a esperada reforma constitucional.

Nas primárias realizadas em agosto deste ano, nas quais foram decididos os candidatos que poderão concorrer à eleição legislativa, Kirchner e sua coalizão, FPV (Frente para Vitória), conquistaram a maioria dos votos (26%), mas perderam em províncias muito importantes, como Buenos Aires. Além de principal centro econômico e político, Buenos Aires concentra 37,3% dos eleitores e tem 35 cadeiras de deputados. Cristina também perdeu em sua Província, Santa Cruz, governada há anos pelo kirchnerismo.

No próximo pleito, serão eleitos 127 deputados para um período de quatro anos e 24 senadores para um período de seis anos. Apesar do sucesso nas primárias, ainda não está claro se a cirurgia de última hora de Kirchner irá influenciar os eleitores.

Venezuela

Na Venezuela, novas eleições municipais vão acontecer em dezembro, apenas nove meses depois da vitória de Nicolás Maduro. A escolha será um grande desafio ao novo presidente, pois os 335 cargos locais são utilizados pela oposição venezuelana para colocar entraves ao projeto chavista.

Preocupado com o novo pleito, Maduro indicou personalidades venezuelanas como candidatos à prefeitura de cidades estratégicas que são lideradas por opositores. Entre as “estrelas” nomeadas pelo presidente, sem consulta prévia a legenda governista PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela), estão dois jogadores de beisebol consagrados no país, um famoso locutor e ator de novelas e um apresentador de televisão.

A oposição venezuelana também se mostrou preocupada com a eleição municipal, que definiu como um “plebiscito”. Pois, além de perdedora do pleito presidencial, saiu em grande desvantagem da escolha de representantes estatais, quando o chavismo ganhou em 20 dos 23 estados. A vitória nas prefeituras é fundamental para sua continuidade.

Honduras e Chile: queda da direita?

Enquanto forças consideradas progressistas procuram assegurar a continuidade de sua administração em alguns países, no Chile e em Honduras, as eleições abrem a possibilidade do retorno de grupos políticos retirados pela direita.

Eleições primárias realizadas em junho, no Chile, confirmaram a tendência de uma vitória de Michelle Bachelet que conquistou mais de 1,5 milhão de votos, 73% do total. A candidata irá disputar o pleito presidencial do dia 17 de novembro com o conservador e ex-ministro Pablo Longueira, apoiador do atual mandatário, Sebastián Piñera

Bachelet, que governou o país entre os anos de 2006 e 2010, ganhou o apoio de diferentes grupos da esquerda, incluindo do Partido Comunista, apesar de muitas críticas à sua primeira administração. Uma nova coalizão, chamada de Nova Maioria, foi formada com a reunião dessas novas forças, substituindo a antiga legenda Concertação.

Ainda assim, a ex-presidente não conquistou apoio de grande parte do movimento estudantil chileno que, desde os protestos de 2011, acusa seu governo de manter o sistema educacional da ditadura com reformas mínimas.

Em Honduras, existem perspectivas de grupos ligados ao ex-presidente Manuel Zelaya, deposto por um golpe militar em 2009, vencerem o pleito presidencial do dia 24 de novembro.  O partido Liberdade e Refundação, fundado em junho de 2011 por forças de esquerda, lidera as pesquisas com a candidata Xiomara Castro, esposa de Zelaya. Segundo sondagem realizada pelo instituto Cid Gallup, Castro aparece com 28% das preferências.

Atrás dela, estão o apresentador de televisão Salvador Nasrall, do PAC (Partido Anticorrupção) com 21% das intenções de voto, o atual presidente do congresso, Juan Orlando Hernández, do PN (Partido Nacional), com 18%, e o candidato do PL (Partido Liberal), Mauricio Villeda, com 14%.