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Freitas: um indivíduo na história

Ronaldo Zulke*

21/09/2011. A origem do movimento sindical no Brasil remonta ao século 19, quando o centro agrário da economia do país era ainda o café. Nessa época, houve a substituição da mão de obra escrava pelo trabalho assalariado, o lucro do café transferiu-se para a indústria. Não existia então nenhuma legislação de proteção aos trabalhadores. Diante desse quadro de abandono pelo Estado, os primeiros passos organizativos dados pelos trabalhadores foram no sentido de articular “sociedades de socorro e ajuda mútua”. Sem previdência social, os trabalhadores demitidos na velhice eram jogados na mendicância pois inexistia o estatuto da aposentadoria. Cabia a eles mesmos organizarem a assistência aos seus companheiros. O segundo passo foi decorrência do desenvolvimento industrial por ramos de atividade, o que deu origem aos “sindicatos”. Nada disso ocorreu sem muita luta das classes trabalhadoras e sem o papel ativo de militantes que assumiram no chão da fábrica o papel de líderes e, na história, o papel de heróis na construção de direitos sociais e políticos para o conjunto do povo brasileiro.

O Sindicato dos Metalúrgicos de Canoas foi fundado em 1° de setembro de 1960, depois das intensas mobilizações que ocorreram após a morte de Getúlio Vargas. A cidade já era um importante pólo industrial metal-mecânico e concentrava um grande contingente de operários, exigindo uma entidade de representação própria: o Sindicato dos Metalúrgicos de Porto Alegre e o Sindicato de Metalúrgicos de São Leopoldo, surgidos antes, já não podiam abrigar esta nova base social na região. Oficialmente, foi preciso esperar até 1° de maio de 1963 para que o Ministério do Trabalho reconhecesse o novo sindicato. As dificuldades para sedimentar o movimento sindical foram maiores à medida que Canoas era considerada “área de segurança nacional”, em razão da Petrobrás e dos quartéis do Exército e da Aeronáutica instalados no município.

Sob a ditadura pós-64, o que era difícil tornou-se uma tarefa perigosa por implicar o risco da prisão e da constante perseguição política. Nem assim os trabalhadores renderam-se. Na década de 70, em São Paulo, um ex-retirante conhecido como Lula mobiliza os metalúrgicos em torno de reivindicações econômicas e em nome da liberdade de organização sindical. Nos 80, no Rio Grande do Sul, um lanceiro negro chamado Paim clama ao lado de outros insurgentes por um sindicato combativo, que rompesse com o assistencialismo. A história, no entanto, não foi feita apenas por aqueles que posteriormente alcançaram, com a força do voto popular, a condição de presidente ou senador da República.

A história também foi feita por mentes e corações que não inscreveram seu nome na política institucional, mas que o deixaram esculpido em todas as lutas pela democratização do país, pela dignidade do trabalho, pela solidariedade de classe, pelos ideais de uma sociedade com justiça social. Entre estes combatentes generosos, aos quais o poeta Berthold Brecht referia-se como “indispensáveis”, figura agora em nossa memória o recém falecido companheiro João Jorge de Freitas Lima, o Freitinhas, ex-presidente do Sindicato de Metalúrgicos de Canoas, cuja vida servirá doravante de exemplo às novas gerações de cidadãos no Rio Grande, no Brasil e no mundo.

Ronaldo Zulke é Deputado federal (PT/RS)

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