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II Marcha contra o Racismo, Pela Igualdade e a Vida

Veja a seguir o manifesto da Marcha Zumbi +10 que acontece nesta terça (22/11) em Brasília. Com informações de Adriano Bueno da setorial de antiracismo da DS.

Na década de 70, retomando uma longa e rica trajetória de lutas, o movimento negro sai às ruas para denunciar o desemprego e o subemprego do negro, vítima do racismo, da discriminação racial e da violência policial e lutar por melhores condições de vida para a população negra brasileira.

Um dos marcos dessa retomada de luta é a criação do Dia Nacional da Consciência Negra, no dia 20 de novembro. Nesse dia, no ano de 1695, foi assassinado Zumbi, a principal liderança do Quilombo de Palmares, um território livre, símbolo da resistência ao regime escravista e da consciência negra de homens e mulheres como Dandara e Luiza Mahin, em busca da liberdade e da construção de uma nação.

Em novembro de 1995, no ano das comemorações dos trezentos anos da imortalidade de Zumbi dos Palmares, o movimento negro brasileiro realizou a Marcha Zumbi dos Palmares – Contra o Racismo, pela Igualdade e a Vida. Uma manifestação que conseguiu reunir cerca de trinta mil pessoas, militantes do movimento negro e de outros movimentos sociais no dia 20 de novembro daquele ano em Brasília.

A marcha influenciou os rumos da luta contra o racismo em nosso país. Nos anos seguintes o movimento negro é fortalecido e a questão racial negra passa a ser vista como um dos impasses nacionais a serem solucionados para a construção de um Brasil sem racismo, justo e igualitário.

No período de 1978 a 2005, as mulheres negras avançaram na construção de uma identidade dentro do movimento negro e feminista – lideranças como Lélia Gonzáles, Beatriz do Nascimento e outras, levaram a discussão da mulher negra para o conjunto das entidades. Crescemos na luta contra a violência doméstica, nas políticas públicas buscamos nossos direitos exigindo acesso à educação, à saúde discutindo nossas especificidades.

A luta contra a intolerância religiosa tem sido um dos marcos para discutir o racismo neste país, a hipocrisia ao se determinar que as religiões de matriz africana são satânicas, mostra a manipulação e a introjeção do racismo, aqui protagonizados por evangélicos que controlam a mídia eletrônica, apesar do silêncio das autoridades, essa prática tem sido enfrentada por ações unitárias das religiões de matriz africana.

Ao longo desses anos, as lutas pela igualdade de oportunidade no mercado de trabalho, foram sendo incorporadas pelo movimento sindical, e varias comissões contra a discriminação racial foram criadas nas centrais sindicais e nos sindicatos de trabalhadores.

Os quilombolas têm se articulado nacionalmente para exigir títulos de posse às terras, políticas econômicas, educacional e cultural em seus territórios. A juventude negra, especialmente o movimento hip-hop, tem tido avanços significativos na organização da luta contra a violência racial, desemprego e as péssimas condições de vida da população da periferia, através de atividades culturais, manifestações públicas e utilização de mídias alternativas (rádios comunitárias e fanzines). A luta por cotas e ações afirmativas tem tido participação decisiva da juventude negra. Nos governos municipais, estaduais e federal são criados organismos de combate ao racismo e para a implementação de políticas para a promoção da igualdade racial. A criação da Secretaria da Promoção da Igualdade Racial – SEPPIR, com status de ministério no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, representa uma resposta do Estado Brasileiro às demandas históricas da luta anti-racismo.

Apesar do avanço da luta do movimento negro, continuamos na base da pirâmide social, com os piores empregos e salários; menor índice de escolaridade; menor acesso a saúde; somos as vítimas preferencial da violência do Estado; sofremos com a pobreza e vivemos num país com profunda desigualdade econômica e social racializada.

O processo de genocídio da população negra no Brasil atingiu níveis alarmantes através da proliferação do narcotráfico que tem levado à morte grande contingente de jovens negros, através da violência policial e ação dos grupos de extermínios deixando à mostra que o Estado Brasileiro nunca desistiu de seu projeto de branqueamento, arquitetado em finais do século XIX.

A superação dessa situação exige mudança na política econômica do atual governo, com o objetivo de distribuir renda e enfrentar a pobreza, estacando o vertiginoso enriquecimento do setor financeiro. O neoliberalismo implantado no Brasil tem significado para população negra atraso político e social. O enxugamento do Estado significa a desqualificação da educação e degradação da saúde pública. Doenças que já se encontravam sobre certo controle voltam a ameaçar a população negra e pobre, como tuberculose, cirrose, desnutrição e a AIDS.

Manifestamos nosso repúdio às práticas de corrupções que assolam o País. Acreditamos que a corrupção fere duramente princípios dos quais não abrimos mão: ética, respeito e correção com o dinheiro público. Não aceitamos que dinheiro da educação, saúde, moradia seja desviado a interesse privado, por isso exigimos criteriosa apuração e punição dos culpados, acompanhada de uma profunda reforma política que rompa com o sistema político-eleitoral vigente.

Diante dessa realidade e ciente de que se faz necessário a ação política do movimento negro e presença nas ruas lutando contra o racismo, por mudanças reais no nosso pais, convoca para o DIA 22 DE NOVEMBRO, data em que celebramos os noventa e cinco anos da Revolta da Chibata, comandada por João Cândido, o marinheiro negro, a II Marcha Zumbi + 10 – Contra o Racismo, Pela Igualdade e a Vida.

Uma marcha que além de fazer um balanço das conquistas e avanço obtidos ao longo desses dez anos, tem como objetivos exigir do Estado Brasileiro o reconhecimento do conceito de reparação como eixo principal para implementação de políticas de combate ao racismo e de promoção da igualdade racial, acompanhamento as orientações da Declaração e do Programa de Ação da III Conferencia Mundial Contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlatas.

Uma marcha que vai exigir do Governo Lula e do Congresso Nacional, a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial e do Projeto de Cotas nas Universidades, agilização da titulação e regularização das terras quilombolas.

Uma política de combates ao genocídio da população negra, vitimando especialmente as mulheres e a juventude negra. A necessidade da ampliação do combate à intolerância religiosa em relação às religiões de matriz africanas.

A II Marcha contra o Racismo, pela Igualdade e a Vida é uma iniciativa do movimento negro Brasileiro e se constitui num ato de indignação e protesto contra as condições sub-humanas em que vive a população negra deste país, em função dos processos de exclusão social determinados pelo racismo e pela discriminação racial presente em nossa sociedade.

Uma marcha que será integrada por todos os setores da sociedade dispostos a fortalecer um amplo movimento por mudança que consiga concretizar os sonhos por soberania e preservação de nossos territórios, de nossa religiões, de nossa cultura, de nossas identidades e orientação sexuais, de nossos projetos de vida por um novo Brasil sem racismo, justo e igualitário.

Assinam o manifesto:

Comitê Impulsor Zumbi + 10 – II Marcha contra o Racismo, pela Igualdade e a Vida;
Agente Pastoral Negro do Brasil (APNS);
Comissão Nacional Contra Discriminação Racial da Central Única dos Trabalhadores (Cncdr/CUT);
Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen);
Fórum Nacional de Mulheres Negras;
Movimento Negro Unificado (MNU);
Pastoral Afro;
Setorial de Negros e Negras da Central de Movimento Populares (CMP);
União de Negros Pela Igualdade (Unegro);
Religiões de Matriz Africanas;
Juventude Negra e Quilombolas;
Centro de Articulação das Populações Marginalizadas (CEAP);
Comitês dos estados: RS, SC, SP, MG, ES, RJ, MS, MT, GO, DF, TO, BA, SE, PE, PI, CE, MA, RO PA, AP, AM.

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