É necessária uma dinâmica de cooperação entre os povos para o progresso da humanidade e a integração econômica, política, social e cultural, visando à formação de uma comunidade de nações. Sendo assim, é sugerida a participação das entidades e das pessoas no processo de contribuir de forma efetiva para a solidariedade entre os povos.
Cledisson Júnior
O processo de integração regional tem como referencial o princípio da liberdade e se manifesta na reciprocidade submetendo os estados, as instituições e as pessoas a interagirem e se integrarem umas com as outras.
A integração regional possibilita que todos e todas tenham uma vida melhor da que teria cada um dependesse apenas de seus próprios esforços.
A juventude negra na Iberoamérica
A Comunidade Iberoamericana é composta pelos 22 países de língua espanhola e portuguesa da América Latina e da Península Ibérica; representando cerca de 10% do planeta em termos territoriais, demográficos e econômicos.
Os afrodescendentes, somente na América Latina, representam por volta de 30% da população, experimentam níveis desproporcionais de pobreza e exclusão social e continuam a enfrentar graves discriminações em todas as esferas. Apesar da existência de quadros jurídicos nacionais e da criação de várias instituições para garantir o exercício dos direitos das populações afrodescendentes, a implementação de leis e regulamentos é incipiente e há ainda muito a ser feito a esse respeito na região. Em particular, falta aprofundar o reconhecimento político e cultural de seus valores, aspirações e estilos de vida, e deixar para trás uma invisibilidade cultural que aumenta a exclusão sócio-econômica, criando mais desigualdade, segmentação social e cidadania incompleta.
Criado a partir da reunião técnica sobre juventude indígena e afrodescendente realizada em Antígua (Guatelamala) no ano de 2007, e devido aos esforços da Organização Iberoamericana de Juventude (OIJ) e da Agência Espanhola de Cooperação Internacional – AECID, a Rejina (Rede Iberoamericana de Jovens Indígenas e Afrodescendentes) nasceu com o objetivo de contribuir para a garantia dos direitos individuais e coletivos, a partir da fixação de mecanismos e pela adoção de medidas que incidam em políticas, planos, programas e projetos orientados a melhorar a qualidade de vida dos jovens indígenas e afrodescendentes na região iberoamericana.
Juventude unida para combater o racismo
Cada vez mais, a Universidade brasileira adquire novas colorações em seus quadros discentes. A entrada cada vez maior de negros, negras e indígenas, fruto de políticas que visam à inclusão (Prouni e Cotas) daqueles que historicamente foram excluídos do processo educacional no país, vem alterando a realidade da Universidade e também o seu olhar sobre a sociedade e o mundo.
Durante o planejamento de gestão da UNE realizado em outubro de 2009, a diretoria de Combate ao Racismo apontou para a importância de aproximação com os diversos segmentos do movimento social negro, em especial, os que abordam a temática juvenil.
Para tanto, esse processo consistiria em uma plataforma política que trouxesse para dentro da União Nacional dos Estudantes bandeiras históricas de reivindicação de emancipação do povo negro.
Desse modo, a partir de uma concepção internacionalista que busca recuperar valores de solidariedade diretamente vinculados às lutas da juventude negra e indígena em curso, cada vez mais compreendemos e avaliamos a conjuntura que vivemos, fortalecendo, assim, o diálogo com a diversidade e fomentando caminhos que nos aproximem do processo de transição a uma sociedade e um mundo mais justo.
Reflexo desse momento político e dos diálogos que estamos implementando, a diretoria de Combate ao Racismo da UNE é chamada para dentro dos movimentos sociais negros para discutir o papel da juventude negra frente aos seus inúmeros desafios e para a construção de diálogos possíveis para a sua superação.
Seminário internacional
A convite da Secretaria Geral Iberoamericana (Segib), da OIJ, da Rejina e da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do governo brasileiro, participamos, em conjunto com o Fórum Nacional de Juventude Negra (Fonajune), juventude quilombola (Comunidade de Conceição das Crioulas/PE) e coletivo de jovens mulheres negras (Negras Sim!), na cidade de Cartagena das Índias, na Colômbia, do II Seminário Iberoamericano de Jovens Líderes Indígenas e Afrodescendentes, com o objetivo de definir as ações para a formação e capacitação de jovens líderes indígenas e afrodescendentes de toda a região iberoamericana.
Nesse espaço, contribuímos com o importante debate sobre a necessária presença de negros, negras e indígenas nos espaços de formação e de poder (como a universidade), e da necessidade de políticas públicas que garantam esse acesso.
Ao final do seminário, a diretoria de Combate ao Racismo da UNE foi convidada a se integrar à Rejina, fortalecendo mais esse instrumento na luta por uma sociedade iberoamericana livre do racismo e com uma juventude negra e indígena empoderada.
Em nosso planejamento de gestão, apresentamos o internacionalismo como um de nossos nortes estratégicos. A luta da juventude negra e indígena, a cada dia, terá objetivos comuns em todo o mundo. A solidariedade entre os povos, e em especial, entre a juventude negra e indígena, é um dos nossos principais objetivos a serem alcançados.
* Clédisson “Jacaré” Júnior é diretor de Combate ao Racismo da UNE e membro do coletivo nacional antirracismo da Democracia Socialista.