Por Rosana Sousa e Rosane Silva *
Há 10 meses foi publicado nesse mesmo espaço um artigo assinado por mim e pelo Vagner Freitas com o seguinte título “Paridade entre homens e mulheres no PT é um exemplo a ser seguido”.
De lá pra cá o debate sobre paridade na CUT se espalhou por todo país. A 13ª Plenária Nacional aprovou a proposta de que a Central intensificaria o debate sobre a paridade entre homens e mulheres nas instâncias das Direções Estaduais e Nacional por meio de atividades especificas e materiais de apoio, desde a base até o nível nacional. Foi realizado um seminário nacional. A paridade foi discutida em todos os CECUT´s. Evidente que ao tocar no tema das relações de poder, em lugares de tomada de decisões, apareceram resistências que demonstram a existência de um arraigado machismo ou resistência ao compartilhamento do poder, mas podemos dizer sem medo de errar que esse tema passou a ser apropriado, a ser debatido por mulheres e homens de todas as correntes políticas. E é justo reconhecer que desde o início contamos com o apoio de vários homens nessa empreitada.
Essas ações, esses movimentos contribuíram para dar mais consistência aos argumentos e debates. Hoje é senso comum que paridade não é apenas uma questão numérica. É uma política que ao ser aplicada terá como resultado a construção da igualdade, porque implica em reconhecer que as mulheres são discriminadas e tratadas de forma desigual no trabalho, na vida e no movimento sindical. Esse reconhecimento exigirá mudanças nas práticas que afastam as mulheres das atividades sindicais e na incorporação de uma nova concepção de trabalho, que considere o trabalho realizado pelas mulheres no âmbito familiar e doméstico na definição da política sindical.
A maioria das plataformas e discursos incorpora a defesa da igualdade entre mulheres e homens, mas a distância entre o discurso e a prática é grande. A ausência das mulheres nos espaços de poder faz com que pautas que atingem diretamente a vida das trabalhadoras não sejam tidas como prioridade. As mulheres não querem ser representadas pelos homens. Querem assumir para si a condução de sua própria história. Elas têm autoridade política e legitimidade enquanto sujeito histórico para apresentar suas demandas.
Ainda é um desafio para a CUT fazer cumprir o estatuto e aplicar a política de cotas de gênero para os órgãos diretivos da estrutura vertical, as delegações aos congressos e outros âmbitos de deliberação, a composição das delegações que representem a Central em eventos externos, etc.
Ao mesmo tempo, é tarefa de todo e toda sindicalista garantir a transversalidade de gênero em todas as políticas, atividades e espaços da CUT, para que nossa central assuma a cada dia mais, este espaço como um espaço dos trabalhadores e das trabalhadoras.
Situações a serem enfrentadas
É necessário que a CUT assuma que as desigualdades de gênero e a divisão sexual do trabalho na sociedade são empecilhos ao pleno desenvolvimento e autonomia das mulheres e incorpore a luta por creches e escolas de período integral como uma luta prioritária
Atuar para eliminar práticas que excluem ou dificultam a participação de mulheres no movimento sindical tais como machismo e horário de reuniões e colocar em prática políticas para incentivar a participação de mulheres nos lugares de decisão e representação e dar-lhes apoio material e político à sua organização.
Se nós, na CUT, queremos de fato modificar a relação de poder no movimento sindical devemos considerar a paridade entre homens e mulheres fator fundamental para iniciarmos uma mudança na concepção política e sindical.
Reconhecer que Liberdade e Autonomia se constrói com Igualdade exigirá de delegados e delegadas do 11º CONCUT o compromisso em incorporar a igualdade de sexo na composição das direções das CUT ´s estaduais e da Nacional e inserir essa resolução nos estatutos desde já, para demonstrar o real compromisso com a democracia e a igualdade.
* Rosane Silva é Secretária Nacional da Mulher Trabalhadora da CUT e Rosana Sousa é Secretária Nacional de Juventude da CUT.
Comente com o Facebook