Luizianne Lins
Peço emprestado o título da obra de Ignácio de Loyola Brandão porque é o sentimento que me ocorre ao ver as últimas medidas do governo golpista.
Por decreto, Temer extinguiu a Reserva Nacional de Cobre e Associados, a Renca. Não é uma área pequena nem qualquer. Na Amazônia, fica entre o Amapá e o Pará. É do tamanho de uma Dinamarca. Rica em cobre e ouro.
Desde 1984, a área teve bloqueadas as atividades de mineração. Lá existem 7 unidades de conservação e duas indígenas. Mas com a decisão de Temer, vão perder não somente os índios, a fauna e a flora do lugar. Mas o planeta como um todo que verá serem favorecidos ruralistas, grileiros e mineradoras nacionais ou estrangeiras. Uma festa pras motosserras.
Insistindo na destruição e entrega de nossas riquezas, o governo anunciou a venda da Eletrobras. Quem comprar, provavelmente chineses ou americanos, vai por no bolso a maior empresa de geração de energia elétrica da América Latina: dona da Chesf, de Furnas e de metade do capital de Itaipu. É mais um crime que trará também aumento nas contas de energia.
A existência de empresas públicas se justifica pelo interesse público. O programa “Luz para todos”, que a Eletrobras foi executora, só existiu por esta ser uma empresa pública. Com o programa, mais de 3 milhões de famílias pobres aposentaram suas lamparinas e passaram a usar geladeiras. O acesso à eletricidade significou melhor qualidade de vida e geração de renda. Significou redução das desigualdades.
É por conta do interesse público que o parque hidroelétrico dos EUA é estatal e nunca foi privatizado. Lá, o interesse público diz que esses recursos são estratégicos, de interesse nacional e devem ficar nas mãos do governo. Porque, então, vamos vender pra eles?
Na venda o governo espera arrecadar R$ 20 bilhões. Pois o IPEA, órgão do governo, estima em mais de R$ 43 bilhões por ano o que seria arrecadado com uma cobrança de 15% sobre a renda dos lucros e dividendos dos donos e acionistas de empresas. Por essa renda hoje eles não pagam nada, enquanto um trabalhador que ganha R$ 6 mil/mês paga 27,5% de imposto de renda.
O momento nos cobra uma reação. É o futuro do país que está sendo vendido por um governo absolutamente ilegítimo e que está construindo uma nação de excluídos, sem garantias de direitos sociais mínimos. Uma nação de luz para poucos.
*Luizianne Lins, é Deputada Federal – PT/Ceará.