Para Raul os filiados do PT de todo o país darão uma respostas à atual crise vivida pelo partido. E essa resposta virá no próximo mês de setembro, durante o Processo de Eleições Diretas (PED) do PT.
Para o ex-prefeito de Porto Alegre, a raiz da crise que atinge o PT está no tipo de política de alianças adotada nos últimos anos pelo partido. “O atalho das alianças fez o PT perder nitidez política. Ficamos parecidos com as outras siglas.”
Raul Pont esteve no último fim de semana em Curitiba, onde lançou a candidatura do deputado federal Dr. Rosinha —também integrante da DS— à presidência do diretório do PT no Paraná.
Questionado sobre as chances das correntes de esquerda na eleição para a presidência nacional do partido, Raul Pont afirmou que a possibilidade de 2º turno na disputa é “concreta”.
“Milhares de filiados já não vêem mais a política de alianças como uma questão menor, secundária. Estão vendo porque nós sempre dizíamos que essa política não ia dar certo”, avalia Pont. “Pela crise que vive o Campo Majoritário, que sequer definiu sua candidatura, a nossa chance [da esquerda petista] no PED é concreta.”
Além de Pont, os candidatos Valter Pomar, Plínio de Arruda Sampaio e Maria do Rosário já fecharam um acordo de apoio mútuo, num eventual segundo turno, contra o candidato a ser definido pelo Campo Majoritário —a substituição de José Genoino, que seria candidato à reeleição, ainda não foi oficializada.
Partido eleitoral x socialismo – O ex-prefeito da capital gaúcha afirmou ainda que a manutenção de um partido meramente “eleitoral” não condiz com o caráter socialista do PT.
“Queremos construir uma sociedade alternativa ao capitalismo. E criar uma referência de socialismo exige um trabalho de construção, de núcleos, que priorize o debate. E não um partido eleitoral”, afirmou Raul Pont.
“O PT se transformou num partido que se endivida para disputar eleições, fato que nos rebaixa, nos iguala aos outros.”
Cicatrizes – Para o deputado federal Dr. Rosinha (PT-PR), o PT teve {mosimage}sua imagem “profundamente arranhada” ao longo dos últimos meses.
“O PT foi arranhado, e sairá desta crise com cicatrizes”, afirma Dr. Rosinha. “Essas cicatrizes serão mais ou menos profundas, a depender do resultado das eleições internas de setembro.”
Na opinião do deputado paranaense, se a atual direção do partido for mantida, tal processo de “cicatrização” será “lento”.
Mudar o governo Lula – Pont afirmou que os petistas não podem renunciar ao patrimônio construído durante mais de 25 anos pelo PT. “Vamos sobreviver”, disse. “Mudando o PT, vamos dar um passo decisivo para mudar também o governo.”
O candidato à presidência do partido voltou a defender o afastamento do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que responde a inquérito perante o STF. Disse ainda que a reeleição de Lula depende de uma mudança na política econômica do governo. “Com a atual política econômica, seremos derrotados”, sentenciou.
“O sentimento da maioria dos filiados é de que a política de juros altos está equivocada. Já são mais de dois anos e meio de transição, desde o fim do governo FHC. Chega de transição.”
Erros e propostas – Para Raul Pont, o maior erro do governo Lula foi ficar refém de um Congresso Nacional “extremamente conservador”, que “aplaude uma política econômica anti-popular e anti-nacional”. “O governo não teve a ousadia de buscar uma participação direta da população.”
Quanto aos erros do PT, afirmou que o Campo Majoritário deu autonomia demais para seus representantes na executiva do partido, entre eles Delúbio Soares. “O Campo Majoritário autonomizou os cargos da executiva nacional. A instância partidária foi alijada das informações.”
Entre as propostas defendidas por Raul Pont estão a convocação de assembléias populares nas capitais para discutir assuntos como o Orçamento da União, o fim das emendas parlamentares individuais, a aprovação da reforma política e a rejeição das alianças petistas com partidos de direita.
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