Carioca, o estudante de Educação Física da Universidade do Rio de Janeiro (UFRJ), Mitã Chalfun, nasceu no bairro Oswaldo Cruz, conhecido nacionalmente como berço do samba.
Por ser filho de militantes, conheceu muito cedo o movimento estudantil, e hoje, aos 22 anos, está a poucos dias de tomar posse à frente da vice presidência da UNE, no próximo dia 1º de agosto, na FEA-USP.
Em bate papo com o site da UNE, Mitã revela ser fã de Raul Seixas e leitor assíduo de Paulo Freire e Karl Marx. Sua trajetória na vida política e os desafios e expectativas do novo cargo são alguns dos temas abordados na entrevista.
‘’Acredito que o grande desafio dessa gestão é aprofundar e radicalizar a democracia no nosso país, aumentando a participação popular e construindo uma nova cultura política’’, diz.
Confira na íntegra:
Como conheceu o movimento estudantil e o que o motivou a se tornar militante?
Eu, desde criança, participo da militância, sou filho de dois militantes, meu pai, um dos fundadores do PT e do Centro Comunitário Paulo da Portela (CCCP) e minha mãe, militante do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (SEPE). Como dizem filho de peixe, peixinho é… (risos). Meus pais militaram e militam muito, por isso já nasci militando e não poderia ser diferente. Primeiramente, militei em movimentos sociais, meu pai, como já havia mencionado, foi um dos fundadores do Centro Comunitário Paulo da Portela e Pré-vestibular Comunitário de Oswaldo Cruz, localizado em Oswaldo Cruz e, assim, desde sua fundação, participo dos projetos. Militei também durante muito tempo na igreja católica, na PJ e nas CEB’s – Comunidades Eclesiais de Base, fruto da Teologia da Libertação. O que me motivou a militar foi a esperança de um mundo melhor, solidário, igualitário, onde todos(as) possam ter as mesmas oportunidades.
Qual foi sua primeira passeata ou ação já como militante?
Foi a Conferência Nacional de Educação e o Encontro da Juventude do PT.
Você teve que conciliar sua vida política com os estudos e com o trabalho, como foi ?
Eu precisei conciliar minha militância com os estudos, sim. De uma maneira geral, acredito que a militância e os estudos caminham juntos. O estudar é conhecer e participar da universidade em todas as suas esferas. Compreendo que a militância é essencial para uma boa formação universitária. Entender isso é difícil, mas muito importante para obter uma nova visão da universidade, que vai para alem de assistir aula para sair com um diploma.
E o lazer? Como fica a diversão na vida do militante?
A vida de militante é muito agitada e quase não tenho tempo vago, o tempo que tenho é para sair com a família, namorada e amigos. Gosto de ir a shows, ao cinema e também me dedico muito à leitura.
Que tipo de música e leitura?
A minha trajetória com os livros começa com as leituras de Leonard Boff e Frei Betto, já que participava das CEB’s e do grupo fé e política. Me interesso por livros que falam sobre sociedade, militância e educação. Gosto muito do Paulo Freire e Marx. Curto músicas da MPB e de rock, entre eles, Raul Seixas.
Desde a sua entrada no movimento estudantil até os dias de hoje, quais lutas você destacaria? Quais te marcaram mais?
Foram muitas as lutas que me marcaram. Porém, dentre elas, até o momento, foi a conquista das cotas para o vestibular e a implementação do ENEM como acesso a UFRJ. Digo estas por acreditar que essas vitórias foram importantíssimas para uma nova configuração da universidade. Participei intensamente das mobilizações que ocuparam o Conselho Universitário no dia da votação. Me emocionou muito por ser uma bandeira histórica dos pré-vestibulares comunitários que participava antes de entrar na universidade.
Agora, como vice-presidente da UNE, você acredita que terá grandes desafios? Quais?
Acredito que o grande desafio é aprofundar e radicalizar a democracia no nosso país, aumentando a participação popular e construindo uma nova cultura política, tanto nos movimentos sociais, quanto nos movimentos partidários. Nesse sentido, o grande desafio que vejo é conseguir construir uma reforma política que acabe com o financiamento privado de campanha e a democratização da mídia tornando-a democrática e popular.
Qual a sua expectativa para essa gestão? Quais pautas você pretende destacar?
O grande desafio é conseguir alinhar essas pautas gerais a um Plano Nacional de Educação (PNE) a serviço do povo brasileiro. As bandeiras da regulamentação do ensino superior privado e a conquista dos 10% do PIB para a educação pública seriam as maiores vitórias para a nossa gestão e geração.
Qual pauta você considera a cara dessa gestão?
A cara dessa gestão será lutar para construir uma universidade democrática e popular onde não tenha mais departamentos, onde todos os conselhos sejam paritários, onde a gente consiga debater a proposta curricular dos cursos com toda a sociedade para que, assim, a universidade se torne socialmente referenciada ao povo brasileiro. Avalio que a universidade brasileira começou a se popularizar, a se enegrecer nos últimos anos. Porém, ainda temos uma universidade conservadora e arcaica em sua construção interna.
Muitas pessoas ainda lembram com certo saudosismo da geração dos “caras-pintadas” em 1992, dizendo que a geração atual não se preocupa mais com política. Você acredita nessa afirmação? Os recentes protestos que ocorreram Brasil afora poderiam ser considerados uma resposta a isso?
Sem dúvida nenhuma a geração dos caras-pintadas foi uma geração marcante para UNE e para o povo brasileiro e gera, certamente, um saudosismo muito grande. De 1992 para cá, a UNE continuou ao lado da juventude e nas ruas, na luta contra as privatizações do FHC, na luta por uma educação pública de qualidade, pelos 10% do PIB para a educação pública e um PNE a serviço do povo brasileiro. Logo, a UNE esteve esse tempo todo mobilizando a juventude para o despertar de grandes mobilizações. As mobilizações que vimos recentemente acontecem fruto de um acúmulo dos movimentos sociais e de uma conjuntura nacional de fortalecimento do estado e ampliação dos direitos. Acho que mostra, sim, aos saudosistas que a juventude está atenta as suas demandas e disposta a permanecer na rua para conquistar direitos. Cabe a UNE o papel de ter muita responsabilidade para se reinventar junto com essa juventude para continuar sendo a vanguarda dessa geração.