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Morre, aos 69 anos, Jarede Viana, militante feminista, da educação e dirigente do PT em Alagoas

Comunicamos com pesar o falecimento da companheira Jarede Viana, de Alagoas, no início da noite de domingo (07/09). Jarede foi militante do movimento estudantil, lutou contra a ditadura e pela anistia. Foi Vereadora em Maceió pelo MDB e pelo PC do B, partido no qual militou até o início dos anos 90, quando filiou-se ao PT e passou a integrar a Democracia Socialista. Militante da Educação, foi fundadora do SINTEAL. Como Militante feminista, era coordenadora da Marcha Mundial das Mulheres em Alagoas. Jarede lutava contra um câncer há dois anos e meio e há 15 dias atrás ainda estava ativa na militância.

Veja também a Nota da Marcha Mundial das Mulheres.

Veja um perfil completo.

JAREDE VIANA DE OLIVEIRA

Jarede nasceu em um lar com duas fortes influências – o cristianismo de sua mãe evangélica e o socialismo de seu pai comunista. Criada na ética do trabalho, adquiriu fortes princípios que viveu e testemunhou. Forjou-se como uma humanista revolucionária, radical, que vivia intensamente a perspectiva libertária e emancipadora, e que sempre esteve ligada a uma organização política de linha marxista, por acreditar na força do coletivo para a transformação social.

Nascida em Maceió, tornou-se uma liderança política e feminista desde a adolescência, no tempo da ditadura, quando afirmar os valores democráticos constituía crime passível de prisão, tortura e até assassinato pelas forças da repressão.

Militante do movimento estudantil nos “anos de chumbo”, e estudante de Pedagogia da UFAL, onde se graduou, assumiu, em 1968, a presidência do Diretório Acadêmico da Faculdade de Educação da UFAL, juntamente com os riscos daí decorrentes. Era militante da Ação Popular (AP), organização política de esquerda, ligada à Igreja Católica, que combatia a ditadura no final dos anos sessenta.

No final dos anos de 1970 encontrava-se na luta pela anistia, e participou da Sociedade Alagoana dos Direitos Humanos. Perseguida pelos órgãos de repressão política dos governos da ditadura, foi proibida de ser patrona da formatura de uma turma de estudantes e até vetada para renovar contrato de professora da UFAL. No auge da repressão militar, acolheu e deu apoio a companheiros e companheiras na clandestinidade, envolvidos na guerrilha do Araguaia, com risco de sua própria vida.

Nos anos 80 do século XX, coerente com sua postura em defesa da democracia e do direito das minorias, assumiu abertamente a luta pela democratização da APAL (Associação dos Professores de Alagoas) hoje SINTEAL, pelos Direitos Humanos, pela igualdade das mulheres e pelas “Diretas já”, entre outros movimentos históricos de ação política.

Em 1982, participou da fundação da União das Mulheres de Maceió (UMMa) e elegeu-se vereadora de Maceió, pelo então MDB, com uma excelente votação, e, em 1987, antes de terminar o mandato, assume pública e oficialmente a militância no PCdoB, o que era um escândalo na sociedade tradicional das Alagoas. Vereadora vinculada aos movimentos sindical, de mulheres, estudantil e popular colocou seu mandato a serviço das lutas sociais, exercendo-o nas ruas, e na tribuna (1983-1988). Foi uma das lideranças combativas do movimento contra a violência e pela instalação da Delegacia de Mulheres e do Conselho Estadual dos Direitos das Mulheres (1985/1986). Apesar de ser um Estado muito conservador, Alagoas foi um dos primeiros a implantar esses dois instrumentos, graças à luta do movimento.

Nos anos 90 Jarede filiou-se ao PT e passou a integrar a corrente Democracia Socialista, mantendo-se coerente ao seu ideário socialista e revolucionário.
Em sua carreira como educadora, Jarede foi professora em todos os níveis de ensino, Professora da cadeira Educação de Jovens e Adultos do Curso de Pedagogia da UFAL e Supervisora da ETFAL (Escola Técnica Federal de Alagoas) hoje CEFET.

Participou ativamente do movimento de democratização da CPB – Confederação dos Professores do Brasil, hoje CNTE – e foi figura importante na criação do SINTEAL, onde atuou na luta incansável por uma educação pública, com gestão democrática, com qualidade e condições dignas de trabalho para todos os profissionais da Educação.
Foi Conselheira do CEE/AL – Conselho Estadual de Educação, primeiro por indicação do governo que resultou da frente democrática que venceu a eleição para o Governo do Estado em 1999 e, depois, em 2001, representando o SINTEAL. Neste Conselho teve participação destacada em defesa da educação média profissional – que é a formação que cabe – quando cabe – aos mais pobres, tendo sido Vice e, depois, Presidente da Câmara de Educação Profissional. Por seus relevantes serviços recebeu em 2006 a Comenda do Mérito Educativo de Alagoas.

Em todas as lutas sociais de Alagoas nas últimas décadas a militante política Jarede estava presente com sua combatividade, seus discursos que levantavam as plenárias, com sua capacidade de formulação política, sua força e, sobretudo, sua convicção inabalável na organização popular para enfrentar todas as formas de opressão.

Era Coordenadora Estadual da Marcha Mundial das Mulheres e integrante da Executiva Regional do PT – Partido dos Trabalhadores.

Em março de 2008 recebeu a Comenda Nise da Silveira, destinada às mulheres que se destacam em todos os campos de atuação em Alagoas.

Em 07 de setembro de 2008 Jarede Viana, aos 69 anos, deixa a vida, após enfrentar por dois anos e meio a luta contra um câncer. Até aí seu exemplo foi de coragem, de esperança, e de amor a uma vida militante, socialista e revolucionária. Até 15 dias antes, ainda comparecia às atividades da campanha eleitoral, mantendo-se uma lutadora social ativa até o fim, deixando o seu grande exemplo de vida como legado.

A data não deixou de marcar a todos – o dia da Independência. Se uma palavra podia sintetizar Jarede, era esta – Independência. Se uma luta política a animava era esta – a Independência nacional e a soberania popular – sonho de revolucionária, que com generosidade e solidariedade, construiu uma rica e bela  página da história em Maceió, em Alagoas.

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