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Morreu Hugo Blanco, revolucionário e ecossocialista peruano

Liderou revoltas camponesas nos anos 1960, foi preso e torturado, fez 14 greves de fome e passou muitos anos no exílio. Nas últimas décadas, Hugo Blanco fez do ecossocialismo a sua luta.

Foto: Divulgação

Nascido em Cuzco, no Peru, em novembro de 1934, Hugo Blanco dedicou-se desde jovem à luta pela mudança política no seu país, pelos direitos dos povos indígenas e pela defesa do ambiente. Juntou-se ao movimento trotsquista argentino quando esteve naquele país aos 20 anos e no regresso ao Peru entrou no Partido Operário Revolucionário.

Foi uma das grandes referências da luta camponesa peruana, como organizador e sindicalista, criando diversas estruturas populares. Liderou a revolta dos Quechua no início da década de 1960 pela reforma agrária. Foi preso, com a acusação a pedir pena de morte e acabou condenado a 25 anos de prisão, onde sofreu torturas, fez catorze greves de fome e foi alvo de uma campanha internacional de solidariedade, incluindo a distinção de “Prisioneiro do Ano” pela Amnistia Internacional sueca em 1968. Na prisão escreveu o livro “Terra ou Morte – A Luta Camponesa do Peru”, um testemunho de resistência traduzido em muitas línguas.

A campanha pela sua libertação viria a dar frutos em 1971, quando foi deportado para o Chile. O documentário “Hugo Blanco, Rio Profundo”, de 2019, conta a história da sua vida e pode ser assistido clicando AQUI.

Esteve exilado no México, na Argentina, no Chile onde colaborou com o governo de Allende. Após o golpe de Pinochet, refugiou-se na embaixada da Suécia e conseguiu fugir para este país após nova campanha internacional, obtendo o estatuto de refugiado político.

Regressou ao Peru a tempo de participar na Assembleia Constituinte de 1978, eleito pela Frente Operário-Camponesa, Estudantil e Popular. Foi o quarto candidato mais votado nas presidenciais em 1980 e deputado entre 1980 e 1985 pelo Partido Revolucionário dos Trabalhadores, mas viu o mandato suspenso em 1983 após acusar de assassínio o general Clemente Noel, chefe militar da região de Ayacucho que viria a ser acusado vinte aos depois pela tortura e desaparecimento de 56 pessoas no quartel de Los Cabitos nesse ano. Impedido de cumprir o seu mandato, Hugo Blanco passou a vender café nas escadarias do Parlamento até que a suspensão fosse levantada. Regressaria em 1990 como senador pela Esquerda Unida até ao golpe de Fujimori passados dois anos. Sabendo que estava na lista de alvos quer dos serviços secretos quer da guerrilha maoísta do Sendero Luminoso, Blanco volta a partir para o exílio mexicano, onde conhece os zapatistas que preparavam a rebelião em Chiapas.

Nas últimas décadas, os problemas de saúde não o impediram de continuar a luta, com o foco na defesa dos povos indígenas contra a destruição ambiental. Em 2008 voltou a ser detido, sob acusação de resistência à autoridade durante uma ocupação de terras por parte de indígenas na sua terra natal.

Hugo Blanco e Greta Thunberg.

Publicou a revista Lucha Indígena e aproximou-se do movimento  ecossocialista, com o qual mais se identificava politicamente. Foi membro honorário da Confederação Camponesa do Peru e participou no conselho editorial da revista Sin Permiso.

Com o estado de saúde a agravar-se nos últimos meses, esteve nos ultimos meses a receber cuidados paliativos num hospital na Suécia, onde vivem os seus filhos e filhas e onde faleceu este domingo.

No final do ano passado, o seu filho Oscar Berglund publicou um resumo dos principais episódios da vida de Hugo Blanco, a proppósito do seu 88º aniversário:

(Aí vem um tópico incoerente para comemorar o aniversário de 88 anos do meu pai na terça-feira. Achei melhor entrar lá antes que o Twitter morra. Seu nome é Hugo Blanco e ele tem sido um ativista ao longo da vida pela justiça, direitos indígenas, terra e nos últimos 30 anos: justiça climática.)

 

Via esquerda.net

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