FSM. A quarta edição do Fórum Social Mundial, realizada na Índia, confirmou uma necessidade já sentida em Porto Alegre 2003. O Fórum não deve ser apenas “reflexo” dos movimentos, um momento de dar visibilidade ao ue está sendo feito e proposto, mas deve buscar ser uma “ferramenta” para que os movimentos possam construir sua intervenção no cenário político. E para isso, o FSM deve avançar em sua metodologia.
Gustavo Codas*
O IV Fórum Social Mundial, realizado no mês de janeiro, em Mumbai, na Índia, conseguiu alcançar muitos de seus objetivos. Teve um caráter massivo, popular, politizado e deu grande destaque às lutas contra todas as exclusões e contra a guerra imperialista, escolhidos como eixos prioritários.
A grande participação de delegações asiáticas e africanas – que não tinha ocorrido em Porto Alegre – confirmou a pujança do amplo movimento contra a guerra e a globalização neoliberal, assim como a estreita vinculação do Fórum com esse processo em uma escala cada vez mais global.
Mas Mumbai confirmou também uma necessidade já sentida no FSM em Porto Alegre 2003. O Fórum não deve ser apenas “reflexo” dos movimentos, um momento de dar visibilidade ao que está sendo feito e proposto, mas deve buscar ser uma “ferramenta” para que os movimentos possam construir sua intervenção no cenário político. Nesse ponto entra o debate sobre as tarefas do FSM para 2005.
O cenário de crise
Há uma crise de legitimidade do projeto neoliberal instalada no cenário mundial. As grandes instituições do neoliberalismo – o FMI, o Banco Mundial, a Organização Mundial do Comércio – estão amplamente desacreditadas, e têm por este motivo buscado reciclar seus discursos.
A agressividade do unilateralismo do governo norte-americano tem evidenciado dois fatos. De um lado, sua força militar; de outro, a incapacidade de exercer sua hegemonia através de ações por dentro das instituições multilaterais. Nesse momento, não há força militar no mundo disposta a confrontar os EUA, mas também não há capacidade política por parte do governo Bush de dar legitimidade a suas intervenções militares frente à opinião pública mundial.
A hipótese de uma era de estabilidade política da dominação burguesa sob o programa neoliberal não sobreviveu aos anos 90. Do levante indígena zapatista em 1994, que hoje se desdobra em uma luta por auto-governo das comunidades, à rebelião popular e indígena que derrubou o governo neoliberal boliviano em 2003, têm sido inúmeros os episódios que evidenciam o quadro de instabilidade política que assola a América Latina.
É verdade que continuamos imersos na dura luta de resistência contra as políticas reacionárias que emanam de Washington. A novidade é que estamos justamente no tempo de busca de alternativas concretas – e de estratégias para implementá-las. A crise de legitimidade da “ordem” neoliberal e militarista, num contexto de forte resistência popular, abre espaços para colocar na pauta a disputa de rumos de nossos países e a luta por encerrar o capítulo neoliberal da história mundial, que já se alonga por duas décadas.
As bolas da vez
Para ser uma “ferramenta” de intervenção nesse cenário, o FSM deve avançar em sua metodologia. É nessa tarefa que se debruça o Conselho Internacional (CI) neste momento. Trata-se de fazer com que “o processo FSM” seja um momento chave de diálogo, intercâmbio e busca de convergências entre os movimentos e campanhas sobre temáticas afins. Assim, “o evento” em Porto Alegre 2005 seria apenas um momento desse processo já em curso.
A questão envolve diversos desafios. Quais seriam os temas a serem priorizados? A resposta viria de uma ampla consulta feita a todas as organizações que têm participado do FSM desde 2001. Uma vez sistematizada, seria necessária uma metodologia para um diálogo virtual mundial entre redes, campanhas e organizações. É preciso debater sobre como desdobrar cada tema em seus diagnósticos, as propostas alternativas, as estratégias de atuação e os planos de ação para o próximo período.
De fato, esse tipo de diálogo existe hoje dentro das redes temáticas. Mas aqui se trata de ampliar o alcance desses debates temáticos para uma escala muito maior, para além das redes especialistas, focando em uma perspectiva de convergências em estratégias e planos de ação.
O CI lançará a metodologia para o FSM 2005 no início de abril. De 25 a 30 de julho, no Equador, vamos fazer um primeiro teste parcial dessa metodologia dentro do Fórum Social das Américas. Trata-se de um momento chave para definir o futuro do FSM.
*Gustavo Codas é assessor da Secretaria de Relações Internacionais da CUT