As eleições de 2020 ocorrerão em um cenário de crise de hegemonia na cidade do Rio de Janeiro. A gestão reacionária e incompetente de Crivela relegou a cidade ao abandono completo. Atraso no pagamento de salários dos servidores, crise nos serviços, ataques à cultura popular convivem com o crescente desemprego e aumento da desigualdade. A ameaça permanente de impeachment aumenta o poder de chantagem dos vereadores de direita, ávidos por consumir parcelas cada vez maiores do orçamento da cidade. A opção ideológica de se escorar no Bolsonarismo é uma saída política para agregar alguma base social para a disputa. Esta opção, aliada à capilaridade social das estruturas religiosas que o apoiam, mantém a competitividade da sua candidatura, mas por si só é insuficiente para consolidar maioria.
Além disso, Bolsonaro e Witzel encontram-se em conflito, e esta disputa tende a refletir no pleito municipal – com a possibilidade do lançamento da candidatura de Pedro Fernandes, secretário estadual de educação. O ex-prefeito Eduardo Paes é outra candidatura competitiva no polo direito da disputa, embaralhando ainda mais o cenário.
O cenário de “fragmentação” e disputa entre antigos aliados não afeta só o campo da direita. Impactada pela vitória avassaladora de Bolsonaro e Witzel na capital em 2018, a esquerda ainda apresenta-se dispersa, sem uma plataforma explícita que combine propostas objetivas para os dramas cariocas, o que acaba configurando um cenário de candidaturas pulverizadas, onde apenas Marcelo Freixo, do PSOL, tem força eleitoral real.
A parcela de esquerda do eleitorado carioca há muito não manifesta opção partidária consolidada. Votou majoritariamente no PSOL nas últimas disputas locais, e dividiu-se entre o PT e a “terceira via” (Marina em 2014, Ciro em 2018) no pleito nacional.
Nas últimas eleições, esta ausência de vínculo mais orgânico a um projeto impulsionou um comportamento de “voto útil” já no primeiro turno, embalado por pesquisas de opinião. A desidratação em 48 horas de Jandira em 2016 e o crescimento de Ciro em 2018 explicitam este quadro.
A expectativa deste eleitorado, com a ascensão da extrema direita e a eleição de Crivella, em 2016, e de Witzel e Bolsonaro, em 2018, é de uma frente orgânica da esquerda para enfrentar as forças reacionárias. Este sentimento é verbalizado não só pelas vanguardas dos movimentos sociais, mas também pelas classes mais populares, trabalhadores e trabalhadoras que tradicionalmente votam na esquerda.
Contraditoriamente ao sentimento majoritário dos segmentos sociais identificados com a esquerda, surge dentro do PT um movimento em defesa de candidatura própria. Uma defesa que combina a manifestação sincera e militante da defesa do PT com uma análise derrotista – onde a inevitabilidade da vitória da direita e a fragilidade da capilaridade social do PSOL nas áreas mais pobres reforçaria uma tática eleitoral centrada em propagandear o legado do PT e de Lula para aumentar o número de vereadores petistas. Agregam-se ao movimento legítimo de parte da militância alguns elementos sectários, “ufanistas” e oportunistas, agrupando setores militantes radicalizados contra o PSOL, um certo lulismo acrítico e os saudosos da frente ampla capitaneada pela direita liberal e que enxergam no retorno de Paes ao governo municipal o avanço político possível.
O desgaste do PT na cidade é um processo longo. O partido obteve desempenho muito aquém nas últimas 4 eleições municipais – em 2004 e 2008, candidaturas próprias que não chegaram a alcançar 2 dígitos no percentual de votos; em 2012, desapareceu na ampla aliança que reelegeu Paes e, em 2016, apoiou a candidatura de Jandira, que não alcançou 5% dos votos.
Acreditar que uma candidatura própria irá aumentar a nossa bancada é ignorar o histórico de desempenho do partido na cidade do Rio de Janeiro, a ausência de renovação dos quadros públicos e o esgarçamento do nosso tecido social. O risco de tal opção é de migração de votos em larga escala para candidatos e candidatas que apoiam Freixo, hoje a única expressão da esquerda carioca com chances reais de disputa do segundo turno. Ademais, a dispersão de candidaturas joga água no moinho de um segundo turno com a ausência da esquerda, relegada ao papel de comentarista de um embate entre expressões do campo ultraliberal reacionário. A ameaça de consolidação da extrema direita nesta conjuntura pede a formação de grandes frentes e blocos de esquerda para combatê-la.
Defendemos que o PT impulsione uma candidatura única das esquerdas. Não existe melhor forma de “defender o legado do partido e de Lula” do que fortalecendo a luta contra a extrema direita, contribuindo para derrotá-la nas urnas da segunda maior cidade do país. O nosso legado é a defesa do socialismo democrático, o combate intransigente às injustiças, o compromisso com um programa radical e universalista de promoção de direitos. A ascensão de uma direita autoritária, truculenta, ultraliberal e de inspiração fascista ameaça a nossa existência, e exige a mais ampla unidade popular e democrática.
Coordenação Estadual da Democracia Socialista Rio de Janeiro – Tendência Interna do PT