FSM na Venezuela é oportunidade para fundar esquerda do século XXI.
GUSTAVO CODAS
A realização do VI Fórum Social Mundial em Caracas, Venezuela, aponta a transformar essa cidade no próximo período num centro irradiador de iniciativas, articulações, plataformas e campanhas dos movimentos sociais que lutam contra a globalização neoliberal e a guerra imperialista em toda nossa região. O VI FSM ocorrerá de 24 a 29 de janeiro de 2006 também em outras duas edições simultâneas, em Bamako, Mali, na África e em Karachi, Paquistão, na Ásia. Haverá várias modalidades de “janelas” de intercâmbio e diálogo entre essas três sedes do FSM.
Para a luta de classes em nosso continente, Caracas não foi apenas uma escolha baseada em questões de logística para o evento. Foi o reconhecimento de que o dínamo principal da busca de alternativas à atual ordem passa pela experiência que está sendo realizada na Venezuela, pelo menos, em dois sentidos.
Por um lado, a revolução bolivariana é um processo que se inventa em seu próprio devir, que não segue as doutrinas estabelecidas pelas esquerdas revolucionárias do século XX no que tange à disputa pelo poder e às vias de construção do socialismo, ainda que se reivindique dessa trajetória. Assim, a Venezuela é um ótimo “local” para debater os rumos da esquerda revolucionária no século XXI.
Por outro lado, a Venezuela está no centro da contestação regional à “ordem internacional” imposta pelo imperialismo norte-americano e é o pilar principal dos esforços dos setores populares latino-americanos pela construção de alternativas concretas. É por isso que o governo Bush opera ativamente para desestabilizar o governo Chávez.
Diálogo aberto
Ao mesmo tempo, a radicalidade do processo venezuelano abriu um diálogo inédito entre setores diferentes dos movimentos sociais e as esquerdas latino-americanas. Lá estão encurtadas as distâncias que há nos movimentos altermundialistas entre aqueles que aceitam atuar na “institucionalidade” e os que reivindicam a “autonomia” total, e em muitos casos esses campos políticos estão mesclados.
Em nossa região houve outras conjunturas de ascenso das lutas populares no século passado, mas sempre foram lideradas por alguma das correntes que dominaram o cenário político regional. Agora temos uma efervescência política generalizada sem uma corrente hegemônica em nível regional, nem tampouco há condições para que alguma das correntes hoje existente aspire à hegemonia.
Ao contrário de se achar que isso seja um condicionante negativo, trata-se de um fator muito positivo se considerarmos que a esquerda atravessou uma profunda crise na primeira parte dos anos 1990. A crise do neoliberalismo e o ascenso das lutas de massas em finais da década passada nos deram um “respiro”. Mas isso não significa que tenhamos ultrapassado as limitações do período anterior. A crise no nosso país está aí para confirmar essa afirmação.
Devemos trabalhar ativamente para que o FSM seja um espaço para novas sínteses entre as diversas experiências dos movimentos sociais e correntes políticas da esquerda na nossa região. A tarefa é fazer do FSM em Caracas um momento chave de fundação da esquerda do século XXI.
Gustavo Codas é representante da CUT no Conselho Internacional do FSM
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