Debates no FSM mostram que movimento antiimperialista se fortalece.
Para refletir sobre as novas condições internacionais, o Instituto Isaac Akcelrud promoveu dois debates no VI Fórum Social Mundial em Caracas.
O primeiro deles, Para avanzar hacia el pós neoliberalismo – Desafíos para una izquierda del siglo XXI, contou com a participação de Roberto Regalado, do Partido Comunista de Cuba, Raul Pont, secretário-geral do PT, Aurora Morales, do Movimento V República (Venezuela), e Firmin, da Frente Social e Política (Colômbia). A mesa foi coordenada por Conceição Dantas, da Marcha Mundial de Mulheres (Brasil). Os textos-referência das intervenções de Raul Pont (“Apontamentos para um projeto pós-neoliberal”) e de Roberto Regalado (“Reforma o revolucion, en el actual periodo histórico continental”) estão disponíveis emwww.inprecor.org.br.
O debate trouxe uma rica exposição acerca do desenvolvimento histórico da revolução bolivariana desde os seus antecedentes, com o levante militar de 1992, liderado por Hugo Chávez, contra as medidas neoliberais. Dentro da série de conflitos, destaca-se a derrota imposta pela mobilização popular e militar à tentativa de golpe apoiada pelos Estados Unidos em 2002. Este episódio foi um forte conscientizador da necessidade da organização popular, da democracia participativa e da urgência de um programa de superação do neoliberalismo.
Outras reflexões apresentadas falaram dos processos de enfrentamento ao neoliberalismo a partir de mobilizações populares e conquistas de governos por forças de esquerda na América Latina. O tema da democracia participativa e da auto-organização popular aparece como um elemento fundamental para a realização de mudanças estruturais e reformas profundas na realidade desses países.
Muito significativa na experiência venezuelana é sua dimensão internacional, o processo de integração com a revolução cubana e de aliança com o governo Lula. É da Venezuela que parte hoje o maior estímulo a avanços na organização internacional de um movimento antiimperialista e de retomada do debate sobre a transição ao socialismo. Não foi gratuita a sugestão de colocar na agenda socialista a possibilidade e quais passos poderiam ser dados rumo a uma nova internacional.
A dimensão internacional das mudanças na América Latina é um aspecto central. Nesta região do mundo, onde o neoliberalismo e a dominação imperialista atingiram estágios “selvagens”, vêm se concentrando fortes questionamentos à ordem imperialista, ainda que de forma desigual, mas também com aspectos comuns e espaços de cooperação.
A mesa do segundo debate, Para un internacionalismo del siglo XXI, foi composta por Rosa Guillen, da Marcha Mundial de Mulheres (Peru), Rafael Freire, da CUT, Valter Pomar, secretário de relações internacionais do PT, Francisca Rodriguez, da Via Campesina (Chile), sob a coordenação de Carlos Henrique Árabe, da executiva estadual do PT-SP. Nesta ocasião, buscou-se refletir sobre a importância dos movimentos sociais, do pluralismo, da crítica ao economicismo e das possibilidades de combinação de múltiplas formas de integração internacional das lutas sociais e dos movimentos políticos.
O debate mostrou que estamos longe de sínteses programáticas e de formas organizativas do amplo, variado e plural processo de internacionalização de lutas sociais e de organização política. Mas, ao mesmo tempo, é visível que esse processo já ultrapassou o período mais defensivo, de “resistências”.
O VI FSM parece ter aberto uma nova fase, na qual a reflexão internacionalista “saiu do armário”. Mas não basta reeditar experiências históricas, ainda que sejam fundamentais para se criarem novas respostas, em conjunto com os processos político-sociais que estão em pleno curso. Algo que o título do debate sugeriu: um internacionalismo para o século XXI.