*Por Lara Carina Amorim
O crescimento do pensamento conservador no Brasil está para além da política institucional e esse é um elemento importante da conjuntura. Os movimentos de juventude capitalistas se expandiram nos últimos anos, ocupando importantes espaços, como o DCE da Universidade de Brasília.
Na contra-mão de tudo que a juventude brasileira conquistou nos últimos anos em termos de direitos e consciência política, a “Escola Sem Partido”, mais conhecida como “Lei da Mordaça”, ganha força com a invasão desses setores nas entidades representativas. É possível traçar vários pontos em comum entre o PL do deputado federal Izalci (PSDB/DF) e o avanço da direita no movimento estudantil, pois o discurso é o mesmo: a falsa ideia de apartidarismo.
Sabemos que o objetivo deste discurso é alienar as e os estudantes a partir de uma ideologia burguesa, individualista, que nega os espaços de participação política, tão importantes para a formação acadêmica. No ‘movimento estudantil’ encabeçado pela direita, há um fortalecimento da meritocracia, contra as políticas de democratização de acesso ao ensino superior, em favor de um ensino excludente e elitista. Na Universidade Federal da Bahia, podemos apontar a experiência do “Movimento Não-Alinhados”, que levanta a bandeira do “sem partido”, mas na verdade é liderado pela Juventude do Partido Democratas.
Movimento Brasil Livre, Tucanafro e Partido da Mulher Brasileira são alguns dos exemplos que mostram como a direita tem buscado se apropriar de lutas, historicamente, pautadas pela esquerda brasileira, e isso é preocupante. Sabemos que a ocupação das ruas por jovens mobilizados pelo MBL, a narrativa de “igualdade racial” feita pelo Secretariado da Militância Negra do PSDB e a “equidade de gênero” buscada pelo PMB escondem o real intuito: se apropriar de nossas lutas e esvaziá-las, associando-as a um projeto econômico neoliberal. A representatividade que reivindicamos, enquanto jovens, negros e negras, mulheres, não está desconectada de um projeto de sociedade: pautamos o direito à cidade, a descriminalização do aborto, o fim da cultura do estupro, o fim do genocídio da população negra, a criminalização da LGBTfobia, tudo isso a partir de uma visão anticapitalista, antineoliberal.
A direita tem se renovado. A ascensão de quadros jovens nos espaços de poder mostra a sagacidade do conservadorismo em compreender a importância de dialogar com os setores de juventude, dá um sentimento de “frescor” à velha política. Sabemos que se trata de uma mentirosa renovação, visto que esses jovens são, nada menos, que herdeiros dos homens que antes ali estavam e que reproduzem a política neoliberal, racista, misógina e antipopular. Podemos dizer que atualizam a velha cultura política, e renovam a partir de uma perspectiva nepotista, sendo que muitos quadros novos no legislativo e no executivo, são filhos dos políticos e servem a manutenção do projeto de poder de suas famílias..
O crescimento do conservadorismo impõe um grande desafio para as organizações progressistas. Nestas eleições municipais, será imprescindível fazermos uma forte disputa de opinião ideológica nos setores populares a fim de fortalecer, renovar e reerguer um projeto que revolucionou a vida da classe trabalhadora em nosso país. Essa disputa precisa ser feita em todos os espaços, seja na rua, onde, cotidianamente, o povo está presente ocupando o mundo do trabalho, seja nas redes, onde a direita tem fortalecido um processo de polarização com nossas pautas e construído narrativas carregadas de ódio e fascismo.
Essa polarização extrapola as redes sociais e é vivenciada nos espaços de aprendizado, ou seja, dentro das escolas e das universidades. Diariamente, acompanhamos casos de violência contra as mulheres, contra o povo negro, contra as/os LGBTs e, para além disso, há uma forte tônica no processo de criminalização dos movimentos sociais dentro das instituições de ensino. Ainda este mês, o estudante de Letras, Diego Vieira Machado, foi assassinado dentro do campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O motivo dessa crueldade: Diego era gay, negro e residente. Diego era a representação de tudo que o neofascismo e o conservadorismo desejam expulsar destes espaços que eram tidos como privilégios pelas classes dominantes e hoje, também são espaços de direitos, graças às políticas dos governos petistas.
No último final de semana, foi realizado, em São Paulo, o 64º Conselho Nacional das Entidades Gerais da União Nacional dos Estudantes (CONEG-UNE). Contando com a presença de mais de 500 estudantes, o maior encontro de DCEs do Brasil discutiu e traçou importantes rumos para o movimento estudantil no próximo período. É indispensável a ação de cada entidade geral e de base na luta contra o golpe e contra todo retrocesso personificado nas figuras do presidente ilegítimo, Michel Temer, e do ministro democrata da Educação, Mendonça Filho.
Muitos avanços conquistados, duramente, pela classe trabalhadora e pelos movimentos sociais estão sendo colocados em risco com esse desgoverno. O anúncio de cortes em programas estratégicos, como o FIES, o PROUNI, o PRONATEC, representam uma grande derrota para o povo. É urgente a mobilização em oposição a tudo o que Michel Temer simboliza e, mais ainda, pela concretização da educação que queremos: mais popular, mais negra, mais feminista e mais colorida. Não aceitaremos qualquer tipo de corte para educação, uma vez que o orçamento já é insuficiente para as nossas demandas, e lutaremos contra a privatização do ensino, política que tem ganhado força em pastas estratégicas dentro do MEC. A ação do movimento estudantil é fundamental dentro das faculdades particulares, visto que grande parte das trabalhadoras e dos trabalhadores estão nesse espaço, e das faculdades públicas, buscando a consolidação de um projeto de esquerda que batalhe por um ensino democrático. A União Nacional das e dos Estudantes coloca na rua uma importante agenda que irá revigorar e reoxigenar a luta pela defesa da democracia no país. O 5º Encontro de Negros, Negras e Cotistas da UNE, que será realizado nos dias 5, 6 e 7 de agosto, na cidade de Salvador/BA, irá, sem dúvidas, consolidar estratégias alternativas aos projetos reacionários, como o “Escola Sem Partido”, e apontará significativas saídas para a autonomia e liberdade plena da juventude negra brasileira.
Na semana seguinte, milhares de estudantes construirão a Jornada de Lutas contra o golpe. Nos dias 11 a 15 de agosto, os DCEs, centros e diretórios acadêmicos vão colocar seus blocos na rua, construindo ações irreverentes e fortalecendo a luta em defesa da democracia.
O movimento estudantil tem cumprido um papel central em defesa dos direitos das/dos estudantes em nosso país e na luta pela soberania popular. O movimento estudantil tem lado. Nosso lado é ao lado do povo, da classe trabalhadora, das mulheres, das negras e dos negros, das/dos LGBTs. Estamos do lado da democracia, do lado de quem teve, ao longo da história, seus direitos negados, do lado de quem não aceitará nenhum retrocesso.
Fora Temer!
Fora Mendonça Filho!
Contra a Escola sem Partido, VAI TER LUTA!
*Lara Carina Amorim, estudante de Cinema na FTC, é militante da Kizomba e vice-presidenta da União das e dos Estudantes da Bahia
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