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O Posicionamento Necessário | Raul Pont

A opinião do companheiro Lula na última reunião do DN do PT (1/6) criou polêmica dentro e fora do Partido.

Fora, foi exacerbada, como sempre, pela mídia adversária ao já interpretar que Lula posicionou-se criticamente em relação às manifestações de vários setores da sociedade em oposição ou contrariedade com o governo Bolsonaro. Daí a conclusão é conhecida: Lula e o PT são estreitos, são contra alianças, são prepotentes.

No Partido, como Lula foi o último a falar não houve diálogo, nem contraditório, nem a busca tradicional de construir consensos. Por sinal, a reunião da direção nacional do Partido foi dominada por informes e opiniões importantes, esclarecedoras, mas sem um caráter deliberativo. Desde a relevante análise sobre a pandemia do Covid-19 feita pelo ex-ministro Chioro e um balanço da crise econômica feita pelo convidado engenheiro Eduardo Moreira, além dos tradicionais informes dos líderes no Congresso, governadores e prefeitos.

Algumas lições evidentes: os encontros em rede são possíveis e nos permitem coesionar o Partido, mas, ao vivo, via TV/PT e sem discussão é um método a ser urgentemente corrigido. A fala de Lula foi a principal vítima. As versões, mais uma vez, foram muito além dos fatos.

Lula não sintetizou uma posição partidária nem expressou o resultado da reunião. Apenas refletiu a necessária cautela e a lembrança da história das conciliações pelas elites nos momentos de crise e sua especialidade em resolvê-los alijando o povo do processo e contrariando os interesses dos trabalhadores.

Se na última semana surgiram manifestos, propostas de frente ampla contra o fascismo e movimentos oposicionistas como maioria do povo brasileiro, é claro que nosso papel é saudá-los como positivos e que diminuem o espaço do governo genocida, entreguista e antipovo de Bolsonaro.

 Do nosso ponto de vista, não há contradição entre saudarmos positivamente manifestos, declarações, abaixo-assinados e, naqueles que se propõem alguma organicidade, até participarmos em torno de lutas, reivindicações ou propostas na oposição ao atual governo, desde que acordados os objetivos democraticamente, entre os organizadores.

Isso não impede que trabalhemos na direção das diretrizes aprovadas pelo Partido: Fora Bolsonaro, novas eleições presidenciais e construção de uma frente de esquerda. Diretriz que disputa a hegemonia da condução política junto a outras frentes e/ou manifestações que vêm assumindo a luta crescente de oposição ao governo.

O amplo leque das manifestações atuais se expressa desde a unidade contra o fascismo e o impedimento de Bolsonaro até setores que querem negociar, regenerar o ex-capitão e até tirá-lo do governo, mas mantendo a política econômica do ministro Guedes e seu ultraneoliberalismo.

Este setor do rentismo financeiro, da agro-exportação, da grande mídia pode ter conflitos com os métodos, a truculência e a insanidade do núcleo duro bolsonarista, mas não abrem mão das políticas liquidacionistas de um século de conquistas sociais e direitos trabalhistas, praticadas pelo ministro Guedes.

Aí residem as cautelas e preocupações da fala de Lula no Diretório Nacional criticada como inoportuna, sem considerar uma possível virada conjuntural.

Do nosso ponto de vista, o mais preocupante não é a inoportunidade da fala e o uso oportunista e cínico da mídia diante de uma sincera e instintiva preocupação com os rumos que o Partido pode tomar.

Mais preocupante é a reunião, ou melhor, a não-reunião da direção partidária, não orientar, não traçar os passos necessários para efetivar aquilo que já aprovamos: Fora Bolsonaro via impedimento e novas eleições. 

Neste momento, em pleno início das campanhas eleitorais municipais, a bandeira da Frente de Esquerda é urgente, necessária e permanente. É um rumo estratégico tanto para os processos eleitorais como para unificar um campo democrático-popular próprio em torno de um programa comum. Essa política não impede incidirmos junto com outros setores uma luta antifascista e na ampliação da proposta do impedimento no Congresso Nacional.

O Partido espera de sua Direção Nacional uma orientação clara, sem ambigüidades, que fortaleça a sintonia com os movimentos sociais que estão brotando em todos os cantos e uma política sem vacilações das nossas candidaturas municipais com os aliados do campo da esquerda contra o ultra-neoliberalismo e o autoritarismo fascistóide do governo Bolsonaro,

Nossas candidaturas próprias ou em apoio aos nossos aliados precisam expressar nitidamente programas de governo com profunda participação popular, com democracia participativa que coloque estas administrações municipais como verdadeiras trincheiras na defesa da vida, do emprego e das políticas sociais na saúde, na educação e na habitação popular. Esta combinação é que fortalecerá o enfrentamento com o governo Bolsonaro-Guedes e seus apoiadores.

Raul Pont é membro do DN/PT.

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