Está em curso o 6º Congresso Nacional do Partido dos Trabalhadores no Brasil. Vai realizar-se em início de junho. Sua agenda compreende temas clássicos de um congresso “normal” de um partido de esquerda: cenário internacional, situação nacional, balanço dos governos do PT, estratégia, organização.
Todos eles, no entanto, estão carregados de um conteúdo extraordinário: a realidade do golpe que depôs a Presidenta Dilma.
Isso pode ser visto nos textos que abrem os debates, disponíveis no portal do PT:
http://www.pt.org.br/lancado-caderno-de-contribuicoes-para-o-6o-congresso-nacional/
Desde a posse da Presidenta Dilma, em janeiro de 2015, até sua deposição em agosto de 2016, o PT e o conjunto da esquerda brasileira viveram duras provas. Mobilizaram milhares, senão milhões, contra o golpe. Simultaneamente, defenderam que o governo da Presidenta Dilma mantivesse a política econômica de crescimento. Perderam nas duas frentes de luta. Abriu-se um período de autocrítica e de busca de reconstrução.
Quais são, nesse contexto, alguns dos grandes debates do PT?
A democracia como conquista dos trabalhadores – um velho tema da fundação do PT – volta à tona como uma perspectiva programática. A adesão completa da burguesia brasileira ao golpe coloca para a esquerda e o PT o desafio de se propor ao que não fez nos seus doze anos plenos de governo: uma revolução democrática! Vale dizer: reforma política e eleitoral democráticas em um dos regimes eleitorais e sistemas de representação mais atrasados das Américas. Esse atraso institucional mostrou-se extremamente funcional aos golpistas.
Em consequência aumenta muito a crítica às chamadas alianças amplas e sem critério programático dos anos de governos petistas. E cresce a ideia de construir uma frente de esquerda. Uma frente de esquerda não substituiria os partidos de esquerda, obviamente, mas instituiria outra dinâmica política.
Além disso, a prática da democracia direta da militância petista e de esquerda também, de forma muito bem vinda frente aos anos de democracia de cima para baixo, vem aumentando. Uma resolução do Diretório Nacional pode ser contestada e, se se esta contestação ganha força, revogada.
O PT é um partido em disputa. Polarizado por teses de esquerda mas constrangido por suas estruturas de poder conservadoras será levado ao limite da tensão, dentro e fora.
As estruturas conservadoras do PT alimentam-se da popularidade de Lula. Estas estruturas lhe serviram durante os governos petistas mas não são úteis num processo de renovação e mesmo “reinvenção” do PT. Elas são funcionais no entanto para conter as forcas de esquerda que querem reformar profundamente o partido.
Dessas disputas em andamento podem surgir um novo partido chamado PT ou podem naufragar o antigo PT. É uma questão em aberto.
(*) Secretário Nacional de Formação Política do PT