A decisão da disputa pelo governo de Minas está diretamente subordinada à capacidade de construção de uma postura de oposição pública, a partir do campo democrático popular, ao projeto Aécio/Anastasia. O PT de Minas Gerais enfrenta, nestas eleições, um dos desafios mais complexos e difíceis de sua história.
Juarez Guimarães
Representado na chapa majoritária com a candidatura de vice de Hélio Costa (PMDB), Patrus Ananias, e com a candidatura ao Senado de Fernando Pimentel, o partido tem que construir em poucas semanas o que não conseguiu construir nos últimos oito anos: uma oposição pública forte e vigorosa ao governo Aécio e sua continuidade.
Essa dificuldade se relaciona com três dimensões da vida política mineira nos últimos anos. Em primeiro lugar, desde 2007, a liderança de Fernando Pimentel, então prefeito de Belo Horizonte, apoiada por Virgílio Guimarães e Durval Ângelo, iniciou um movimento de aproximação e pactuação com Aécio Neves. Esse movimento resultou, literalmente, na entrega da candidatura a prefeito de Belo Horizonte em 2008 a um nome até então desconhecido, filiado ao PSB, que mantinha também diálogo com o governo Aécio. Hoje, o prefeito Márcio Lacerda apoia Dilma e Anastasia, além, é claro, da candidatura de Fernando Pimentel ao Senado. Esse movimento, majoritário no PT de Belo Horizonte e que veio a se confirmar majoritário também por pequena margem no PT estadual, bloqueou a construção de uma oposição pública ao projeto Aécio Neves.
Em segundo lugar, a liderança de Aécio Neves, desde o início, buscou um caminho liberal diverso daquele protagonizado pelo núcleo dirigente paulista do PSDB. Ao invés de uma confrontação frontal ao projeto de Lula, Aécio Neves foi eleito por duas vezes com votos de uma grande parcela de eleitores que também votaram em Lula. O fenômeno do “Lulécio” respondia, então, a um duplo movimento: uma divisão nas hostes tucanas, e de outro lado, uma apropriação de parte dos ganhos da Era Lula por Aécio.
Em terceiro lugar, a divisão e a forte disputa entre as duas principais lideranças do PT mineiro – Patrus e Pimentel – pela candidatura ao governo arrastou-se até meados do primeiro semestre, enfraquecendo ambos em uma situação de “empate catastrófico” ou de soma zero. Isto é, os dois perderam terreno com um PT dividido e polarizado frente à candidatura Hélio Costa que, a partir da memória dos eleitores, aparecia com ampla intenção de voto.
“MG pode mais” ou MG democrático-popular
O quadro se tornou mais complexo ainda com a indicação, com todos os poderes, do publicitário Duda Mendonça para a direção do programa de televisão da campanha – que, a partir da coligação PMDB/PT/PCdo B e PR, dispõe de cerca de 40 % do tempo disponível. A linha imposta sem discussão, por um lado, apostava na construção de um governo de parceria (Hélio + Patrus “Dois grandes homens em um só governo”), e, de outro, em um pós-Aécio, interditando um discurso oposicionista de conjunto, com a ideia de que “Minas pode mais”, em particular, nas áreas de educação, saúde e segurança. A “ciência” do marketing eleitoral produziu em Minas um fenômeno semelhante à estratégia adotada por José Serra no plano nacional.
Neste início de setembro, o que ocorre é a estagnação da candidatura Hélio+ Patrus diante de um crescimento forte, mas variado, segundo os institutos de pesquisa, da candidatura Anastasia. A disputa eleitoral não está perdida. O apoio de Lula, a força da militância, a ampla base do PT e do PMDB no estado continuam sendo importantes, mas a continuidade da atual linha de campanha pode levar ao maior desastre eleitoral do PT mineiro, paradoxalmente, em meio à provável maior vitória nacional da história do partido.
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