Desde maio persiste a polêmica sobre a vinda de médicos cubanos. Dizer polêmica é uma maneira de amenizar, pois houve momentos de desinformação, xenofobia e até de pura baixaria.
Houve todo tipo de interpretação sobre o programa “Mais Médicos”, e muitas acusações: “não precisamos de médicos estrangeiros, os brasileiros são suficientes; o que o governo está fazendo é política eleitoreira; os médicos que virão são refugo dos outros países; com esses médicos estrangeiros chega a morte; com os cubanos chega a pregação comunista”, e assim por diante. Alguns termos usados chegam a não merecer resposta.
Os cubanos estão aí e já deram um “chega pra lá” naqueles, principalmente médicos na condição de deputado federal, que nos últimos dias não faziam outra coisa a não ser querer saber quanto receberiam de salário e como seriam pagos, uma vez que estão no Brasil como fruto de um Acordo de Cooperação assinado entre o Governo Brasileiro e a Organização Pan-americana de Saúde (OPAS).
Parece que Nélson Rodríguez, médico cubano de 45 anos de idade, sabia da cobrança, pois assim que desembarcou, na primeira abordagem da imprensa, declarou: “Nós somos médicos por vocação e não por dinheiro. Trabalhamos porque nossa ajuda foi solicitada, e não por salário, nem no Brasil nem em nenhum lugar do mundo”. Que lição para alguns dos nossos.
Na primeira etapa do programa “Mais Médicos”, participarão 400 médicos cubanos e, como falamos no Brasil, a maioria deles é “macaco velho”, ou seja, tem experiência em trabalhar fora de seu país de origem. Segundo a OMS, 84% têm mais de 16 anos de experiência e são especialistas em Medicina da Família e da Comunidade. O Acordo de Cooperação com a OPAS é para trazer um total de 4 mil médicos cubanos.
Semana passada, conversando com o responsável pela saúde indígena do Ministério da Saúde, ouvi mais ou menos o seguinte: “parte dos médicos do Brasil estão contra a vinda de médicos estrangeiros, mas raramente encontro algum médico que queira trabalhar nas comunidades indígenas”. Pois bem, parte desses cubanos irão trabalhar em comunidades indígenas. Além da área indígena que poucos aceitam trabalhar, há 700 municípios brasileiros (84% nas regiões norte e nordeste) que não têm médicos. Os cubanos serão direcionados para essas localidades. Nesses municípios, ao contrário do pregado por um deputado federal do DEM, chegará a esperança da vida.
Uma das maiores críticas feitas pelos que são contra o “Mais Médicos”, sem nenhum embasamento técnico ou científico, é que o curso de medicina cubano é inferior ao do Brasil. Fato questionável. Cuba seleciona seus melhores alunos para cursarem medicina, cujo curso, assim como no Brasil, dura seis anos.
Cuba tem um histórico de cooperação e solidariedade com outros países, reconhecido inclusive pela ONU, como, por exemplo, o programa de prevenção e cura do câncer.
Segundo o último relatório “Estatísticas Mundiais de Saúde”, publicado pela ONU em maio passado, “Cuba tem um índice de 6 mortes em cada mil crianças menores de 5 anos – mesmo índice do Canadá (6) e menor que dos Estados Unidos (8) e Chile (9). É o único país da América Latina e Caribe que possui um nível de mortalidade infantil comparável aos países desenvolvidos” (http://www.onu.org.br/chegam-ao-brasil-primeiros-profissionais-cubanos-que-participarao-do-programa-mais-medicos/).
Cuba também investe em pesquisas. “Nos últimos 20 anos foram investidos cerca de um bilhão de dólares em pesquisa e desenvolvimento. Hoje, a indústria de biotecnologia cubana detém cerca de 1,2 mil patentes internacionais e comercializa produtos farmacêuticos e vacinas em mais de 50 países”. (http://www.onu.org.br/cuba-avanca-na-prevencao-e-combate-ao-cancer-com-investimento-em-biotecnologia-afirma-oms/)
Muitos dos que falaram contra a vinda de médicos cubanos o fizeram por desconhecimento quanto à formação desses profissionais. Outros o fizeram por questões ideológicas e uns tantos porque querem a reserva de mercado sem se importar com o povo, se serão atendidos ou não no seu direito à saúde.
*Dr. Rosinha é médico pediatra, deputado federal (PT-PR) e presidente da Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados.