“Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprime”. Bertholt Brech
Em 2023, se cumprem 28 anos dos acordos de paz celebrados pela OLP com Israel. Acordos que a nada levaram. Em realidade, ao longo destas décadas a política levada adiante pelo estado sionista deu as costas à paz.
O retorno de Netanyahu a frente do governo de Israel, calcado em uma aliança com a ultradireita sionista; a política de anexação da Cisjordânia; de limpeza étnica nas áreas de Hebron Hills e o Vale do Jordão; de expansão dos assentamentos e cobertura pelas forças de ocupação das ações terroristas dos colonos – em realidade hordas criminosas empenhadas em incendiar cultivos, confiscar terras, destruir e roubar propriedades palestinas, matar e diariamente humilhar aos palestinos – fez por acelerar a transformação de Israel num regime de apartheid. Tanto assim que os 5 milhões de palestinos que estão sob ocupação israelense não têm direito a voto.
Gaza, a essa altura, alvo de bombardeios das forças armadas de Israel, é considerada pelas organizações de direitos humanos a maior prisão ao ar livre de todo o planeta: são 2 milhões de habitantes totalmente cercados, controlados e bloqueados por Israel que, aliás, destruiu pelo menos um terço das terras agrícolas desta região desde 2000.
Aos milhões confinados no gueto em que Israel transformou Gaza hão de ser somados os milhares de presos políticos palestinos detidos nos cárceres do apartheid. Hoje há 4900 presos políticos palestinos, dos quais 160 são menores e 30 são mulheres. Há 1016 em situação de detenção administrativa, sem julgamento nem acusação. Do total, 400 presos são oriundos de Jerusalém, 200 de Gaza e 150 de Israel. Quatro são deputados ao Conselho Legislativo Palestino e 554 cumprem penas de prisão perpétua. Há ainda 23 presos anteriores à assinatura dos Acordos de Oslo, que assumiam a libertação de todos os presos políticos palestinos.
Um dos signos maiores dessa escalada supremacista foi o reforço da presença das tropas sionistas e de bandas de colonos no Monte do Templo (Al-Aqsa) que culminou com a invasão militar de um dos espaços de maior significação para o Islã depois de Meca e Medina. Não à toa, a ação do Hamas tem como nome de Tempestade de Al-Aqsa.
Assim, a reação da resistência palestina e, em especial, os recentes ataques do Hamas – partido político apoiado pela maioria da população de Gaza – é resultado do que semeou Israel quando fechou o caminho à paz e se lançou a consolidação de um estado sionista baseado no apartheid e no genocídio do povo palestino.
Daí que, se trata de procurar culpados pelo terrorismo esses devem ser buscados exclusivamente no estado de Israel e naqueles que patrocinam o supremacismo sionista. Pois, do contrário, estar-se-ia a igualar as vítimas aos carrascos, os torturadores aos torturados, as hordas de saqueadores aos que tem suas casas, terras e cultivos destruídos.
Nestas horas, há de ser feita sem meias palavras a denúncia da barbárie que desata Israel sobre Gaza eis que, aqui não há guerra alguma, mas sim uma operação militar levada adiante por uma potência nuclear para, a pretexto das ações da resistência palestina, levar adiante o projeto de genocídio do povo palestino.
Nas ruas de Nova York, Paris, Lisboa, Madrid ecoam as vozes da solidariedade. No Brasil, o MST lançou nota de solidariedade na qual afirma que “não descansaremos enquanto não conquistarmos uma Palestina livre, com capital em Jerusalém e com o legítimo direito ao retorno de todos os refugiados expulsos de suas casas, terras e aldeias! Seguiremos de mãos dadas com o povo Palestino, rompendo todas as cercas e muros que nos privam de viver e amar!”. Em São Paulo os movimentos sociais organizam um ato em apoio a Palestina, para esta quarta-feira (11) no Galpão da Alameda Eduardo Prado, região central da capital paulista.
Sigamos nessa vereda e, desde os movimentos sociais e populares do campo e da cidade, da juventude, das mulheres e do povo negro, dos partidos populares organizemos comitês unitários em defesa da Palestina, realizemos ações de solidariedade ao povo palestino e, de boicote as empresas e ao governo de Israel.
Solidariedade e luta! Palestina Livre!
Leia aqui a nota do MST: https://mst.org.br/2023/10/09/todo-nosso-apoio-e-solidariedade-a-luta-palestina/
Lúcio Costa é Advogado, especialista em Direito Eleitoral.