Uma plataforma para a esperança
Coerência. A saída dos impasses depende da superação do modelo econômico.
Quando Lula foi eleito à presidência da República, a maioria dos que o elegeram não esperava que o desemprego, a fome e a miséria seriam vencidos com um golpe de mão e que as soluções estariam na próxima esquina do tempo. Mas a noção deste tempo construído da esperança vem sendo agressivamente dilapida da pelos fundamentos liberais que prevalecem na gestão econômica.
No início, dizia-se que as medidas anti-populares adotadas (altos juros, cortes de gastos sociais e de investimentos) eram temporárias pa ra fazer frente à grave cri se econômica que cercou a posse do novo governo. Depois, veio ganhando força a idéia de que o provisório era o definitivo, que o caminho escolhido era o único possível. Arrisca a se tornar filosofia de governo.
Ao completar um terço de seu mandato, a gestão econômica do país não pôde sequer oferecer um caminho para a queda do desemprego estrutural, nem mesmo deter o seu avanço nos patamares já elevadíssimos deixados pelos governos FHC. Sequer apresentou algum plano emergencial de emprego nas grandes cidades.
Agora, impôs-se um veto a um reajuste minimamente razoável do já mínimo salário mínimo. A medida é injusta em um período de aumento dos lucros dos que mais têm riqueza, injustificada em um período de elevação da arrecadação tributária, injustificável para quem defende os valores das classes trabalhadoras. Ela é, portanto, injusta, injustificada e injustificável.
Enquanto isso, Fernando Henrique Cardoso reorganiza a aliança do PSDB com o PFL, busca atrair setores do PMDB e de outros partidos para recrudescer a oposição ao nosso governo. Eles têm o objetivo imediato de derrotar o PT nas eleições de 2004 e acumular para a disputa nacional de 2006. Neste cenário é urgente a retomada da plataforma que levou Lula à presidência e o PT ao centro de decisões do governo do Brasil.
A última que morre
Pior do que agir contra a esperança é destruir os seus símbolos, as suas expressões anunciadoras, as suas razões. Não se faz mudança sem esperança e o conformismo sempre foi o par fiel de quem abdica da trans formação. É preciso, pois, manter viva a chama da esperança. Não se requer para isso a solidão dos messiânicos nem a pretensa e auto-referida autoridade dos poucos. A esperança é, antes de tudo, bem de primeira necessidade de milhões que dela dependem para continuar vivendo.
O governo Lula, em muitos de seus ministérios, atos e palavras, ainda guarda muitos gestos de esperança, apesar de tudo. O PT ainda é celeiro de esperança, assim como as organizações sociais, políticas, culturais e religiosas do povo brasileiro, como a CUT, o MST, a CNBB. Há muitas tradições republicanas e socialistas que estão dispostas a lutar por ela.
As razões da esperança precisam se tornar públicas, reafirmando um horizonte para além do possível definido pelo neoliberalismo. A crítica do neoliberalismo tem que se fortalecer e avançar programaticamente se não quisermos um retrocesso da consciência democrática alcançada pelo povo brasileiro.
A esperança precisa agora construir sua plataforma pública e, através, dela contribuir para que o governo Lula possa exercitar todo o seu potencial de mudança que o povo brasileiro ainda espera.