A aprovação do I Congresso da Juventude do PT foi uma grande vitória para todos aqueles e aquelas que desejam inverter a lógica burocratizada e de pouca inserção na sociedade que nosso coletivo vem passando. Mas para que tenhamos uma organização mais próxima dos movimentos sociais, que tenha opinião e capilaridade é necessário superar alguns vícios que a juventude foi adquirindo ao longo de sua história.
ANA CRISTINA NAVEIRA E JULIANA TERRIBILI
A transformação da juventude do PT não deve se limitar, somente, a uma plataforma que avance nas formulações políticas, nas campanhas e ações. Também deve contemplar teoria e prática, absorvendo esses debates no interior dos coletivos de jovens do PT, em seu cotidiano.
Construir uma nova Juventude do PT passa por construir uma nova cultura política em que não haja desigualdades entre homens e mulheres no que diz respeito à formação, decisões políticas e responsabilidades de cada membro do coletivo da JPT, como vemos acontecer atualmente. Superar a lógica machista cristalizada deve ser prioridade na formação da nova JPT, construindo uma plataforma feminista e que crie visibilidade a todas as mulheres participantes dos fóruns e instâncias partidárias.
Historicamente as mulheres sempre foram colocadas em situações de desigualdades, as relações sociais e os sistemas político, econômico e social imprimiram uma relação de subordinação das mulheres em relação aos homens. A opressão das mulheres se materializa na divisão sexual do trabalho, aonde as mulheres chegam a receber até um terço do salário dos homens ocupando o mesmo cargo. Além disso, a dupla e tripla jornada de trabalho dificulta a inserção e participação das mulheres nos espaços políticos, pois ainda é colocada em nossa sociedade a responsabilidade das mulheres, o cuidado da casa e dos filhos/as.
Essa realidade não é diferente no Partido dos Trabalhadores e especificamente, na sua juventude que reproduz essa lógica desigual entre homens e mulheres, na qual as militantes cumprem papéis mais invisíveis, enquanto os jovens se legitimam como direção dos processos e figuras públicas.
Por essas razões, as mulheres organizadas no PT reivindicaram cotas de 30% de mulheres nos espaços de direção e decisão como forma de mostrar as desigualdades presentes no partido e tiveram uma importante vitória com a sua aprovação. Contudo, o que vemos hoje é uma apropriação desregulada dessa política afirmativa, pois muitas vezes essa medida não é cumprida e outras vezes o que deveria ser uma cota mínima se tornou cota máxima, impedindo-se que mais mulheres participassem da construção do PT.
É por esse fator que defendemos a paridade de gênero não só nas delegações para o Congresso Nacional da JPT, mas também no Coletivo Nacional da JPT. Esse é um instrumento fundamental para potencializar a participação das mulheres na Juventude do PT e em seus fóruns, já que muitos e muitas começam sua militância nesse espaço e, portanto, homens e mulheres teriam a possibilidade de receber a mesma formação política e estarem num mesmo patamar de discussão, formulação e atuação.
Além disso, há, hoje, uma necessidade na juventude de desconstrução da lógica de desigualdade entre homens e mulheres. Defender que haja o mesmo número de homens e mulheres na direção da Juventude do PT, significa investir nas mulheres como sujeitos políticos e fortalecê-las para ocupar esses espaços.
Sabemos que o debate da paridade de gênero, em geral, mobiliza, polemiza, justamente porque é a única proposta que mexe com as relações de poder estabelecidas dentro do Coletivo Nacional da Juventude do PT e quebra com a “naturalidade” de como é tratada a presença desigual de homens e mulheres nas direções “a partir dos seus próprios méritos”. Por compreender que o processo de superação da desigualdade não é natural, entendemos que uma forma concreta de viabilizar maior presença das mulheres em cargos de direção é através do cumprimento da paridade na delegação para o seu Congresso Nacional e na direção da Juventude do PT.
Ana Cristina Naveira é Secretária Municipal da Juventude do PT de São Leopoldo (RS) e Juliana Terribili é membro do Coletivo Estadual da Juventude do PT/SP