Os venezuelanos foram às urnas para renovar a Assembléia Nacional. Oposição anunciou boicote, alegando supostas irregularidades, mas só 10% dos candidatos retiraram seus nomes. Observadores viram pleito normal. Os partidos pró-Chavez obtiveram ampla vitória. Abstenção ficou em 75%.
Marco Weissheimer – Carta Maior – 04/12/2005
As forças políticas que apóiam o presidente Hugo Chávez obtiveram uma ampla vitória nas eleições legislativas que ocorreram neste domingo (4) na Venezuela. Marcada pelo boicote dos principais partidos de oposição, a eleição registrou um elevado índice de abstenção. Segundo as últimas apurações oficiais esse índice ficou na casa dos 75%. O voto na Venezuela não é obrigatório.
Chávez disse que os partidos que decidiram não participar das eleições estão “acelerando sua morte”. Segundo Chávez, houve algumas tentativas de sabotar as eleições. “A primeira tentativa foi desses partidos velhos. Assim acontece com os partidos que estão velhos e que resistem a morrer”, assinalou. Para o presidente venezuelano, esses partidos deveriam ser ilegalizados devido ao boicote. “Acho que já chegou a hora da morte e quem sabe eles mesmos aceitam e aceleram sua morte com o que fizeram”, acrescentou.
Os observadores internacionais que acompanharam o processo eleitoral afirmaram, no final da tarde de domingo, que tudo estava transcorrendo em um clima de normalidade. As eleições foram acompanhadas por 150 observadores da União Européia, 100 da OEA e por um grupo de 180 personalidades, entre as quais os presidentes dos organismos eleitorais do continente. O chefe da missão de observadores da Organização dos Estados Americanos (OEA), Rubén Perina, disse que nos lugares que visitou, o processo eleitoral na Venezuela “foi normal e tranqüilo”. A organização venezuelana Ojo Electoral, a mais credenciada entre as nacionais dedicadas à observação, confirmou a normalidade do pleito em seu primeiro boletim do dia.
Com 79,1% dos votos apurados, a abstenção era de 75%, segundo o primeiro boletim do Conselho Nacional Eleitoral. Segundo uma avaliação preliminar do secretário de organização do Movimento Quinta República (MVR), que agrupa forças políticas apoiadoras de Chávez, Willian Lara, a contagem de votos prevê a eleição de 115 integrantes do partido governamental. O novo parlamento, que será instalado no dia 5 de janeiro de 2006, deverá ter uma ampla maioria de partidos pró-Chávez, reunindo deputados do MVR, Podemos, Pátria para Todos, Partido Comunista e União Popular.
O ministro de Educação e Esportes, Aristóbulo Istúriz, defendeu a legitimidade da nova Assembléia Nacional com 25% de participação popular. Segundo ele, na Venezuela há uma tendência histórica de altas abstenções em eleições legislativas. Lembrou que nas eleições legislativas de 2000, houve uma participação de 27% do eleitorado, em um ano em que também foram realizadas eleições presidenciais.
O boicote da oposição
Somente 10,08% dos mais de cinco mil candidatos inscritos renunciaram a participar das eleições legislativas, segundo informações do Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Partidos de oposição ao governo Chávez anunciaram a intenção de boicotar o processo eleitoral. No entanto, a maioria dos candidatos desses partidos não oficializou a retirada de suas candidaturas como estabelece a lei. A Ação Democrática (AD) e o partido social-cristão COPEI lideraram o anúncio do boicote. Desde 1998, os dois partidos já sofreram nove derrotas eleitorais consecutivas para Chávez.
Segundo o CNE, 5.516 candidatos inscreveram-se para disputar uma vaga na Assembléia Nacional e nos parlamentos Andino e Latino-americano. Destes, apenas 556 retiraram seus nomes.
Observadores latino-americanos rechaçaram as acusações da oposição de que a legitimidade e a transparência da eleição estariam ameaçadas. O uruguaio Wilfredo Penco indicou que, segundo o acompanhamento dos observadores internacionais, existem todas as condições necessárias para um processo eleitoral limpo. Antes do anúncio de retirada de candidaturas, feito por cinco partidos de oposição, as pesquisas indicavam que o Bloco da Mudança, que reúne os partidos aliados de Chávez e é liderado pelo Movimento Quinta República, devem ganhar dois terços das 167 cadeiras da Assembléia Nacional. As autoridades eleitorais venezuelanas estimavam uma participação de 61% dos eleitores, em um universo superior a 14 milhões de venezuelanos aptos a votat.
Denúncia de golpe
Nos dias anteriores ao pleito, autoridades venezuelanas advertiram que um novo golpe de Estado ameaça o país. Em um documento divulgado em Buenos Aires e em outras capitais do continente, o embaixador da Venezuela na Argentina, Roger Capella Mateo, denunciou que “um novo golpe contra a democracia venezuelana está sendo gestado nas eleições de 4 de dezembro”, apontando como indício desse movimento o anúncio de abstenção por parte da oposição com o objetivo de deslegitimar o iminente triunfo eleitoral de Chávez. Mateo responsabilizou diretamente o governo dos Estados Unidos pela nova tentativa de golpe. Ainda segundo o diplomata, a primeira fase do plano de desestabilização foi justamente o anúncio da retirada dos principais partidos da oposição da disputa, alegando desconfiança na lisura do pleito.
No sábado, o presidente Hugo Chávez convocou a população a votar maciçamente nas eleições legislativas e garantiu a segurança para todos os eleitores, em mensagem veiculada em cadeia nacional de rádio e televisão.
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