Paulo Teixeira foi líder do PT na Câmara, mesmo sem integrar a corrente que, tradicionalmente domina a máquina partidária. Agora, ele concorre à presidência do PT, representando a “Mensagem ao Partido” – da qual faz parte também o governador Tarso Genro (RS).
Na última eleição interna, em 2009, a Mensagem teve pouco mais de 15% dos votos. Nos bastidores do PT, estima-se que Paulo Teixeira (deputado federal – SP) possa conquistar um percentual um pouco acima disso. O grande desafio dele, e dos outros candidatos que enfrentam o favorito Rui Falcão, é levar a eleição para o segundo turno.
Mais de 800 mil petistas estão aptos a votar no pleito, que ocorre no próximo domingo. Nessa entrevista exclusiva ao Escrevinhador, Paulo Teixeira afirma: “Perder vitalidade política e tornar-se um partido eleitoral é um risco para o PT neste momento da sua história, fato que pode ser evitado se crescer um movimento interno de mudança e dar outro rumo ao partido.”
1) Depois das manifestações de junho, Lula chegou a afirmar que – pela primeira vez desde a redemocratização -o povo tinha saído às ruas sem que o PT restivesse à frente. Como se explica isso? O PT perdeu vitalidade? Tornou-se refém do jogo institucional, perdendo a capacidade de mobilização?
(Paulo Teixeira) Em seus trinta e três anos de vida, o PT teve uma trajetória de grandes vitórias que mudaram profundamente a sociedade brasileira. Essas vitórias foram fruto das lutas sociais, que o PT fez parte e ds governos Lula e Dilma, que mudaram o Brasil, com inclusão social, criação de empregos formais, direitos sociais e liderança internacional.
O PT priorizou a tarefa de governar o Brasil, fato que absorveu os principais dirigentes partidários e consumiu o tempo da nossa direção partidária. A agenda eleitoral falou mais alto que a agenda social.
Por essas razões o PT se afastou dos movimentos sociais e das suas lutas, distanciando-se dos movimentos tradicionais da velha sociedade industrial e ainda mais dos novos movimentos que surgiram da sociedade pós industrial no Brasil. Como disse a Marilena Chauí, o PT acabou virando uma gigante máquina eleitoral. Precisamos retomar o caráter formador, militante e democrático do nosso partido.
2) Há quem veja muitas semelhanças entre a trajetória do PT e a de partidos como o PSOE espanhol e o SPD alemão. Eram legendas com forte inserção popular, base sindical, mas se transformaram em “máquinas eleitorais”. Esse é o caminho do PT?
(Paulo Teixeira) Há uma perda de vitalidade no PT em razão da sua crescente burocratização. Perder vitalidade política e tornar-se um partido eleitoral é um risco para o PT neste momento da sua história, fato que pode ser evitado se crescer um movimento interno de mudança e dar outro rumo ao partido. A liderança maior do PT é o ex-presidente Lula que tem criticado repetidamente os rumos que o PT tomou. Lula pode contribuir decisivamente para uma agenda de mudanças dentro do PT. Os milhares de jovens que foram as ruas em junho, impulsionaram uma nova agenda de transformações, por mais avanços, por isso digo que precisamos mudar o PT, para continuar mudando o Brasil.
3) Por que imagina que sua candidatura seja o caminho para reverter esse quadro no PT?
(Paulo Teixeira) Eu represento a corrente Mensagem ao Partido, que se constituiu depois da crise de 2005 e que tem uma agenda de mudança do partido, tanto do ponto de vista programático, como do ponto de vista da sua vida interna.
Propomos a mobilização partidária para a realização da Revolução Democrática no Brasil, um ciclo de ampliação de direitos e de aprofundamento da democracia, que requer um partido muito mais vinculado aos movimentos sociais, a qualificação da política de alianças, a nitidez de posições sobre os temas brasileiros, capacidade de elaboração, valorização da militância e a ampliação do trabalho de formação política.
Conseguimos nesses anos aglutinar os intelectuais, sindicalistas, militantes de movimentos sociais, governadores, prefeitos, deputados federais, estaduais, vereadores e a mais expressiva representação da juventude no PT. Nossa candidatura propõe um PT mais ousado, que volte a dialogar com os movimentos sociais e que seja capaz de formar uma nova geração de dirigentes jovens, mulheres, negros e índios.
Nossa atuação por uma agenda de mudanças no PT não se resume ao nosso campo. Conseguimos alianças com uma parte da CNB, do Movimento PT, da AE, da Militância Socialista e outros campos dentro do PT. Por essa razão que o 4° congresso do PT aprovou uma agenda de mudanças para o partido.
4) Setores do partido reclamam de filiações em massa que teriam ocorrido nos últimos meses? isso pode viciar o resultado do PED? De quem partiram essas iniciativas? Como avalia o papel do setores majoritários do PT?
(Paulo Teixeira) O PED, como está organizado, teve inúmeras virtudes, mas para mim há um esgotamento, e portanto,tem que ser revisto. Há sintomas de inchaço na maquina partidária e relações com a militância que não correspondem aos propósitos de um partido de esquerda como a história do PT tão bem registrou. Precisamos rever a forma de organização interna, retomar a intensidade dos debates e ter uma relação mais qualificada com os filiados. O setor majoritário do PT vem comprometendo a democracia interna ao se impor ao partido sem consultar os outros campos políticos. Precisamos retomar o equilíbrio interno na relação das forças dentro do PT.
5) O senhor foi líder do PT na Câmara durante o governo Dilma. Conhece de perto o jogo de alianças com legendas conservadoras pra garantir maiorias eventuais. O PT deve rever sua politica de alianças? Deve romper com o PMDB?
Fui líder do PT em 2011 e pudemos fazer uma relação dentro da base de governo em que o PT tinha mais hegemonia sobre a base. Partimos de uma relação privilegiada com o PCdoB, PSB e PDT, e com os demais partidos tínhamos relações de proximidade que equilibraram a relação com o PMDB. Não sou favorável a romper a aliança com o PMDB. Sou favorável a equilibrar a relação com eles para dirigir um processo de mudanças.
6) Quem é o inimigo principal em 2014: PSDB ou PSB? Como lidar com Eduardo e Marina? Parece que a comparação com os anos FHC não será mais suficiente para garantir vitória petistas. Qual deve ser o discurso central de Dilma?
Nossa tática eleitoral de 2014 deve ser a de mostrar os avanços conquistados nos 11 anos de governos Lula e Dilma e enfrentar a agenda de mudanças que os jovens que foram as ruas requerem. Precisamos enfrentar a Reforma Política, a Reforma Tributária, a Democratização da Mídia, a Reforma Agrária e a Reforma Urbana. O PT tem que colocar como ponto alto da sua agenda o combate à corrupção. Nossos adversários estão no campo do neoliberalismo, especialmente, mas não só, o PSDB. A recente aliança Marina-Eduardo Campos ainda deve esclarecer com qual campo se identifica. Recentemente reforçou a ideologia liberal.Realizaremos o debate com o povo brasileiro, especialmente sobre o aprofundamento da democracia, do desenvolvimento com sustentabilidade e sobre um novo mundo possível, sem guerras e sem imperialismo.