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Pranto por Sérgio Mamberti | Pedro Tierra

“Mas há os que lutam  por toda a vida. 
Esses são  imprescindíveis.” 
(Brecht) 

E o que pode dizer o poeta 

– para quem não há transcendência –  

diante do teu corpo a caminho das cinzas 

e de teu espírito de luta venerado 

por amigos, filhos, amores, todos 

varados pela dor de tua perda?

Se não pode o poeta lhe oferecer estrelas, 

passagem, páscoa, retribuições, 

alguma dimensão ou conforto celestiais, 

uma paz que você mal conheceu aqui 

– no tempo sombrio que te coube viver – 

dividido entre uma e outra batalha 

como voz de quem ocupa o palco 

                                            e se sabe voz de sonhos gerais, 

de gerações de lutadores, 

grave, terna, a repartir inquietações e utopias?

Sob o azul impiedoso dos cerrados

ergo a mão esquerda para colher 

a multiplicação do sol que explode 

nos ipês deste setembro, 

pleno de presságios, 

para lançar alguma luz 

sobre teu rosto serenado 

e resgatar do silêncio  

a voz raptada por serafins para nos dar alento  

quando regressarmos depois de amanhã

ao combate das ruas, 

nutridos por tua memória

duas ou três sementes de esperança 

cultivadas no peito, 

regadas com as lágrimas escassas 

nesse tempo de dores extensas.

Ocupados em reinventar 

a primavera pública que se anuncia…

Brasília, 15 de setembro de 2021
  • Pedro Tierra é poeta, ex-presidente da Fundação Perseu Abramo
  • Foto: www.pt.org.br/divulgação

      

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