O prefeito de Bogotá teve o mandato cassado e perdeu os direitos políticos por 15 anos. Gustavo Petro foi afastado pelo Procurador-geral da República, acusado de cometer irregularidades na implementação de um novo sistema de coleta de lixo na capital colombiana.
Ex-guerrilheiro do extinto movimento M-19, Petro é considerado na Colômbia um modelo de reintegração política. A decisão do procurador-geral Alejandro Ordoñez foi considerada desproporcional em setores da sociedade colombiana.
A cassação ganha maior significado político no momento em que o país negocia um tratado de paz com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e discute a integração política de guerrilheiros desmobilizados.
A Procuradoria acusa Petro, um líder da esquerda colombiana, de fracassar na implementação de um “desnecessário” novo sistema de coleta de lixo, argumentando que a execução se deu “fora da lei” e de “maneira improvisada”.
Ordoñez, conhecido por suas posições conservadoras, convocou uma coletiva de imprensa e disse que o agora ex-prefeito “sabia que suas decisões eram irregulares”.
Petro disse que se estava “diante de um golpe de Estado sobre o governo progressista da cidade de Bogotá”. Uma multidão se aglomerou em frente à prefeitura, na praça Bolívar.
O cargo de prefeito de Bogotá é o segundo mais influente do país, perdendo apenas para o presidente.
O lixo da discórdia
Segundo o correspondente em Bogotá da BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC, Arthuro Wallace, os problemas de Petro começaram quando ele resolveu retornar ao setor público a coleta de lixo da capital colombiana, que estava nas mãos da iniciativa privada.
“A transição foi no mínimo atrapalhada, fazendo com que durante vários dias o lixo se acumulasse nas ruas”.
“Para os críticos do prefeito, foi um exemplo mais de seu arrogância e improvisação, que seria característica de sua gestão à frente da cidade de quase oito milhões de habitantes”.
“Para seus simpatizantes, a cassação é resultado de uma sabotagem que evidencia a articulação de grupos ameaçados pela agenda reformista do ex-guerrilheiro”.
Após investigar o escândalo, a Procuradoria Geral da República concluiu que Petro cometeu várias faltas graves. Entre as acusações, está o uso temporário de caminhões para recolher o lixo, o que segundo o procurador viola “as disposições constitucionais e legais referentes à proteção do meio-ambiente”.
O escritório do presidente Juan Manuel Santos soltou nota dizendo que “respeita a decisão”, “assim como os recursos que venha apresentar” o agora ex-prefeito.
Disputa política
Petro é o segundo prefeito de Bogotá a ser cassado pela Procuradoria Geral da República em dois anos. O anterior, Samuel Moreno, perdeu o cargo mas não os direitos políticos.
A decisão mais dura em relação a Petro fez com que muitos vissem mais motivações políticas do que disciplinares por parte do procurador Ordóñez.
“As razões para destituir Petro são políticas. Ordóñez esta tirando do jogo seus possíveis concorrentes para as eleições de 2018”, opinou a colunista da revista Semana, María Jimena Duzán.
Outros veem na decisão uma mensagem às Farc e ao processo de paz, sobre as dificuldades que esperam qualquer ex-guerrilheiro ou político da esquerda que queira exercer um cargo na Colômbia.