Vice-líder do PT e reeleito deputado federal pela Bahia com maior número de votos na bancada, o deputado Walter Pinheiro defendeu nesta terça-feira uma sintonia fina no relacionamento entre Executivo e Congresso no segundo mandato do presidente Lula, e a discussão de uma nova agenda de prioridades para os próximos quatro anos. Segundo o deputado, a governalibilidade será maior com mais diálogo entre o Planalto, deputados, senadores e municípios. Pinheiro avaliou ainda que o segundo turno das eleições deu a vitória à uma parcela da sociedade que percebeu a necessidade da continuidade e de melhorias em um projeto “que tem um tempo muito curto”.
Segundo turno
O resultado do segundo turno das eleições nos devolveu a expectativa de votos que tínhamos no primeiro turno, o que revela que, no primeiro turno, a população estava de certa forma impactada pela quantidade de campanha negativa feita contra a gente. A população se retraiu e a votação ficou abaixo, inclusive, do que a própria mídia havia divulgado.
É certo que ao longo desse período convivemos com o erro de alguns companheiros e com ação política com um grau de equívoco. Acho que esses aspectos alimentaram a mídia, que se aproveitou desse pouco combustível e tentou contaminar a todos, puxando para um debate ético completamente atravessado, sem fazer contextualização, sem olhar a história, sem fazer diferenciações, porque o verdadeiro objeto dessa generalização era o ataque ao PT. Foi uma ação dos setores mais conservadores da sociedade.
Reeleição
A reeleição ocorreu porque a sociedade brasileira fez outra leitura e preferiu não embarcar em uma canoa furada, em uma campanha adversária insidiosa. A sociedade tem uma capacidade muito grande de enxergar os pontos positivos do governo e de perceber a necessidade da continuidade e de melhorias em um projeto que tem um tempo muito curto.
Partido
Podemos aprender com essa lição e extrair do resultado das urnas a avaliação de que acabou a centralização de foco em um único bloco ou em uma única visão. As eleições de Eduardo Campos (para o governo de Pernambuco), Ana Júlia (Pará), o crescimento em Minas mostraram que há diluição da estrutura de poder e que o presidente continua mantendo a autoridade para montar sua equipe e ampliar horizontes. Há dentro do PT uma diversidade política de correntes e pensamentos que precisam ser mais ouvidas, e com as quais é necessário que a Presidência mantenha mais diálogo.
Segundo mandato
É importante constituir uma base de sustentação que não seja centrada em apenas uma sigla e atuar numa discussão mais centrada no terreno programático e político do que em fatias, como foi feito em 2003. A proposta do partido foi bem absorvida pela sociedade. O presidente deve ter a capacidade de conversar com todos esses setores sem ficar refém, mas com cumplicidade de gestão.
Executivo e Congresso
Em relação ao Congresso o melhor que se tem a fazer é reavaliar as bases atuais de relacionamento para uma ação de respeito, na qual, com uma boa interação, o Congresso possa construir medidas. Câmara e Senado não podem ser um apêndice do Executivo, mas também não pode haver chantagem. Essa é uma questão prioritária
Por exemplo, mais do uma limpeza de pauta de plenário é necessário chamar os partidos para uma conversa. É fundamental também que seja aprofundada a experiência com a Secretaria de Relações Institucionais. O ministro deve aprofundar essa relação com o Congresso, ouvindo, dialogando.
Governabilidade
O fato de termos observado crescimento do PT nos governos estaduais pode facilitar o diálogo de grandes temas sociais ou de questões importantes como a questão tributária. Sobre esse tema, São Paulo deve perceber que que a força do resto do Brasil não é para colocar o estado contra a parede. São Paulo sabe que o Brasil espera mais dele do que um simples enfrentamento com o governo.
Prioridades
A prioridade agora é uma nova agenda geral. Não dá para pegar pautas que ficaram para trás – umas envelheceram, outras estão sob outras necessidades. As necessidades políticas e estrutuais se apresentam de outra maneira. Uma agenda de prioridades tem de passar por amplo debate. Na economia, por exemplo, não podemos ser levianos e não devemos tratar a economia com um objeto de fulano, se é era de beltrano ou sicrano.O momento é de discutir com todos, em debate, qual o pilar econômico em questão – se superávits primários, investimento ou outros. Espero que seja era do povo brasileiro.
Fonte: Agência Informes