O senso comum do brasileiro sobre a política diz, entre outras coisas, que são sempre os mesmos políticos que se candidatam e que ficam no poder sem fazer nada. Esta impressão que a maioria das pessoas tem é similar aquela do “político é tudo igual” ou que “os partidos são todos iguais”. Todas elas merecem ser relativizadas, problematizadas, desconstruídas.
O tema “mesmos políticos de sempre” poderia ser desmentido pelos números. A taxa de renovação da Câmara dos Deputados é alta, acima dos 40%. Segundo o Departamento Intersindical de Assessoramento Parlamentar (DIAP), 43,7% dos deputados federais foram eleitos em 2010 para o primeiro mandato. Foram 224 novos deputados eleitos. Nas eleições passadas, o quadro se repete: em 1990 foram 63% de novos parlamentares; em 1994, caiu para 55%; em 1998, mais uma queda, para 41,9%, índice similar ao pleito de 2002, quando 41,3% dos deputados eram marinheiros de primeira viagem. Em 2006 o numero cresce para 48,7%.
Ao invés de focar no plano federal, podemos passar para a dinâmica municipal, na qual serão travadas as disputas eleitorais em 07 de outubro de 2012. Um caso chama atenção em especial, o da cidade de São Paulo.
Segundo o movimento Nossa São Paulo, em 2004 a renovação da Câmara de Vereadores atingiu um nível muito similar ao nacional, com 25 novos vereadores em um total de 55 parlamentares, ou seja, 45% da Câmara. Porém, em 2008 o número despencou para apenas 16 novos vereadores, 29% do total. Ou seja, o eleitor paulistano tem confirmado nas urnas a manutenção da maioria dos políticos.
A renovação sem dúvida pode ser um aspecto importante a ser considerado pelo eleitor, mas isolada de um projeto e propostas novas esta renovação acaba alimentando a lógica do mais do mesmo. Ao analisar os “novos” políticos é fácil perceber que a grande maioria provém de famílias tradicionais, consolidadas há anos em um país que por séculos foi dominado por oligarquias. ACM Neto, Renan Filho, Roseane Sarney e por aí vai a lista.
A renovação que interessa é aquela construída com um novo jeito de fazer política, conectado com as novas formas de pensar e fazer ações coletivas. São candidaturas que mesclam a “radicalidade”, com coerência, sinceridade e ética pública. Partem de um projeto coletivo, com programa e propostas concretas para a cidade, sustentadas na defesa do bem comum e da justiça social.
A política precisa encantar as pessoas para ser efetiva, isto é, precisa convencer e mobilizar a cidadania em favor das mudanças que melhorem a sociedade, que transformem o mundo em um lugar mais justo, solidário, igualitário. As pessoas precisam se reconhecer nos políticos, nos partidos, nos governos.
Nos últimos 10 anos, milhões de jovens ingressaram no mundo da internet, entrando em contato com novas possibilidades; horizontes antes inacessíveis agora estão mais próximos de serem alcançados. A ampliação do acesso a Universidade Pública e o PROUNI constituíram uma geração com maior reconhecimento familiar e social.
É preciso que a política represente estas transformações. É fundamental que este novo universo de pessoas com informações, conhecimentos, culturas, esperanças, projetos que antes não eram viáveis estejam identificadas com os parlamentares e com os programas dos partidos.
Obviamente que os partidos atuais e os políticos que exercem os mandatos podem se conectar com esta juventude cheia de planos e sonhos. Mas isto não basta! É urgente que esta juventude também conquiste os espaços de poder, do mesmo modo que conquistou novos direitos, novas demandas, um novo Brasil.
Uma nova geração de cidadãs e cidadãos precisam estar representados nos parlamentos e no executivo. Pessoas que estão em movimento, se organizando em rede, na internet, nos movimentos culturais, esportivos, ecumênicos, mais abertos a enfrentar preconceitos que persistem há séculos no país. A renovação é sim importante nestas eleições municipais. É preciso eleger jovens vereadores e vereadoras, antenados com esta dinâmica social recém inaugurada no Brasil.