Em sua primeira entrevista como presidente estadual do Partido dos Trabalhadores, ao jornalista Wálmaro Paz, o deputado Raul Pont define as metas e objetivos da agremiação no Estado. Isto é, cumprir as decisões tomadas durante o segundo encontro, eleger Dilma Roussef presidente da república e Tarso Genro, governador do Rio Grande do Sul, privilegiando a política local de alianças com o campo democrático popular.
WP – Depois de sua vitória no PED gostaríamos de saber quais são seus projetos para o Partido dos Trabalhadores neste momento político?
Raul Pont – Nossa vitória no PED está ligada ao reconhecimento da estratégia que se estabeleceu aqui, com a Mensagem ao Partido, ter uma candidatura própria de reafirmação do partido. Temos muito presente a prioridade da eleição da ministra Dilma, mas também tínhamos clareza de que a melhor maneira de fazer isto era ter aqui uma candidatura própria e trabalharmos no sentido de unificar o campo democrático popular que é o setor que tem maior capacidade aqui de garantir uma boa campanha. Inclusive uma vitória. Isto foi provado no 2º encontro. Além do nome do Tarso, no encontro a disputa se transformou num consenso, porque os outros pré-candidatos retiraram as candidaturas e o Tarso saiu muito consolidado. Isso se expressa também nas pesquisas eleitorais em que ele tem aparecido muito bem cotado e praticamente o favorito. O nosso objetivo era sair do encontro com o partido unificado em torno de uma estratégia que é formar um bloco com o PDT, o PSB, o PCdoB. A partir daí a gente tem uma força sólida capaz de preparar e enfrentar o primeiro turno.
WP – Então esta seria a política de alianças?
Raul Pont – Achamos que o leque de alianças pode ser ampliado com partidos que estão no governo Lula, como o PRB, mas que aqui são partidos menores. Já o dialogo com outras forças políticas aqui do estado que também estão no governo do Lula tem problemas de estarem sustentando o projeto neoliberal da Yeda e isto cria constrangimentos. Estes partidos parcialmente estão no governo federal apoiando o, Lula majoritariamente, mas tem exceções em sessões regionais, como é o caso do Rio Grande do Sul. Aqui estes partidos estão em total dissintonia conosco. Estão sustentando o governo da Yeda. Portanto, sem que exista um posicionamento sobre isto é difícil a gente estabelecer um diálogo. Mesmo a aliança prometida ou protocolada com o Temer em nome do PMDB, de apoiarem Dilma com uma vice, não alterou os compromissos do PMDB com o governo regional. Como somos partidários de que o processo eleitoral deva ter um papel educativo, entendo que não podemos. Seria quase uma agressão às bases ir buscar alianças com aqueles partidos que estão no governo. Se mudar o quadro no início do ano que vem, podemos até avaliar outra situação. Por enquanto, o nosso compromisso e a nossa prioridade é cumprir o que aprovamos no nosso encontro que é de trabalhar com muito afinco para ter uma unidade PT, PDT, PCdoB, PSB. Também não descartamos ir buscar também o voto, o apoio, a coligação, um programa comum, com partidos como o PSOL e o PSTU. Entendo que estão no campo da esquerda e, no mínimo, temos o dever e a obrigação de procurá-los para ver da possibilidade de um trabalho comum, um trabalho eleitoral, um projeto que unifique este conjunto de partidos. Mas a prioridade neste momento é este bloco aprovado pelo encontro estadual.
WP – Tirando a parte eleitoral, qual é sua proposta de condução do partido?
Raul Pont – Na disputa do PED para mim o mais importante era a gente discutir com a base partidária qual era a nossa tarefa além da coligação, além de disputar uma eleição visando voltar ao governo do Estado. A tarefa principal do partido é, neste momento, garantir uma unidade programática que nos permita diálogo, sintonia relações profundas, com movimentos sociais que estão hoje em reivindicação e que são classes sociais que temos a pretensão de representar. Ou seja, eu quero dizer temos que ter uma política que sintonize com os servidores públicos que reivindicam reajuste e não tem os seus pleitos atendidos há três anos, principalmente o magistério, a Brigada. Precisamos ter um dialogo com os estudantes e as pessoas que querem universidade pública e gratuita, necessitamos, portanto reconstruir e fortalecer a UERGS, como um projeto importante que hoje está abandonado. Queremos ter um dialogo com aqueles que querem ter uma democratização dos meios de comunicação. Portanto teremos que operar a TVE e a Rádio Cultura na forma de instituições de caráter público.
Entendo que há uma evidência muito forte do peso da agricultura familiar. Da sua produtividade, da produção de renda, da geração de emprego e que não tem recebido deste governo no estado nenhum apoio. Tem tido por parte do governo federal uma política de apoio, de preços míninos como incentivo para que as pessoas permaneçam no campo produzindo. Ela tem se revelado superior ao agronegócio em todos os indicadores. Esta é uma sintonia que temos que ter com um milhão de famílias que vivem nas cooperativas. Enfim nesta direção temos que conduzir o partido no Estado: com muita ética na política, com muito cuidado para criar antídotos aos processos de corrupção que são permanentes e tentadores num sistema eleitoral como nós temos. O partido e os nossos governos tem que estar blindados e preparados por mecanismos objetivos de controle publico. Por compromissos partidários e eleitorais no sentido de não permitir qualquer desvio moral na administração pública. Estes elementos vão nortear o nosso trabalho. Outras questões são mais internas do partido.