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Reaja à violência racial | Ryan Rosa e Lucas Nascimento

No ano de 2021 completamos 50 anos de celebração da data histórica, do dia Nacional da Consciência Negra, que faz parte da agenda política idealizada pelo movimento social negro durante o mês de Novembro. Essa data teve sua origem através do Grupo Palmares em Porto Alegre no Rio Grande do Sul, que em 1971 organizou um ato no Clube Social Negro “Marcílio Dias”, que contestava o 13 de maio de 1888, dia que ficou conhecido como “abolição da escravatura”, mas que não garantiu nenhum direito para a população negra no Brasil. O 20 de Novembro também foi confirmado na assembleia de fundação do Movimento Negro Unificado, em São Paulo.

O  grupo Palmares e o Movimento Negro Unificado estavam bravamente na luta contra a ditadura militar, na defesa da população negra que era a mais afetada naquele período trágico da história brasileira, e na denúncia da falsa democracia racial. Essa data foi escolhida em alusão a morte de Zumbi dos Palmares e resgata a história, cultura e identidade da população negra brasileira.

A conjuntura neste momento para população negra não é nada favorável. De acordo com dados alarmantes do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, negros tem 2,6 mais riscos de serem assassinados em nosso país, 77% das vítimas dos homicídios, em contrapartida, os índices da   população branca eram 56,8% em 2019, ano de referência do estudo. Mais do que nunca é perigoso ser negro no Brasil, estamos fugindo cotidianamente da fome, do COVID e, há mais de 500 anos, da bala. Precisamos reafirmar que não são apenas números, são sonhos ceifados, famílias destruídas e um futuro que não chega.

No ano de 2022 completará dez anos da grande vitória da articulação do movimento  negro e estudantil brasileiro. A lei nº 12.711, mais conhecida como “Lei de cotas”, criada nos governos democráticos e populares em 2012, através da sanção da Presidenta Dilma Rousseff. As Ações Afimativas por meio da modalidade de cotas raciais, atuam de forma crucial e estratégica para o desenvolvimento do processo de reparação histórica, social e econômica pelo processo advindo da escravidão vivida pelos negros/as no Brasil. Antes desta lei, o país presenciava uma enorme desigualdade racial no ensino superior, em 1991 negros e negras eram respectivamente apenas 1% e 1,5% nas universidades e  passaram para 50,3% em 2019 (IBGE).

O ano de 2012 passou a ser um marco para nossa luta, com muita mobilização social e institucional, onde acumulamos muitas vitórias. Mas antes, no início dos anos 2000, tivemos a primeira IES a adotar as ações afirmativas pela modalidade de cotas raciais nos processos seletivos para o ingresso em seus cursos, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), essa aprovação inicia o  processo histórico de adoção das Políticas Educacionais Afirmativas no ensino superior brasileiro, sendo  implementadas posteriormente  em grandes universidades, como a UnB, UEMS e a UNEB.

É nítido que as ações afirmativas pintaram as nossas universidades com a cara do povo brasileiro, mas o abismo social e racial no país entre negros e brancos são de números astronômicos na área educacional. A população negra  faz parte dos 80% dos analfabetos do nosso país e dos  64%  que não completaram a educação básica. Com a pandemia os números das desigualdades educacionais só aumentam com a evasão universitária, 21% dos estudantes que trancaram ou cancelaram sua matrícula em 2020 foi por necessidade de ganhar dinheiro (UNESCO E CONJUVE).

A geração de cotistas que ingressaram nestes últimos dez anos, foram os primeiros a ter diploma universitário na sua família, algo que a geração anterior apenas sonhava, vê se tornar realidade, assim como lutamos para sua criação estaremos nas lutas e nas ruas pela sua permanência, somos os primeiros mas não seremos os últimos. Os espaços acadêmicos em um passado recente eram protagonizados por uma elite branca que não condizia com o Brasil de verdade, entramos não só para contar a história que a história não conta, mas também para construir uma nova trajetória inspirada na luta histórica de  Zumbi, de Dandara, de Luiza Bairros, de Oliveira Silveira, de Marielle Franco e de tantos outros heróis e heroínas nacionais da população negra.

Estamos em uma luta cotidiana de sobrevivência da população negra, e contra toda agenda genocida, racista e neoliberal que sempre esteve colocada para o povo preto, em especial para juventude negra, nos exterminando das mais variadas formas, seja pela precarização das escolas, universidades e das políticas de Assistência Estudantil, ou pela presença de um modelo de segurança pública que nos enxerga como alvos. Não aceitaremos mais ter como opção o camburão ou a prisão. O nosso lugar é nas salas de aulas e no parlamento, produzindo o  futuro e transformando a educação.

Ryan Rosa é diretor de Combate ao Racismo da UNE e Lucas Nascimento é militante do Coletivo Nacional de Juventude Negra (ENEGRECER) e do Movimento Negro Unificado (MNU)

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