Semana turbulenta no Reino Unido conforme se aproxima a data final para o país chegar a um acordo sobre sua saída da União Europeia, aprovado em um referendo em 2016 por uma pequena margem. Na última terça-feira (15) a proposta apresentada pelo governo da primeira-ministra Theresa May (Partido Conservador) foi rejeitada de forma contundente por 432 votos contrários e apenas 202 à favor, a maior derrota já sofrida por um governo na história da Grã-Bretanha. Já na mesma noite, o Partido Trabalhista liderado por Jeremy Corbyn apresentou uma moção de desconfiança, o que na prática significa deliberar se o atual governo se mantém no poder ou se serão convocadas eleições antecipadas. A moção foi votada na quarta-feira (16), com vitória da primeira-ministra por 325 à 306. Uma maioria apertada, que lhe dá condições de permanecer no cargo, mas poucas perspectivas de conseguir alcançar uma resolução para o imbróglio chamado Brexit.
Esses resultados discrepantes mostram como a coligação de Conservadores e Unionista (partido regional da Irlanda do Norte) tem consenso sobre a importância de se manterem no governo, mas não o que fazer com ele. Porém, entre os Trabalhistas e demais partidos de esquerda (que no geral, se opuseram ao Brexit na época do referendo) também existem muitas divergências sobre como prosseguir. Cresce na sociedade britânica a campanha para que um novo plebiscito seja convocado para a população deliberar novamente sobre a permanência ou saída da União Europeia e, dessa forma, cancelar o Brexit. Na quarta-feira, mais de 70 deputados trabalhistas anunciaram seu apoio a convocação de um novo referendo, enquanto o líder trabalhista Jeremy Corbyn resiste em defender essa ideia, focado em pressionar para que o atual governo reconheça sua incapacidade em chegar a algum acordo e convoque novas eleições.
Ao contrário da maioria do seu partido (defensor da permanência na UE), Corbyn sempre foi tido como um opositor relutante ao Brexit, o que gerou desconfianças se na verdade ele seria a favor da saída da União Europeia. Ainda que pelas suas declarações seja difícil afirmar, com certeza, se sua opinião é essa e quais os seus motivos, entre a esquerda daquele continente é comum as críticas e até descrença em relação ao modelo de integração regional implementado pela UE, cuja arquitetura econômica-financeira foi construída sobre parâmetros neoliberais, o que limita a capacidade dos países-membros de promover o desenvolvimento econômico com ampliação dos direitos sociais.
De qualquer forma, as últimas declarações de Corbyn após as votações de terça e quarta enfatizam que o “Não-Acordo” deveria estar fora do horizonte do atual governo nas negociações com os demais partidos. O “Não-Acordo” significa que o Reino Unido deixaria a União Europeia no dia 29 de março imediatamente sem nenhum novo arranjo substituindo o atual. As previsões para esse cenário são catastróficas, com a possibilidade do PIB do país cair em 8% esse ano, de acordo com o Banco Central da Inglaterra. Ainda que ninguém no Parlamento defenda essa hipótese, Theresa May já afirmou que “nenhum acordo é melhor que um mau acordo”.