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Renovar a ação: Sobre o 1º de maio e perspectivas

Após cada grande evento político, seja uma manifestação, um ato de mobilização, uma plenária ou qualquer evento que gere expectativas, é comum testemunhar diversas análises por parte de militantes, políticos e dirigentes. Este exercício crítico muitas vezes é bifurcado: enquanto alguns se dedicam a apontar os erros e falhas na organização e direção dos eventos, sem, contudo, oferecer alternativas concretas, outros optam pelo otimismo, destacando os desafios superados e as conquistas, ainda que pequenas.

É inegável que eventos como o 1º de Maio não podem ser construídos de forma distante da realidade da classe trabalhadora, nem adotando receitas ultrapassadas de décadas anteriores. Antes de planejar qualquer manifestação ou ato em nome da nossa classe, é fundamental compreender nossas demandas. Seria o custo dos alimentos? Acesso ao lazer e consumo? Redução das taxas de juros? Revogação da reforma trabalhista e reforma da previdência? Atendimento de qualidade na saúde? Segurança pública? Estar em sintonia com as principais reivindicações do povo trabalhador é uma obrigação.

Também é transparente a manutenção do cenário de polarização política no país. Ignorar esse fato e retomar uma tática de ação política na linha do cada um por si é o caminho mais curto para derrota. A unidade das forças de esquerda (militância, partidos e movimentos) e a liderança popular de Lula foram o alicerce da derrota do governo da extrema-direita no Brasil. Se essa aliança se desorganiza em pautas estritamente setoriais de um lado e “entregas” de governo do outro, a luta política sai de cena e nosso campo se desarticula.  

É essencial ao movimento sindical, usar seu lugar de liderança histórica da classe trabalhadora organizada para fortalecer a unidade, a mobilização e a articulação com os setores progressistas, como os movimentos sociais, os partidos políticos e seus parlamentares baseada numa visão política comum dos desafios e numa plataforma de lutas unitária e permanente.. As redes sociais na comunicação, são hoje arena de organização e mobilização tão importantes quanto as ruas. Produzir e entregar conteúdo de qualidade e usar das ferramentas digitais para fortalecer nossa organização ainda é um desafio dos setores sindicais e populares.

Ainda em relação à capacidade de pensar esses eventos, é essencial evitar que os militantes sejam sacrificados nesse processo. Desburocratizar o acesso, democratizar a construção das pautas, coletivizar as tarefas, acolher sugestões e criar espaços de avaliação são medidas imprescindíveis. Todos aprendemos em nossas organizações que os militantes se formam na construção da luta, na preparação das nossas mobilizações, no convencimento dos companheiros/as, no compartilhamento de tarefas organizativas. O trabalho profissional é essencial, mas ele não pode substituir o trabalho militante pois é este que desperta e conquista corações e mentes.

Por fim, o discurso de Lula reflete uma verdade: há avanços, como o menor índice de desemprego em uma década, aumento da renda e queda da inflação. No entanto, reconhecer esses avanços não significa ignorar as necessidades não atendidas da classe trabalhadora. As concessões feitas pelo governo à direita, aos empresários, ao centrão e aos militares, em prol da governabilidade, tem contribuído para a desmobilização, desânimo e desorganização do campo progressista. A política fiscal de austeridade, com sua meta de déficit zero, que impõe limites ao próprio governo para ampliar os investimentos, precisa ser reavaliada. É evidente que a política econômica tem provocado frustração entre a base que apoiou Lula no processo eleitoral, como é o caso dos servidores federais, que têm demandas significativas relacionadas à carreira, valorização e permanência dos estudantes nas universidades e se veem diante de um governo impedido de atender às demandas das categorias e dos estudantes, de forma efetiva, mas que privilegia o mercado e cede às pressões dos rentistas da Faria Lima. É urgente avançar em um programa mais radical para a retomada dos direitos, da qualidade de vida, de democracia, paz, de lazer, saúde, educação e bem estar.

Para o movimento sindical, no que diz respeito à mobilização, a Marcha da classe trabalhadora, que está agendada para 22 de maio, apresenta  um novo desafio. Não é possível simplesmente persistir nos erros do passado; é essencial avançarmos na construção da unidade. Unir esforços dentro do campo popular requer um comprometimento coletivo significativo, e não podemos subestimar essa tarefa. Se não refletirmos sobre isso de maneira cuidadosa, os resultados provavelmente serão bastante previsíveis. É hora de repensar, reavaliar e agir de forma mais assertiva, reafirmando o compromisso com as demandas concretas da classe trabalhadora e intensificando os esforços e articulação para avanço na proposta de fortalecimento sindical, uma medida urgente e essencial para a continuidade da organização da luta.

CSD (CUT Socialista e Democrática)São Paulo 02 de maio de 2024

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