Democracia Socialista

Resenha: O Formigueiro no cinema | Eliane Silveira

Exibição em Porto Alegre-RS.

                  Foto: Jonas Tiago Silveira

Pisa ligeiro, pisa ligeiro, quem não pode com as mulheres não atiça o formigueiro. Os versos rápidos ditados, cantados ou batucados convidam mulheres e homens para uma jornada de norte a sul do país através das telas de cinema. O documentário Formigueiro pre-estreou no Cinebancários em Porto Alegre, no dia 04 de junho e tem percorrido as salas do circuito alternativo dos cinemas em várias capitais brasileiras. Assim como aquele bom vinho que apreciamos no inverno gaúcho, Formigueiro foi produzido ao longo da 4ª Ação Internacional da Marcha Mundial de Mulheres em 2015 e maturado por sete anos no trabalho incansável das jovens cineastas feministas, Tica Moreno e Bruna Provazi, amparado por um financiamento coletivo que reuniu diversos movimentos e entidades. É um filme tecido de lutas, de resistências, de coragem e de sonhos de diferentes gerações de mulheres, na defesa de seus corpos e territórios.

Ao sentar na poltrona do cinema, você embarca no ônibus com as mulheres da Marcha Mundial e, junto com elas, protesta, canta, chora, ri, se indigna e se fortalece nas trajetórias daquelas que fazem do feminismo a bandeira em defesa da vida, dos direitos, do meio ambiente, da diversidade, da igualdade, da autonomia sobre seus corpos, da moradia, do acesso ao transporte e ao trabalho. Durante uma hora e meia, você vai se orgulhar da coragem das mulheres do Tocantins no enfrentamento ao agronegócio; vai compreender a grandiosidade das mulheres de Minas Gerais que, muito antes dos desastres de Mariana  e Brumadinho, alertaram para o poder de destruição das mineradoras.

Percorrendo os muitos Brasis dentro do Brasil, você vai conhecer a dor e a resiliência das mulheres negras do Rio de Janeiro na resistência aos despejos e à militarização das favelas. E vai sentir o nó na garganta ao ouvir uma mãe gritar que não pariu filho para a polícia matar. Com certeza vai apoiar a luta por justiça ambiental das mulheres do Vale da Ribeira, em São Paulo, e vai se emocionar com a Marcha das Margaridas tomando o Distrito Federal. Prepare-se ainda para se revoltar junto com as mulheres indígenas no Mato Grosso do Sul contra o massacre de seu povo, a violência e o estupro de suas jovens. Você também vai querer se somar ao grito das mulheres gaúchas, uruguaias e argentinas em defesa do aborto legal e seguro. E nesta altura da viagem, você vai sentir no seu coração a dor das mulheres paraibanas no enfrentamento aos feminicídios. Da sua poltrona de cinema, você vai se sentir dentro das passeatas e mobilizações das mulheres do Ceará na luta por equipamentos e delegacias especializadas no combate à violência. Da mesma forma, vai se perceber no meio das mulheres do Rio Grande do Norte, que resistem na defesa dos territórios  como fonte de sustento de vida, através do trabalho das marisqueiras e da agroecologia.

       Diretoras Bruna Provazi e Tica Moreno

Recentemente, Pepe Mujica postou no seu twitter: “Como seria a condição humana se não houvesse militantes? Não porque os militantes sejam perfeitos, porque tenham sempre a razão, porque sejam super-homens e não se equivoquem. Não é isso. É porque os militantes não vem para buscar o seu, vem entregar a alma por um punhado de sonhos”. Depois de assistir Formigueiro, você vai sentir a imperiosa necessidade de reescrever esta frase de Mujica no feminino, porque definitivamente ele fala de mulheres que entregam suas almas pelos nossos mais caros sonhos coletivos.

 

Eliane Silveira – Jornalista – Mtb 7193